Ensaio sobre as estratégias dos conceitos de: Convergência, Transmídia e Cultura de fãs nos conteúdos de League of Legends.
RESUMO
O ensaio usará como objeto de estudo o jogo League of legends, a fim de explicitar, a partir de seus conteúdos, as estratégias por ele utilizados através dos conceitos abordados por Henry Jenkins sendo: convergência, transmídia, cultura de fãs e suas respectivas ramificações. Serão abordados de forma sucinta, visto a complexidade gigantesca do universo do jogo, utilizando de exemplos e imagens, tornando o ensaio mais prático e dinâmico.
INTRODUÇÃO
Por ter uma certa familiaridade com o game já que eu o jogo há quase 10 anos, tenho muitas experiências para compartilhar, principalmente quando observado com um olhar acadêmico, coisas que nunca havia parado para questionar e que passam despercebido. O texto explícita as características dos conceitos citados no título aplicando-os em League, a fim de abrir os olhos dos consumidores para aquilo que estão consumindo e de certa forma criando, num ponto de vista positivo.
O League of Legends enquadra-se na categoria do MOBA (Multiplayer Online Battle Arena), ou seja, um jogo com diversos jogadores usados no ambiente online que acontece em arenas — mapas — fixos, o game na sua teoria básica consiste em uma disputa entre duas equipes, que são compostas por 5 jogadores em cada time, eles se enfrentam tendo um mesmo objetivo em comum, conseguir destruir a base do adversário mas, na verdade, ele vai muito mais além do que isso. É considerado um jogo gratuito, não é preciso efetuar nenhum pagamento para se inserir no jogo. O usuário pode continuar jogando de forma gratuita se desejar, mas existem alguns conteúdos exclusivos que são pagos e podem ser adquiridos na loja do jogo, um exemplo desse conteúdo exclusivo são as skins, ou seja, mudanças nas unidades de cores e padrões originais de cada personagem, alteram também, efeitos de som e fala do campeão. São versões estéticas diferentes para um mesmo personagem, mas sem alterar nenhum aspecto de suas habilidades em jogo e nelas podem conter um universo paralelo que diverge totalmente da história original dos campões. Ao decorrer do texto irei usar uma linha de skins como exemplo para explicar alguns dos conceitos citados no título.
Convergência
A convergência midiática é um conceito desenvolvido por Henry Jenkins em seu livro chamado “Cultura da Convergência”. O conceito baseia-se na transformação mercadológica cultural, social e tecnológica dos meios de comunicação com a internet, a fim de utilizar dela para a distribuição de seu produto. Com o surgimento dos aparelhos eletrônicos como smartphones, computadores e tablets ficou ainda mais fácil a distribuição de conteúdos por estes meios, ampliando ainda mais suas variadas formas de consumo, visto que estes aparelhos podem ser usados para diversas finalidades como ler livros, jogar, assistir algum conteúdo, interagir, fotografar, gravar, entre outras utilizações que servem de exemplo também para a compreensão do conceito de convergência. Jenkins faz uso de um termo que compõe o conceito de convergência, o termo em questão é o Tripé, o qual é composto por três conceitos básicos, sendo: convergência midiática, inteligência coletiva e cultura participativa.
Basicamente, a inteligência coletiva nada mais é que um grupo de pessoas que através de sua bagagem cultural, social e de experiências, entendem parte um mesmo conteúdo de formas diferentes. Quando esse grupo de pessoas se juntam elas compartilham suas ideias, interpretações, possíveis adivinhações e seus respectivos pontos de vista sobre um determinado conteúdo em comum, aumentando seu nível de conhecimento sobre o conteúdo de forma coletiva onde sempre alguém tem algo a complementar. Em League, há fóruns de discussões que são disponibilizados pela própria empresa do jogo, para que a mesma possa estar sempre observando e levando em consideração os assuntos mais comentados pelos jogadores, além de ser uma ferramenta de interação para os usuários com ideias semelhantes. No Lol para além do jogo em sí, há uma construção narrativa do universo chamado Runeterra que seria o “planeta’’ onde habitam os personagens do jogo. Nesse universo são inseridos os personagens, cada um com seu propósito, sua função, conflitos e interesses. Dentro desse universo narrativo enorme do jogo, há muitos conflitos, em sua maioria guerras de uma região com outra e uma guerra “soberana’’ que irá envolver todas as regiões numa só guerra posteriormente, e isso abre uma série de possíveis teorias a respeito de como irão se desenrolar a história de Runeterra.
