Viralização de artistas a partir das redes sociais

Guilherme Guerra
DIG&TAL
Published in
8 min readNov 20, 2020

RESUMO

Com o conhecimento nato de redes sociais digitais na geração millennial, esse tipo de site vem sendo utilizado cada vez mais como forma de divulgar trabalhos artísticos como músicas, artesanato e pinturas. O ensaio tem como objetivo desvendar os motivos e os cybercaminhos desses artistas, o trabalho visa compreender os fenômenos contemporâneos nas redes sociais por meio das teorias sobre redes sociais digitais e suas representações.

INTRODUÇÃO

Como uma pessoa nascida nos anos 2000, usar a internet nunca foi um problema na minha vida. Desde criança, a noção de utilizar sites de pesquisa para descobrir novos horizontes sempre foi uma atitude plausível, mesmo que na época esses novos horizontes fossem jogos online para passar o tempo. Logo, os jogos online já não eram mais prioridade e as redes sociais, especificamente o Orkut nessa época, foram introduzidas a mim. Essa introdução foi precoce, no auge dos meus 7 anos de idade, mas foi até um tanto quanto natural em relação à minha geração que já é nativa do cyberespaço. Na época não entendia muito do que se tratava, era apenas uma maneira de se comunicar com meus colegas de escola e alguns parentes, não fazia ideia de quais eram as possibilidades nesse tipo de site e nem da minha importância como ator na funcionalidade desse tipo de rede, muito menos de como no futuro seria primordial na sociedade moderna. Segundo Recuero, os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós, que são pessoas envolvidas na rede que se analisa. Esses atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição dos laços sociais. A partir desses conceitos podemos dizer que uma rede social é o retrato do usuário que a utiliza, independentemente de outros recursos, assim podendo fazer o que bem entender dentro das diretrizes gerais do site, que é onde quero chegar. Com a popularidade de redes sociais digitais nesse século, esses atores têm aprendido a se comunicar não só para fins de entretenimento, mas também como maneira de divulgar seus trabalhos. Essa divulgação é feita de maneira com que o ator, sobretudo das redes sociais, se utilize de outros perfis ou páginas para que essas se tornem catalizadores dessa dinâmica e dessa forma tenham uma visibilidade orgânica nas suas obras.

REPRESENTAÇÃO DO EU

Três importantes momentos decisivos pelos quais passaram as concepções identitárias. O primeiro deles situa-se na perspectiva no Iluminismo, quando vigorava uma concepção de indivíduo totalmente centrado e unificado. “Consistiria em um núcleo interior que emergia pela primeira vez com o nascimento do sujeito e desabrochava com ele, permanecendo essencialmente o mesmo — contínuo ou idêntico” (HALL). Essa noção do indivíduo portador de uma identidade fixa deu lugar posteriormente à perspectiva de sujeito sociológico, que começava a considerar que a complexidade do mundo moderno afetava decisivamente a composição da pessoa em relação a outros significantes. Finalmente, surge a ideia de sujeito pós-moderno. Profundamente marcado pela liquidez dos novos tempos. Inserido em um mundo fluido, de rápidas e constantes transformações, também a identidade desse indivíduo passa a ser fluida, porosa e de difícil delimitação.

As concepções identitárias passam a se definir como múltiplas e multifacetadas. Assim, a identidade deixa de ser algo dado com o nascimento e passa a ser conceituada como algo em constante construção e transformação. Na mídia, as redes sociais de relacionamentos como, Orkut, Twitter, Facebook, My Space, Linkedin e jogos como o Second Life, dentre outros, configuram-se como um cenário amplo em que é permitido construir e divulgar a — ou as, já que o plural revela-se sempre mais adequado para falar de identidade — concepção identitária que se deseja. A partir desse novo modelo de divulgação, articula-se uma série de fatores para criação de um novo tipo de representação do eu nesse tipo de site, tentando afastar o conteúdo profissional do conteúdo pessoal dentro do próprio perfil e assim ter duas facetas distintas dentro da rede.

Segundo o estudioso Javier Serrano-Puche, o ator social atua de forma com que a audiência seja cativada e levada a acreditar que ele exerce uma importância sobre o que ele prega e para isso utiliza-se de uma dramatização sobre sua persona, tentando assim buscar uma empatia do público geral da rede e consequentemente sua atenção para si. Esse tipo de comportamento geralmente é usada em redes sociais profissionais, como o Linked-in, ou em sites de namoro, como o Tinder, onde os usuários tendem a ser mais diretos e demonstrarem suas intenções. Porém, a cada dia que passa, os sites de redes sociais têm sido utilizados cada vez mais para múltiplos propósitos e fugindo um pouco de suas funções nativas, servindo de alavanca para além de interações comuns sem maiores intenções, mas também para de teor profissional mesmo em sites como o Facebook e Twitter que não foram criadas com intenções claras de divulgação de trabalho. Essa ressignificação desse tipo de rede social digital não impede de forma alguma a utilização padrão e nativa, mas abre horizontes para quem é criativo e explora as ferramentas que tem a disposição. Também de acordo com Javier, o ator pode usar algumas outras formas de representação como distorcendo os fatos, nesse tipo de atuação o indivíduo pode aproveitar-se de inverdades para se retratar como uma persona diferente da realidade, o que pode ocasionar mais prejuízos do que ganhos para a pessoa e descredibilização de sua imagem. Outra forma também é a mistificação do ator, que se apresenta como excepcional e extraordinário em relação a outros atores normais, assim se distanciando de sua audiência, mas sem se utilizar de falácias ou falsas afirmações. Esses tipos de representações fazem com que aconteça um fenômeno de engajamento no perfil do ator, podendo dessa forma chamar a atenção do público para qual seja sua intenção.

