A Árvore
Há laços tão misteriosos que desafiam qualquer tentativa de explicação humana.
Enquanto o bebê ainda estava na barriga da mãe, um antigo senhor das rodondezas (que ninguém sabia ao certo onde morava), famoso por caminhar muito e falar absolutamente nada, bateu à porta e ofereceu à família, com um sorriso no rosto, a semente de um carvalho em uma pequena caixa de madeira.
A família recebeu o presente com estranheza — mas era tão bonita, a semente, que resolveram guardar o pequeno mimo em uma gaveta no quarto do bebê. Certo dia, ao lembrar do presente, a mãe o resgatou do fundo da gaveta e, enquanto o apreciava, o bebê se mexeu de modo tão efusivo que, daquele dia em diante, fazia questão de, todas as manhãs, encostar a pequena semente em sua barriga — gesto que jamais ficou sem resposta do futuro rebento. Havia, definitivamente, uma estranha e profunda ligação entre o bebê e a semente.
Ao nascer o pequeno menino, resolveram plantar a semente em frente à casa. E foi então que algo ainda mais estranho aconteceu: sempre que o bebê chorava, apenas o pequeno broto — que crescia em velocidade assustadora — era capaz de fazer cessar o pranto.
Quando aprendeu a andar, o garoto ia cumprimentar a pequena árvore todas as manhãs. O carvalho, por sua vez, parecia ganhar mais força e viço a cada riso do garoto.
Durante o inverno, suas folhas não caíam: em poucos anos, seu tronco se fortaleceu junto com os músculos do menino, que agora já corria e brincava livremente no quintal. Passaram os anos e a cada nova fase na vida do garoto parecia corresponder uma nova fase na vida da própria planta. Quando aquele começou a se exercitar na academia, os galhos do carvalho engrossaram, e suas folhas se avolumaram quando os primeiros fios de barba apareceram do rosto do rapaz.
Quanto mais o garoto estudava, mais sabiamente a árvore administrava seus recursos: sua sombra era mais perfeita e as raízes jamais ameaçavam a tubulação e os alicerces da habitação.
Mas chegou o dia em que o rapaz já era homem. Precisou assumir um emprego e ir para longe. E as árvores, como todos sabemos, são imóveis e, na impossibilidade de acompanhar o seu amigo, o carvalho entristeceu. Suas folhas perderam a cor, seus galhos se tornaram flexíveis e envergaram rumo ao chão. A luz do sol que lhe perpassava os espaços entre as folhas parecia melancólica…
O homem girou o mundo, foi parar do outro lado do Grande Oceano e o carvalho mais e mais se entristecia. Nenhum verão era capaz de lhe fazer brotas folhas em tom mais escuro que um pálido amarelo…
Mas a vida é uma senhora de caprichos incertos, e o velho homem já havia conseguido tudo o que ambicionava na vida. No entanto, nenhuma amizade preencheu o espaço outrora ocupado pelo então já velho carvalho.
Resolveu voltar. E exatamente no mesmo dia em que tomou esta decisão, lá de longe, uma nova folha, de um verde-escuro brilhante, magicamente brotou do galho mais antigo do velho carvalho.
Os pais nem precisaram esperar a chegada da carta do filho, avisando de seu retorno: todos ali já sabiam que distância não é barreira para as afinidades.