“Política não se discute”

Marco Sá
contraofascismo
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2 min readOct 11, 2018

Diversas pesquisas apontam que o brasileiro não lembra dos parlamentares que elegeu nas últimas eleições. Aí estão pontos centrais da crise de representatividade. Quando cada eleitor indignado do Bolsonaro questionar o que ele fez para melhorar sua vida em 28 anos como deputado, talvez mude de ideia.

Talvez se esse indignado ligasse os pontos, lembrando que o ex-capitão votou a favor da Reforma Trabalhista, que retirou direitos dos trabalhadores, ou da PEC do Fim do Mundo, que congelou os gastos públicos por 20 anos e precariza ainda mais a saúde e a educação… Ou ainda que ele é autor de um PL que retira do SUS o amparo a mulheres vítimas de violência sexual.

O discurso de ódio de Bolsonaro é visto, para muitos, como firmeza ou irreverência. Lamento muito por isso e fico triste por não enxergarem correlação com o que está acontecendo neste momento.

Eu entendo, a corrupção deixa a todos nós indignados. Não pense que estou ignorando isso, mas também preciso lembrar que quem sempre esteve ao lado de Bolsonaro é corrupto. Ele foi do partido do Maluf por 20 anos (a sigla mais citada na Lava-Jato). Enquanto lá esteve, recebeu doação da JBS, lavada pelo partido. Depois foi pra sigla do Marco Feliciano e agora está no PSL, que proporcionalmente foi o mais fiel às reformas de Michel Temer.

Eu fui e sempre serei crítico ao PT. Mas reconheço os avanços conquistados nesses anos. A cegueira do antipetismo não me atingiu, ainda bem. Eu sei que Lula e Dilma melhoraram a vida de muita gente. Sem contar que admiro Fernando Haddad desde que era (bom) ministro da Educação. Minha crítica ao partido não me afasta do berço da democracia e isso é, ao mesmo tempo, encorajador e reconfortante.

Há muito tempo se diz que “política não se discute”. São gerações de despolitizados decidindo o rumo das eleições, com a antipolítica — no pior sentido do termo — liderando as pesquisas de intenção de voto. De tanto não se discutir, prevaleceram as fake news e a luta contra o fascismo enfrenta os mais diversos percalços da desinformação. Ainda há tempo?

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