É tempo de viver sem medo?

Marco Sá
contraofascismo
Published in
3 min readOct 11, 2018
Eduardo Galeano em Montevidéu (2013) / Ezequiel Scagnetti

Tenho 32 anos, portanto, não vivi os sombrios 21 anos de ditadura civil-militar. Durante a campanha para o primeiro turno nas ruas, por defender candidaturas progressistas, fui agredido verbalmente diversas vezes. Ainda não passou disso. Testemunhei, entretanto, diversas ameaças e intimidações, inclusive com quem estava distribuindo panfletos comerciais — em um dos casos, a vítima era gay.

Apenas nos últimos dias, chovem relatos de mais agressões, ameaças e até mortes cometidas contra quem “ousou” expressar sua opinião ou apenas por existir, como tem sido com gays e mulheres. Seja qual for o resultado, sinto derrota e impotência nunca sentidas antes. Enquanto escrevia, ouvi o relato de uma estudante da UFRJ que foi perseguida por usar um adesivo escrito #elenão: “na próxima, leva um tiro”. Enquanto revisava, um estudante no Paraná foi espancado por usar um boné do MST, aos gritos do nome de vocês sabem quem.

Eduardo Galeano em Montevidéu (2013) / Ezequiel Scagnetti

Perdoem-me se acham que estou exagerando, mas ando tentando reunir forças. Evoco a Galeano, que dizia que é tempo de viver sem medo. Porque não vejo um horizonte agora. Sinto que nossas ideias e opiniões estão sendo criminalizadas por uma espécie de milícia. Peço, humildemente, ajuda aos mais experientes, que não sucumbiram às ilusões e promessas feitas por um candidato autoritário, preconceituoso e, por que não dizer, fascista.

Eu entendo que muito dos eleitores do ex-capitão e, por consequência, do ex-juiz, estão com medo ou cansados de escândalos de corrupção. A outra alternativa não era a minha primeira, mas agora é a única. Engana-se sumariamente quem acredita em alguma possibilidade de melhora com as propostas repressoras e inconcebíveis. Tem gente até que ameniza o que ele diz, pensando “pelo menos, ele é honesto”. Não é. Nem ele, nem os filhos. No entanto, com esses eleitores, quero conversar. Posso provar para muitos, que menos tem a perder, que sua vista grossa pode custar muitas vidas.

No entanto, existe um outro grupo, volumoso e ruidoso, que endossa todo o ódio que vem sido proferido ao longo dos anos, diretamente do candidato-militar. É complicado andar pelas calçadas e saber que a cada dez pessoas, quatro podem estar pensando igual a ele. Com esses, não sei mais como agir. Chamo a polícia? Qual delas? O policial que sacou a arma dentro da barca porque uma candidata de esquerda tirava fotos? Ou os policiais que destruíram material de campanha de outro candidato? A quem recorrer? Temos uns aos outros, eu sei. Precisamos estar vigilantes, sempre. Infelizmente, falhamos com Mestre Môa do Katendê. Não podemos falhar com a democracia.

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