O mar tá pra peixe grande, cardume e pra quem nada contra a maré

Açucena Arbex
DIG&TAL
Published in
3 min readOct 24, 2020

A partir da evolução tecnológica dos aparelhos eletrônicos com tela (smartphone, tablets, computadores e televisões), juntamente com o avanço da internet surgiram (e estão surgindo) novas maneiras de consumo do produto audiovisual. As plataformas on demand (sob demanda) estão contribuindo para essa questão, pois oferecem a oportunidade de acessar os conteúdos a qualquer hora, lugar e de qualquer dispositivo, proporcionando autonomia ao espectador, podendo ser ele, o organizador da própria programação e horário, rompendo com a dependência da programação dos canais de TV aberta e fechada.

“A não-dependência de uma grade de programação que defina o horário e o dia de exibição do conteúdo é um dos principais argumentos utilizados pela Netflix para definir seu papel de desafio às normas estabelecidas no mercado televisivo.” (CASTELLANO e MEIMARIDIS, 2016, p. 204)

As principais plataformas funcionam como serviço de streaming, ou seja, o conteúdo é baixado e reproduzido simultaneamente, sem precisar salvar arquivos nos dispositivos. As maiores empresas da área são as americanas: Netflix e Amazon Prime Video, tendo em seus catálogos produções dos mais diversos estúdios, incluindo filmes, programas e séries de renome internacional, mas a grande aposta são as produções originais, principalmente as seriadas com as mais diversas temáticas. As plataformas ao mesmo tempo que se distanciam do modo e dos formatos televisivos, se assemelham a eles.

“A Netflix busca atrair uma base massiva de assinantes, logo, suas produções originais também variam em qualidade narrativa e estética, ora se aproximando das produções cinematográficas,ora dialogando com as produções da televisão aberta. Nesse sentido, o serviço não consegue garantir a distinção promovida pelo seu discurso.” (CASTELLANO e MEIMARIDIS, 2016, p. 205)

No Brasil a maior plataforma que oferece esse tipo de serviço é a Globoplay, pertencente à rede Globo de televisão, oferecendo conteúdos exclusivos, que não passam na TV aberta e grande parte do arquivo televisivo da emissora digitalizado. Recentemente incluiu nos seus pacotes a possibilidade de assistir a televisão ao vivo pela plataforma, expandindo a TV em múltiplas telas, sendo assim, uma junção da TV com on demand.

Ao assinar esses serviços (todos citados acima são pagos), o espectador tem a sensação de poder assistir o que quiser nos vastos catálogos das produtoras, porém suas escolhas são limitadas as grandes produções presentes nessas plataformas. A rede de conteúdos que a internet proporciona é muito extensa, com muitas possibilidades de acesso, onde é possível experimentar outras formas de produções audiovisuais, realizadas por outros olhares, que não estão preocupados com uma “estética que vende”.

O projeto brasileiro Cardume, uma plataforma de streaming independente é uma dessas novas possibilidades. Oferecem um catálogo de curtas-metragens nacionais a baixo custo, tendo como propósito difundir o acesso e o interesse do público a esse tipo de obra, que ao passar a conhecer, tome gosto por assistir também pequenas produções de grande qualidade artística e cultural.

Outro projeto nacional é a plataforma Libreflix (que faz um trocadilho com a Netflix), como o próprio nome sugere, o acesso é livre a todo catálogo de filmes, séries, documentários, curtas-metragens nacionais e internacionais. O serviço gratuito oferece produções audiovisuais de livre exibição, o seu desenvolvimento é realizado de forma colaborativa e de código aberto, qualquer pessoa pode adicionar uma produção livre à plataforma, que tem como objetivo defender novas formas de compartilhamento de cultura.

Nesse imenso mar que é a internet, onde as possibilidades são múltiplas e tem espaço para todos, cabe à nós espectadores aproveitar dessas multiplicidades e navegar em busca de novas perspectivas.

Fonte da imagem: Freepik.com com alterações da autora

Referências:

CASTELLANO, Mayka; MEIMARIDIS, Melina. Netflix, discursos de distinção e os novos modelos de produção televisiva. Contemporânea Comunicação e Cultura, Bahia, v.14, n.02, p. 193–209, maio./ago. 2016.

ON DEMAND: saiba o que é e como funciona esse tipo de serviço. Celular Direto, 2019. Disponível em: <https://www.celulardireto.com.br/on-demand-saiba-o-que-e-e-como-funciona-esse-tipo-de-servico/#:~:text=Em%20tradu%C3%A7%C3%A3o%20direta%2C%20on%20demand,m%C3%BAsicas%2C%20uma%20emissora%20de%20r%C3%A1dio>. Acesso em: 23 de out. de 2020.

CARDUME quem somos. Cardume, 2020. Disponível em: <https://cardume.tv.br/quem-somos/>. Acesso em: 24 de out. de 2020.

LIBREFLIX sobre nós. LIBREFLIX, 2020. Disponível em: <https://libreflix.org/>. Acesso em: 24 de out. de 2020.

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