Cultura da Convergência e de Fãs: Como o BBB se adaptou a tudo isso após 21 edições?
O Big Brother Brasil é um reality show que está presente nas telinhas brasileiras desde 2002, somando até agora 21 edições exibidas. Por ser um programa que está há quase vinte anos no ar, muito tempo se passou e isso exigiu muita mudança na forma com que o programa é produzido e exibido num geral. Por ser um formato de programa em que o público participa das decisões, o BBB teve que se adaptar com o passar do tempo na forma com que se comunicava com esse público e na forma com que essa interação acontecia. Com isso, podemos trazer uma reflexão de como a Cultura da Convergência, proposta por Henry Jenkins, se encaixa nessa situação e ilustra o impacto das transformações mercadológicas, culturais e sociais de um reality show como esse. Outro objeto de estudo que pode ser analisado em relação ao programa é o da Cultura de Fãs, tendo em vista as mudanças no comportamento dos telespectadores e na forma com que eles se relacionam não somente com o programa em si, mas agora também com os participantes.
Primeiramente, podemos saber que o programa sempre foi muito popular e teve uma boa aceitação do público, caso contrário não estaria há tanto tempo na programação. A dinâmica do jogo acontece entre os participantes e, semanalmente, o público também tem o poder de participar, podendo escolher quem sai da competição e deixa de lutar pelo prêmio final. Inicialmente, essa participação acontecia por meio de ligação telefônica ou pelo envio de mensagem via SMS, que na época eram as maneiras mais populares e fáceis de serem feitas. Conforme os anos foram passando, com a popularização da internet, computadores e notebooks, foi-se adicionado a opção de votar também pelo site do programa. Depois disso, com a tecnologia se aprimorando cada vez mais, com o crescimento das redes sociais e o surgimento dos smartphones, em 2018 o programa abandonou as formas de votação via ligação e SMS e a partir dali até os dias atuais só se é possível votar pelo site ou pelo aplicativo da Globo. Nessa primeira reflexão já temos uma noção do quanto foi necessário o programa aos poucos ir se ajustando conforme as demandas tecnológicas da sociedade e nas novas propostas de interação.
Divulgação de um paredão do BBB 16:
A mudança não ocorreu somente fora do jogo, mas dentro também. Desde a primeira edição, em 2002, até a última, em 2021, as regras e dinâmicas internas do jogo também tiveram que ser adaptadas para se ajustar nas novas tecnologias. Um exemplo bem simples é da moeda de troca que os participantes têm dentro da competição, conhecidas como “estalecas”. Antigamente as estalecas eram como um dinheiro físico que eles recebiam e semanalmente iam até um “mercado” que era montado dentro da casa para poderem fazer suas compras. Hoje tudo isso foi alterado para poder se encaixar nas transformações tecnológicas que nos rodeiam, nas culturais por estarmos sempre em constante mudança de como consumimos e interagimos com os conteúdos e, por último, nas transformações mercadológicas, tendo em vista que o BBB é um dos programas que mais faturam com publicidade dentro da emissora. Então, apenas uniram o útil ao agradável.
As estalecas hoje são virtuais, os participantes as controlam através de um smartphone disponibilizado dentro da casa. A oportunidade foi aproveitada para fazer parceria com o PicPay, uma das maiores empresas de carteira digital do momento, que agora é parte da dinâmica do Reality Show de maior audiência do país. As compras, que eram feitas no mercado montado na casa, agora também foram modificadas e são feitas também via smartphone, já que atualmente os aplicativos de delivery estão em alta e ganhando cada vez mais espaço. Duas grandes marcas desse ramo que fizeram parceria com o programa foram o IFood e a Americanas.
Toda essa estratégia de mudança faz parte de uma Convergência Midiática para que o público se sinta sempre representado e convencido a querer consumir os serviços das marcas que são exibidas. É um processo que precisa acontecer para que as marcas queiram fazer parceria com o programa, e para que também não se perca a audiência. É como uma engrenagem em que tudo precisa funcionar perfeitamente para que no final: o público se sinta satisfeito com o entretenimento, para que consequentemente o programa tenha audiência e, com isso, as marcas tenham o interesse de patrocinar e assim trazer a rentabilidade que a emissora busca na exibição.
