er’umbalcão / di / bardi / fór / mica / vermelha — Arrigo Barnabé em Porto Alegre

Por Marcelo Ferreira*

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5 min readJun 19, 2015

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Arrigo Barnabé foi o primeiro convidado do Unimúsica 2015 — Série Irreverentes. Entrevista e show aconteceram nos dias 10 e 11 de junho, respectivamente, no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. O bate-papo foi instigador. O show foi uma overdose de desconstrução musical. Confira imagens e trechos da entrevista e das letras do músico.

A entrevista

“Ser irreverente, bom… Irreverente não é uma coisa que é mais fácil ou mais difícil. Ou você é ou você não é. Depende muito do seu estado de espírito. Claro que você pode treinar para isso. Você também pode ter auxílios químicos, funciona!”

“Daí eu mostrei pra ele [Tom Jobim] o Londrina, o disquinho compacto. Quando ele ouviu o Londrina, aí ele parou. Terminou a música e ele falou assim: ‘posso ouvir de novo?’ Maior elogio que eu recebi até hoje. ‘Claro mestre!’ Aí ele ouviu de novo e disse: ‘posso ficar com esse disquinho?’”

“Eu sinto que o que acontece com a gente, é que somos uma sociedade de consumo. Isso é cada vez mais evidente. A gente vive um triunfo da sociedade de consumo. A própria ideia de caretice já foi absorvida, a de não caretice foi absorvida, tudo foi absorvido. Tem uma tendência de transformar tudo em mercadoria.”

“Era Cortazar, era Drummond, era Borges, era João Cabral, era Fernando Pessoa, sabe? Você tava sempre com um livro na bolsa. Eu lembro que quando saiu a letra de ‘Construção’, do Chico Buarque, saíram duas páginas de jornal sobre a letra, sabe? A literatura tinha mais presença, eu acho [nos anos 70].”

“Piazzolla era demais, né, cara? Nossa senhora! Eu lembro que quando eu vi o Piazzolla eu fiquei maravilhado. Nossa, era incrível!”

“A primeira vez que ouvi a Blitz, eu ouvi numa lanchonete e falei: ‘ué, o Itamar tocando na rádio?’ Pra mim era muito parecido com Itamar, eu achava igual. Daí comecei a ouvir aquele coro e eles falavam de batata frita e chopp, e eu falei: ‘hmmmm’. Mas era um negócio interessante.”

“O Diversões Eletrônicas é a história de um cara que tá num bar bebendo e a namorada dele tá num fliperama com outro cara — um sujeito bom em fliperama, né? Ele fica ligando pra ela, ela não atende e ele fica bebendo gim tônica, ali. Quando ela sai do fliperama, ela encontra ele bêbado jogado no chão e ri, perversa.”

O show

“Ei, você que está me ouvindo, você acha que vai conseguir me agarrar? Pois então, tome…” — Clara Crocodilo

“Clara crocodilo fugiu. Clara crocodilo escapuliu. Vê se tem vergonha na cara e ajuda Clara, seu canalha. Olha o holofote no olho. Sorte, você não passa de um repolho” — Clara Crocodilo

“Só você não viu. Mas ela entrou, entrou com tudo. Naquele antro, naquele antro sujo. Você nunca imaginou, mas eu vi. No luminoso estava escrito: ‘diversões eletrônicas’” — Diversões Eletrônicas

“E a luz se apagou, Então eu senti na pele você, seu corpo em febre. Juro que eu nunca imaginei, amor, tanta sensualidade. Juro que eu nunca imaginei, amor, tanta eletricidade” – Orgasmo Total

“Pedindo mais, mais. ‘Até chegarmos ao orgasmo total. Orgasmo total. Trazido pelo reembolso postal’. Não passe ridículo. você também pode ser feliz como eles. Basta pedir hoje mesmo, pela caixa postal 6969, o seu exemplar de ‘o orgasmo ao alcance de todos’” — Orgasmo Total

“Que desespero! Ela tava desesperada. Seu corpo inteiro tava doendo de saudade, do seu marido… do maridinho adorado.” — Infortúnio

“Não sei se ela veio da Lua ou se veio de Marte me capturar. Só sei que quando ela me beija. Eu sinto um gosto, uma coisa estranha, um negócio esquisito meio amargo do futuro. Sabor de veneno” — Sabor de Veneno

“Mas agora ela é uma estrela famosa, Se você quiser possuí-la novamente, você precisa arranjar muito dinheiro, Durango! Como era mesmo aquele anúncio no jornal? Procura-se rapaz para testar um novo produto. Paga-se bem” – Office-boy

“E ele flutuou. Sim… flutuou pra longe dali, envolvido numa sensação deliciosa ,Mas, o que ele não sabia, é que estava sendo transformado num terrível monstro mutante, meio homem, meio réptil, vítima de um poderoso laboratório multinacional que não hesitou em arruinar sua vida para conseguir seus maléficos intentos.” — Office-boy

“Os cientistas foram os primeiros a conhecer sua ira. Depois a cidade estremeceria ao ouvir falar em Clara Crocodilo.” — Office-boy

*Aparenta ser jornalista, fotógrafo, produtor, ativista, guitarrista, crítico da mídia, amante da estrada, apreciador de simplicidades, mas é tudo ilusão. Na verdade é um navegante do cosmos em busca da autoconsciência universal, cheio de incertezas frente ao caos da existência.

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