E aqui entra o conceito de Inteligência coletiva. Os fãs, através dos fóruns, interagem criando várias teorias de como irão se dar o rumo da história do jogo, são muitos conflitos, muitas histórias, regiões e personagens para serem levado em conta e isso gera uma discussão enorme a respeito. A empresa Riot Games está desenvolvendo a história, ainda não tem um fim propriamente dito. Inclusive, a empresa já disse oficialmente que está desenvolvendo a história para que os jogadores possam interagir decidindo o rumo de Runeterra a partir de votações.
Isso nos leva ao conceito de Cultura Participativa, que trata-se de um comportamento dos consumidores em estar participando cada vez mais dos conteúdos que consomem, interagindo através de um sistema complexo de regras, criado com propósito de ser utilizado de forma coletiva. Outra forma de cultura participativa que a empresa propõe aos jogadores são dadas através de eventos que acontecem dentro do próprio jogo, são várias formas de interação participativa ao longo dos anos, a mais recente foi através de um evento chamado Florescer Espiritual, a qual foi criado uma interface dentro do jogo onde os jogadores poderiam interagir com alguns personagens e, a cada interação, era recebido uma missão para ganhar alguma recompensa.
Como os jogos se encaixam no conceito de convergência?
Se encaixam a partir do momento que as tecnologias passam a permitir com que o jogador além de consumidor seja também um produtor do conteúdo, implicando diretamente com o conceito convergência e, logo, o da cultura participativa. Quando, por exemplo, o jogador de League of Legends interage com a equipe através de sua performance em game ou até mesmo nos chats que, também são uma das ferramentas disponíveis para comunicação e interação no jogo, concretiza-se este conceito de cultura participativa. Além de que, quando paramos pra analisar este objeto de estudo, podemos perceber que nele há uma gama de possibilidades de convergência, isso se reflete, por exemplo, nos fóruns onde acontece uma participação dos jogadores a respeito do jogo, o canal oficial no YouTube, perfil no Instagram e Twitter a fim de gerar essa interação entre game e jogador dentro e fora de jogo. Na interface inicial superior da página há links que encaminham para diversos modos interativos como, por exemplo, histórias dos personagens, regiões que compõem o universo em sua narrativa e que, inclusive, é apresentado um mapa interativo para conhecer mais a fundo a história narrativa complexa de League of Legends.
Transmídia
“Uma história transmídia desenrola-se por meio de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor — a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, expandida pela televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões.” — Henry Jenkins.
Ou seja, basicamente a transmídia se dá quando um conteúdo consegue expandir seu universo de modo que complemente a história sem que haja uma alteração do universo principal. Neste ano (2020), o Lol está completando 10 anos de lançamento, como comemoração a esta data especial a empresa Riot Games começou sua produção de livros que narram a história de Runeterra e seus respectivos personagens. O primeiro livro a ser lançado chama-se “League of Legends: Reinos de Runeterra”, como o próprio nome diz, conta a história completa do universo de Runeterra como eventos cronológicos, contos e principais problemáticas. Este livro tem por objetivo expandir o universo, torná-lo mais palpável para a comunidade, visto que é difícil fazer tudo isso dentro do jogo, principalmente tratando-se de um universo tão grande e rico, no livro há informações que não são encontradas dentro do jogo e nem na página oficial de League.