As transformações feitas com o passar dos anos também refletiu na maneira em que o público interage com o programa e com os participantes individualmente. A evolução transmidiática da televisão como um todo colaborou muito para uma maior aproximação e interação do telespectador com o conteúdo do programa. Essa nova forma de comunicação que começa a se estabelecer gera a cultura da participação, estabelecendo novas relações. A Economia Afetiva pode ser ilustrada aqui, tendo em vista que nesse conceito as marcas buscam criar um laço com seu público alvo, se tornando cada vez mais humanizada. O BBB passa por um processo parecido com esse. O programa que antes só tinha o seu site como meio multiplataforma virtual, hoje, além do site, tem também um perfil em cada rede social do momento: Instagram, Facebook, Twitter e até mesmo TikTok.
Sem contar também que a pervasividade do programa se expandiu muito, trazendo novos outros programas e formatos que migram de suportes e criam subprodutos em diferentes meios. Alguns exemplos aqui são: o Bate Papo com o Eliminado, Mesa BBB, Plantão BBB, BBB — A Eliminação, Parada BBB e até mesmo o próprio Pay Per View que se tornou mais popular e com uma possibilidade mais fácil de ser acessado, podendo ser via internet através do aplicativo do Globo Play.
Toda essa expansão transmidiática e multiplataforma aumentou a interação do público, que agora traz consigo agora os 5 valores principais da Cultura de Fãs: Informação, Troca de Bens, Emoção, Interpretação e Criatividade.
O programa que antes tinha sua maior visibilidade apenas no horário em que era exibido ao vivo na TV, agora expande muito mais nas redes sociais e possibilita a criação de novas narrativas e interpretações que não aquelas mostradas na edição, que poderia ser manipulada querendo criar uma imagem de vilão em algum participante, de romance em outros dois e assim por diante. Os participantes atuais, diferentemente dos pioneiros, entram no jogo com uma mentalidade diferenciada. Eles estão ali para jogar, criar estratégias e lutar pelo prêmio, enquanto isso antigamente não era tão pensado entre eles. Assim, enquanto eles estão no confinamento, alguém do lado de fora já fica responsável por cuidar das redes sociais de cada participante (que também abrangem entre Instagram, Twitter, etc) para conseguir criar um laço com o público aqui fora e fazer com que ele tenha uma boa imagem e preferência. Isso não tem interferência nenhuma com o programa, são os próprios participantes que já começam a trabalhar a sua imagem, pois após a participação no programa eles ganham muita visibilidade e boa parte desses “ex-bbbs” passam a trabalhar com isso.
Os fandoms então passaram a criar memes dos participantes e o que mudou muito nos últimos anos foi a mobilização feita para organizar mutirão de votos a favor ou contra os participantes da berlinda. Não só os anônimos, mas também famosos passaram a fazer parte dessa galera que se une com outras pessoas com o intuito de salvar algum jogador preferido da eliminação. Vários vídeos circularam nas redes sociais mostrando pessoas nas janelas de suas casas comemorando em dia de eliminação muito disputada em que fandoms grandes organizaram vários mutirões de votação. Houve até casos de criação de bots eletrônicos que votavam sozinhos e subiam hashtags nas redes.
Desse modo, pode se dizer que a evolução transmidiática e principalmente a popularização das redes sociais contribuíram muito para uma mudança nas formas de se criar e de interagir com o Big Brother Brasil. Com as redes sociais, os discursos se expandem, as falas viralizam, a visibilidade e a possibilidade de novas criações aumentam e tudo isso resulta em um reality show de sucesso, que mostra o que o povo quer ver e que é responsável por mobilizar milhões de telespectadores e faturar milhões com publicidade.