Hannah Arendt

Homenagem rascunhada no facebook

Rafael Nogueira
Convite à Filosofia
3 min readOct 15, 2013

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No dia 14 de outubro de 2013, Hannah Arendt completaria 107 anos. Eu lia com interesse alguns textos esparsos dela há 10 anos, mas ano retrasado o interesse voltou. E dei sorte porque, ao voltar o interesse, tive que desenvolver, com alunos de Ensino Médio, uma peça teatral cujo tema era “O que nos faz plenamente humanos?” para a I Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo. Não há tema melhor para chamar Arendt a falar. Aproveitei que continuei os estudos e, neste ano, trouxe novamente Hannah Arendt a falar conosco, desta vez, sobre o tema “Que conhecimento é possível numa era de incertezas?”, na III Olimpíada De Filosofia do Estado de São Paulo.

O mais engraçado é que, junto ao meu interesse pessoal, parece que o interesse do mundo inteiro sobre ela também voltou. Foi feito um filme de excelente qualidade sobre ela, que estreou este ano — http://www.youtube.com/watch?v=lYDOpOCHwyw (trailer).

No filme, também chamado “Hannah Arendt”, ficou claro o tipo de “emoção radical” que tem a vida do filósofo: tudo começa por não se enquadrar em nenhum grupo ou corrente de opinião pré-formatada; segue para um tipo de vida ao mesmo tempo solitária, e de socialidade diferenciada com amigos seletos em conversações intermináveis; passa pela produção de trabalhos intelectuais realizados com mortal seriedade; e culmina por conquistar a atenção do mundo e o ódio de grupos inteiros. Por fim, o filósofo se aprofunda tanto nas questões que se propôs a resolver, que mantém o diálogo interno, e a investigação, continuamente, como se a morte não fosse chegar nunca. É quase um filme de aventura! De aventura mental.

Além desse aspecto biográfico, o filme conseguiu apresentar adequadamente o problema do mal que ela levanta no livro “Eichmann em Jerusalém”: o mal é causado por aquele que tem mentalidade brutal e psicopata, ou seja, por um monstro, ou, sobretudo, por aquelas pessoas comuns que, por serem comuns, não pensam no que fazem, e só se adequam e obedecem o que os outros fazem, bem como as ordens de cima? Ela conclui que o mal está, acima de tudo, no banal, no idiota, no comum. E essa é a tese que lhe rende tanto ódio.

Hannah Arendt ainda tem muito a nos falar. Suas obras sobre o Totalitarismo ainda são antídotos intelectuais que temos contra ditaduras. Seus estudos sobre revoluções demonstram que não adianta só pedir, gritar e clamar, se não prestamos atenção no que nos embasa, e no novo tipo de sociedade que queremos construir. Falando nisso, ela escreveu um livro que eu gostaria de ter escrito: o seu “Ensaio sobre a Revolução” é uma obra-prima do gênero.

“On Revolution”, um dos meus livros favoritos

Seus trabalhos sobre o pensar, o entender, o julgar e o querer encerram com brilhantismo uma vida de estudos que inspirou o mundo a tentar entender, pensar e julgar, antes de aderir, obedecer, escolher.
Foi uma heroína da tarefa do pensamento. Uma mulher que, sem alardes nem protestos sexistas — como esses feitos por feministas exaltadas —, honrou o gênero porque honrou a humanidade.

Falei sobre o legado de Hannah Arendt na I Semana de Filosofia promovida pelo Centro de Estudos Filosóficos de Santos, o CEFS,no dia 20 de novembro, em Santos.

Proferirei um minicurso sobre Hannah Arendt na Livraria Realejo, em Santos, a partir de 07 de dezembro, 14h00. Serão três sábados.

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Rafael Nogueira
Convite à Filosofia

Estudioso pangnoseológico inspirado pelo exemplo da noz: cérebro bem nutrido protegido por uma casca grossa.