Espelho

A P O L O is natanael freitas
Contra Argumento
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2 min readSep 30, 2019

Quem sou eu? Quem é esse que me espia do outro lado?

Quem sou eu? De onde vem tudo isso que sinto e a quem fim isto irá me levar?Um turbilhão, um mar de obscenidades me invade como quem não pede para entrar ou aguarda ser convidado.

Quem é você? Sim, você mesmo que me observa agora. O que tu olhas daí? O que tanto te atrai em mim? Não te cansas de me assistir? Me pergunto sobre quais deleites aprecias tu no ser que te defrontas.

Este eu minguado, pesado e falido que não cansa de sentir, não cansa de trazer sobre si fatos e causos vindos dos mais profundos calabouços da alma. Cansa de viver, cansa de tentar, cansa de fazer, porém não cansa de se lamentar.

Será isso doença? Quem me contagiou? De onde partiu essa desordem? Não é possível que só eu seja afetado com esse mal-estar sem sintomas. Não, não aceito ser paciente zero de um distúrbio físico, espiritual, seja lá de que ordem for.

Quem sou eu? O que eu quero com isso aqui?

É como viver numa casa eternamente assombrada, sem exorcismos suficientes para aliviar o fardo. Tudo range, tudo dói, tudo está morto. Quem está aí? Quem vive aí? É como pequenos traços de uma vida anterior, mas sem nenhuma pista de vida iminente. Esperança nenhuma.

Quem é você? Ainda te deténs aí? Será que não vês que nada há de belo aqui?

A vida que observa a arte, por quanto não consegue sê-lo. Não há beleza ali. Apenas a julga, por achar que dela entende, entretanto de nada isso lhe vale, por não conseguir absorve-lo.

Quem sou eu?

Já se foi o que restava de uma imagem, de uma identidade qualquer. Não te reconheço, não sei quem tu és. O Drácula sentimental te encara e desfalece, por já não poder deixar-se iluminar pela verdade do dia.

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A P O L O is natanael freitas
Contra Argumento

Refresco de groselha, com sabor de limão, mas parece tamarindo.