Um conto urbano.
Sobre como nos desconectamos de tudo…
— Ele passa o dia inteiro fazendo aquilo?
— Sim… Não consigo me imaginar no lugar dele. Deve ser triste…
— É um preguiçoso, isso sim! Olha como está gordo, ali, sentado o dia inteiro, teclando naquele computador idiot…
Foi interrompido pelo aviso de uma mensagem chegando no celular:
— É a Claudia, cara. Vou pegar essa mina hoje!
— Você só pensa em mulher…
— …e em cerveja, carros, balada e grana! Penso em muito mais coisas do que você pode imaginar, meu camarada!
— Já tem o Whatsapp dela, é?
— A maravilhosa tecnologia, amigo. Ajudando-nos a nos movimentar e transitar pelas vaginas alheias!
— Putz, fala sério. É só para isso que você usa essa porcaria de aparelho?
— Melhor do que ficar igual àquele cara ali sentado, gordo, o dia inteiro no computador!
— Demonstre, ao menos, um pouco de respeito pelos outros! Nunca o ouvi falando sobre o modo como você vive, mas você insiste em continuar agredindo verbal e gratuitamente alguém que você sequer conhece!
— Ah, foda-se. Não vou ficar aqui gastando meu tempo com um gordo laser e com um amigo de coração molenga. Vou comer a Claudinha. Fui!
Ao final daquele dia, em algum lugar da cidade, mais um coito sem sentido acontecia em camas alheias; mais um mobile app ficava pronto, “para revolucionar o modo como as pessoas se relacionam”.