Me passa o login das suas redes sociais?

Açucena Arbex
DIG&TAL
Published in
3 min readOct 11, 2020

Certamente essa é uma pergunta que você responderia com um NÃO, até para uma pessoa próxima, afinal ninguém quer ter sua privacidade vigiada. Porém, você responde SIM para as grandes redes sem se dar conta disso.

Fonte da imagem: Freepik.com

Sem dúvidas a oportunidade do acesso a internet facilitou muito a nossa vida e proporcionou compartilhamentos e construções coletivas incríveis, que contribuem no dia a dia, nos informam, nos educam e nos entretém. As principais plataformas que possibilitam este feito são as redes sociais gratuitas que nos conectam. É raro encontrar quem tenha acesso a internet e não esteja conectado às redes. Porém, é ainda mais raro encontrar alguém que ao criar uma conta em alguma rede social tenha lido os termos e condições (várias páginas com letras minúsculas) para fazer parte daquele meio, apenas concordamos e ponto. Afinal achamos que basta saber utilizar as ferramentas e suas funções para fazer parte de um lugar que pensamos ser democrático, onde todos têm as mesmas condições de falar e serem ouvidos,porém o tráfego de dados está cada vez mais concentrado nas mãos das grandes corporações e o seu funcionamento é decidido por poucas pessoas de forma não transparente, o que permite a operação de realizações invisíveis aos usuários (venda de dados). Temos a falsa sensação de estar no controle, mas são as plataformas que nos controlam.

As redes sociais são empresas especializadas em formar perfis de seus usuários. Todas as buscas e conexões que fazemos nelas ficam registradas, formando assim nosso perfil (gostos, preferências, interesses, desejos, etc), este perfil é utilizado de várias formas, para interferir no nosso cotidiano, vendendo nossas informações para as corporações comerciais que querem nos controlar, prevendo assim as coisas que gostaríamos ou não de ver e principalmente de comprar.

Fonte da imagem: Freepik.com (com alterações gráficas da autora)

A interface intuitiva e atraente das redes sociais prendem nossa atenção por horas, algumas plataformas como Facebook fizeram acordo com provedores de internet móvel, que possibilitam a navegação nesses aplicativos sem descontar dos pacotes de dados que contratamos, resultando em mais tempo conectados nas redes, consumindo conteúdo e anúncios sugeridos pelos seus controladores. Passamos então, a usar as redes sociais como se a INTERNET fosse apenas essas plataformas, porém ela é muito mais ampla do que pensamos e temos várias outras possibilidades de navegação e uso dela, que não são regidos por anúncios de vendas, mas que não exploramos por estarmos condicionados as grandes redes.

A internet é um espaço de liberdade, porém as grandes redes sociais (que estamos concentrados) estão no controle, vendendo nossa privacidade e estamos nos tornando uma sociedade vigiada. A privacidade, como a liberdade e a vida é um direito e não uma mercadoria e não se deve negociar os direitos humanos, cabe ao estado protegê-los. Essa questão começa a despontar agora e ainda há muito o que ser analisado e discutido, mas enquanto não existem níveis de privacidade efetivos, pois as regulamentações que atualmente garantem isso, não são suficientes e realmente eficazes. Cabe a nós mesmos atentarmos para as redes que estamos acessando e os rastros que deixamos nelas e explorar a internet de uma maneira mais ampla do que concentrar apenas nas grandes redes sociais,onde estamos completamente vulneráveis aos interesses das corporações e aos interesses políticos dos governos que podem manipular essas corporações.

Indico o documentário brasileiro Freenet lançado em 2016, que apresenta as questões de acessos e controle da internet no Brasil e no mundo de uma forma mais ampla. O filme está disponível na plataforma aberta Libreflix, que oferece serviço gratuito e independente de produções com licenças de distribuição permissivas através de streaming, o seu desenvolvimento é feito de forma colaborativa e tem seu código-aberto, seguindo a filosofia do software livre. A própria plataforma em que o documentário se encontra disponível, é uma das possibilidades para pensar uma nova forma de lidar com o meio virtual.

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