Mili da vizinha — ou não vem ao caso
Na primeira vez ele estava caído na grama de casa, perto do pé de amora. Não sabia o que fazer. Na segunda vez estava perto de meu uno mile, fresco ainda.
Fui falar com a vizinhança mas todos jogaram a culpa nos outros vizinhos. Chegaram a culpar um vizinho que mora a 3 quilômetros de casa. Dá pra acreditar? Pensei em chamar a polícia, postar na net, mas melhor não. A gente nunca sabe com quem falamos.
Após pisar DE CHINELO (e pequeno pois eu usava naquele momento o chinelo de minha companheira) numa das merdas de algum cachorro que estava cagando dentro do gramado de minha casa resolvi colocar uma câmera escondida e flagrar o cão no crime.
Antigamente era só ficar olhando fixamente pro cão cagão e fazer figa que ele parava de cagar na hora, sem falha. Um poder mágico isso.
A câmera fotografou na primeira noite a Mili, a poodle da vizinha. A dona jurava que era outro cachorro. Nossos filhos nunca são culpados. A vizinha chegou a dizer que a foto estava fora de contexto. Como?
Desde quando há contexto de um podle cagar na sua casa?
Os únicos animais que tenho em casa é uma colmeia de jataí e uma lagartixa de nome Mônica.
Já que a câmera não funcionou, quer dizer funcionou como sabemos, menos pra dona da Mili, passei dois dias fazendo figa pra ver se a cachorra não sujava minha grama, mas também não funcionou.
Acho que esse poder só funciona quando olhamos pro animal, mas eu não a via.
Hoje decidi. Invadi todos os quintais da vizinhança pra pegar pelos e restos de fezes e mandar pra análise de DNA. Dêenea não erra.
Mas após voltar pra casa, ao deixar as provas e amostras num laboratório, fui surpreendido pela a polícia na frente de casa com uma gravação da dona de Mili mostrando uma pessoa invadindo, sim o policial disse invadindo um lar inviolável.
Argumentei: essa filmagem está fora de contexto. Mas não colou. E certeza que os cães estão cagando em meu quintal enquanto eu aguardo um advogado aqui nessa cela.
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