FORMAS DE DIVULGAÇÃO EM REDES SOCIAIS DIGITAIS TRADICIONAIS

Com seus perfis pessoais dentro de redes como Facebook e Twitter, os atores contam com uma teia de contatos pessoais, de grosso modo conhecidos por ele, o que caracteriza um jeito menos provável e limitado de angariar o engajamento necessário para ter seu trabalho reconhecido e prestigiado por novas pessoas. No entanto, artistas já famosos no meio artístico tem milhares (ou milhões) de seguidores prontos para consumir seus produtos, como leões esperando uma refeição. Essa disparidade de oportunidades entre artistas maiores e menores aguçou novas formas de propaganda dessa nova leva de artistas que desenvolveram uma forma de divulgação que é de alguma forma efetiva.

Pensando em como se divulgar em suas redes e de como ter uma grande plataforma para tal, alguns artistas tiveram a ideia de se utilizar de representações de não apenas suas vontades pessoais, mas também de seus traços de personalidade e dons artísticos para se auto divulgar. Tendo a carência de painéis e plataformas para expor suas artes e trabalhos, esses atores começaram a desfrutar de espaços onde realmente existe uma visibilidade, mais especificamente dentro das publicações de famosos, pessoas públicas e personagens dentro de seu grupo social, clã ou objetos de interesse. Essas possibilidades de conexão são de certa forma novas e segundo Raquel Recuero podem ser tratadas como super poderes dessa nova geração. Essas conexões massivas permitem que pessoas sejam muito mais visualizadas e dessa forma conseguirem atingir mais público, além da chance de adentrar apenas suas áreas de interesse.

ALGORÍTMOS

Como qualquer programa inteligente nos tempos modernos, as redes sociais se utilizam de algoritmos para oferecer conteúdos condizentes com suas preferências pessoais e conhecimento de objetos de interesse. Esses algoritmos nos recomendam vídeos, publicações e até produtos que julgam interessantes para nós, um exemplo prático disso é quando comentamos de um cantor e enquanto rolamos o feed damos de cara com uma de suas postagens, mas não é a única forma de usufruir desse tipo de automatismo.

Como citado anteriormente, a criatividade de se divulgar em comentários de publicações relevantes, principalmente de um assunto de interesse de um grupo social que o ator participa, também é tão utilizado justamente pelo trabalho desse código numérico tão importante. De acordo com a ferramenta, comentários parecidos com nossos próprios conteúdos, opiniões, ou seja, o que mais consumimos, são recomendados para nós e dessa forma vemos textos, matérias e conhecemos novos assuntos de interesse.

CONEXÕES A PARTIR DOS COMENTÁRIOS

Com esse fluxo de comentários, é de certa forma previsível que alguns trabalhos sejam realmente vistos, prestigiados e reconhecidos por outros atores da mesma rede social, que ao se conectarem à obra podem se sentir “obrigados” a compartilhar e comentar, desse jeito gerando engajamento e podendo ser repostado em outros sites, se tornando um viral. Essa viralização pode acabar tomando proporções conectivas em relação não só ao público, mas também a outros artistas, desconhecidos ou famosos nos quais podem alavancar ainda mais a visibilidade do trabalho.

Teto(artista da tela superior) após lançar algumas prévias de suas músicas em seu instagram, fechou contrato com a gravadora de Matuê(principal expoente do Trap Brasileiro e artista da tela inferior).

O caso do cantor Teto é um exemplo claro de como a geração millennial sabe usufruir das redes sociais para conseguir aclamação. O artista fazia várias transmissões ao vivo em seu Instagram e sempre lançava algumas prévias de músicas ainda não lançadas, após uma avalanche de compartilhamentos e feedbacks positivos de seus trabalhos, duas das maiores gravadoras do cenário do Trap Brasileiro entraram em uma disputa para contar com o futuro astro. Após a assinatura do contrato com a gravadora “30praum”, o trapper teve algumas músicas vazadas antes do lançamento que fizeram um sucesso estrondoso batendo a marca de 1 milhão de visualizações no Youtube, já se tornando um nome conhecido pela comunidade do gênero musical.

CONCLUSÃO

Em vista do que já foi apresentado, a naturalidade do uso das redes sociais digitais pela minha geração e as formas de utilizá-las para ganhos profissionais, além de pessoais, utilizando de ferramentas nativas desses sites de uma maneira ressignificada e também do engajamento de posts relacionados com seus interesses pode levar à uma viralização do conteúdo e consequentemente uma mudança de patamar em suas relações interpessoais, aumentando sua visibilidade, reputação e popularidade. Claro que não é um fenômeno natural e 100% certo de se tornar reconhecido, mas é uma possibilidade real de ser pelo menos visto. O exemplo de Teto mostra isso e dá uma certa esperança para artistas emergentes.

Esse ensaio se trata do trabalho final da disciplina Estudos da Cultura Digital, ministrada pela professora Gabriela Borges.

BIBLIOGRAFIA

>Livro “Cybercultura” de Pierre Levy

>Livro “Redes Sociais na Internet” de Raquel Recuero

--

--