Hannah Arendt
Homenagem rascunhada no facebook
No dia 14 de outubro de 2013, Hannah Arendt completaria 107 anos. Eu lia com interesse alguns textos esparsos dela há 10 anos, mas ano retrasado o interesse voltou. E dei sorte porque, ao voltar o interesse, tive que desenvolver, com alunos de Ensino Médio, uma peça teatral cujo tema era “O que nos faz plenamente humanos?” para a I Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo. Não há tema melhor para chamar Arendt a falar. Aproveitei que continuei os estudos e, neste ano, trouxe novamente Hannah Arendt a falar conosco, desta vez, sobre o tema “Que conhecimento é possível numa era de incertezas?”, na III Olimpíada De Filosofia do Estado de São Paulo.
O mais engraçado é que, junto ao meu interesse pessoal, parece que o interesse do mundo inteiro sobre ela também voltou. Foi feito um filme de excelente qualidade sobre ela, que estreou este ano — http://www.youtube.com/watch?v=lYDOpOCHwyw (trailer).
No filme, também chamado “Hannah Arendt”, ficou claro o tipo de “emoção radical” que tem a vida do filósofo: tudo começa por não se enquadrar em nenhum grupo ou corrente de opinião pré-formatada; segue para um tipo de vida ao mesmo tempo solitária, e de socialidade diferenciada com amigos seletos em conversações intermináveis; passa pela produção de trabalhos intelectuais realizados com mortal seriedade; e culmina por conquistar a atenção do mundo e o ódio de grupos inteiros. Por fim, o filósofo se aprofunda tanto nas questões que se propôs a resolver, que mantém o diálogo interno, e a investigação, continuamente, como se a morte não fosse chegar nunca. É quase um filme de aventura! De aventura mental.
Além desse aspecto biográfico, o filme conseguiu apresentar adequadamente o problema do mal que ela levanta no livro “Eichmann em Jerusalém”: o mal é causado por aquele que tem mentalidade brutal e psicopata, ou seja, por um monstro, ou, sobretudo, por aquelas pessoas comuns que, por serem comuns, não pensam no que fazem, e só se adequam e obedecem o que os outros fazem, bem como as ordens de cima? Ela conclui que o mal está, acima de tudo, no banal, no idiota, no comum. E essa é a tese que lhe rende tanto ódio.
Hannah Arendt ainda tem muito a nos falar. Suas obras sobre o Totalitarismo ainda são antídotos intelectuais que temos contra ditaduras. Seus estudos sobre revoluções demonstram que não adianta só pedir, gritar e clamar, se não prestamos atenção no que nos embasa, e no novo tipo de sociedade que queremos construir. Falando nisso, ela escreveu um livro que eu gostaria de ter escrito: o seu “Ensaio sobre a Revolução” é uma obra-prima do gênero.
Seus trabalhos sobre o pensar, o entender, o julgar e o querer encerram com brilhantismo uma vida de estudos que inspirou o mundo a tentar entender, pensar e julgar, antes de aderir, obedecer, escolher.
Foi uma heroína da tarefa do pensamento. Uma mulher que, sem alardes nem protestos sexistas — como esses feitos por feministas exaltadas —, honrou o gênero porque honrou a humanidade.
Falei sobre o legado de Hannah Arendt na I Semana de Filosofia promovida pelo Centro de Estudos Filosóficos de Santos, o CEFS,no dia 20 de novembro, em Santos.
Proferirei um minicurso sobre Hannah Arendt na Livraria Realejo, em Santos, a partir de 07 de dezembro, 14h00. Serão três sábados.