Além do livro, a empresa também investiu em criar outros jogos mas dentro do mesmo universo do Lol, o jogo “Legends of Runeterra’’ (lançado em abril de 2020), é uma expansão do Lol, uma adaptação para jogos de carta, nele também há conteúdos exclusivos que agregam o universo narrativo.
Outra forma de transmídia é a parceria com a marca da “Louis Vuitton”, onde a mesma criou skins exclusivas para alguns personagens do game, unindo o mundo gamer com o da moda. A parceria aconteceu em 2019 no campeonato mundial de League of Legends.
Cultura de fãs
Twittertainment é uma classe de fan fiction que se configura especificamente no Twitter, onde os fãs criam perfis na rede social e o utilizam incorporando os personagens.
Após fazer uma busca pela plataforma do Twitter para descobrir se havia casos como esse, porém que contemplasse o tema abordado neste texto. Descobri que há perfis de fãs pelo Twitter incorporando personagens do League of Legends dentro desse conceito de Twittertainment. O perfil mais famoso é o da personagem Soraka, muito conhecida por sua frase: “Sim, aquilo era uma banana. Ninguém espera por uma banana”. E, o fato de ter outra personagem logo abaixo (Leona) que comentou a publicação com um emoji percebe-se que tem muito mais perfis de campeões do jogo que exercem a cultura do Twittertainment.
O assunto do diálogo das personagens sendo Soraka e a outra Soraka na skin Guardiã Estelar, é a respeito da skin que a personagem recebeu recentemente dentro do jogo, a skin Soraka Guardiã Estelar edição de prestígio (são versões de skins já disponível no game porém em uma coloração dourada, simbolizando raridade pois elas se tornarão raras.)
Outro diálogo entre as personagens, dessa vez, a respeito do sumiço da Soraka na rede social.
Esse mesmo perfil também utiliza linguagens como memes e remixes em suas publicações, todas as referências usadas são de League of Legends ou do mundo dos games, precisa-se de um conhecimento prévio a respeito para total compreensão do que está sendo dito. Como por exemplo um vídeo que o perfil publicou a respeito do novo jogo desenvolvido pela empresa Riot do universo de League of Legends, dessa vez, um jogo de single player, ou seja, onde contém apenas um jogador e que será possível ser jogado por plataformas como PS4/S, xbox, PC, entre outras, levando o conteúdo do Lol para diversos nichos e modos de game e, consequentemente, aumentando seu público. O vídeo em questão se encontra anexado na bio do perfil no Twitter.
Outra prática interessante deste perfil são os constantes retweets em posts de ilustrações feitas pelos fãs (incluindo gringos) da personagem e, de certo modo, do jogo em geral.
CONCLUSÃO
É interessante percebemos, dentro dessa perspectiva de games, o quão intrínseco é a ligação entre o game e os gamers, uma vez que, para que o jogo cresça no nível como o Lol cresceu ao longo dos anos foi, em parte, graças a sua comunidade que, sempre foi muito participativa e, de certa forma, parte também da empresa que tenta escutar a demanda da comunidade. Além é claro, dos avanços tecnológicos que permitem que interações como essas estejam cada vez mais presentes, onde temos interações diretas dos personagens na cerimônia de abertura do mundial de 2020 do League of Legends, a criação de um universo gigantesco a partir de um jogo. Sendo um reflexo também do estudos da comunicação, a qual permitiram que estratégias como estas abordadas no texto fossem criadas e, que propiciaram também entender práticas como as dos fãs, são estudos que estão sempre em constante mudança e descoberta.
Ensaio final da disciplina.
— humor.
Referências:
MEZZOMO, Giulia. Consumo e Fandom em jogos: um estudo de caso sobre league of legends. 2014. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/16830/Mezzomo_Giulia.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Site: https://www.eurogamer.pt/articles/2012-02-02-league-of-legends-artigo
BEMBEM, Angela Halen Claro; SANTOS, Plácida Leopoldina V. Amorim da Costa. Inteligência coletiva: um olhar sobre a produção de Pierre Lévy. v.18, n.4, p.139–151, out./dez. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pci/v18n4/10.pdf
