Cool Talks — Ana Lavaquial

Filipe Mendonça
CoolHow Creative Lab

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No dia 4 de junho, a professora Ana Lavaquial e o curso JUNTOS: Economia Colaborativa, Novos Negócios & Inovação fazem sua estreia no CoolHow. E desta vez, fizemos o Cool Talks de uma maneira diferente: além de levantar quais dúvidas vão ser esclarecidas no curso, convidamos dois negócios colaborativos de BH, a Mooca e a Casa Imaginária, para mandarem as suas próprias perguntas sobre o assunto. Olha só:

COOLHOW: Ana, quais perguntas você vai responder no JUNTOS?

· O que é Economia Colaborativa? Qual a diferença para Economia Compartilhada?

· Como a Economia Colaborativa surgiu?

· O que a Economia Colaborativa tem a ver com os conceitos de Lógica Dominante de Serviço e Cocriação de valor?

· Qual a diferença entre uma empresa de Economia Colaborativa e uma terceirizada?

· Airbnb e Uber são de fato colaborativos ou apenas empresas de tecnologia?

· E se eu quiser entrar neste mundo? Como faço?

· Como uma empresa “tradicional” pode inovar com a Economia Colaborativa?

· Para onde caminha este “novo capitalismo”?

· Todos os negócios da EC são baseados em tecnologia?

Marina e Fabi, da Mooca

MOOCA: Vemos opiniões diversas sobre se o Airbnb é realmente colaborativo se comparado ao Couchsurfing. Ambos conectam espaços residenciais à viajantes, mas o primeiro cobra uma taxa e o segundo não. Há opiniões que consideram o Couchsurfing mais colaborativo do que Airbnb justamente por causa do lucro. Qual seria a relação do lucro com a Economia Colaborativa? Até onde a parte “econômica” é nociva ou não diante dessa nova economia?

Para responder à sua pergunta, precisamos entender que, como qualquer conceito em construção, o de Economia Colaborativa (EC) possui algumas visões diferentes. Uma delas é a de que há negócios da EC só ocorrem entre pessoas. Essa visão pode caracterizar parte dos negócios da Economia Compartilhada, que faz parte do universo da Economia Colaborativa, mais abrangente.

O conceito que adoto é parecido com o de Rachel Botsman, uma precursora no assunto e que caracteriza a EC como um termo utilizado para sinalizar novos modelos de negócios que conectam diretamente ofertas a demandas, em substituição a instituições centralizadas, desintermediando as relações, em geral com alto uso de tecnologia e favorecendo acesso sobre posse. Assim, ela influencia comportamentos e paradigmas, tanto na esfera econômica, quanto sob as óticas ambiental e social, impactando a forma de produzir, consumir, aprender e financiar, além de tangenciar questões globais importantes como sustentabilidade e a busca pelo bem-estar. Repare que as “conexões” podem ser apenas entre pessoas (os negócios P2P que mais aparecem, como Airbnb e o Couchsurfing), mas também entre pessoas e empresas.

Acredito, na verdade, que não faz sentido separar pessoas de empresas ou consumidores de produtores, pois todos, em algum momento, podem assumir estes papéis. Por isso, os considero “atores”. As relações desses atores (anfitriões, hóspedes e as próprias plataformas, no caso do Airbnb e do Couchsurfing) são caracterizadas por trocas de serviço e estas trocas podem se dar da forma determinada pelo modelo de negócios proposto. Airbnb e Couchsurfing são negócios de hospitalidade, com um componente relacional que varia em intensidade.

No caso da Airbnb, a troca relacional é opcional, e a troca monetária, tangível, é a que viabiliza o negócio. No caso do Couchsurfing, a basa da troca é puramente relacional, intangível. Ou seja, as motivações e trocas são diferentes para se optar pelo uso de um ou outro serviço, mas ambos são negócios colaborativos por serem descentralizados (as decisões principais não dependem de uma instituição centralizada, como no caso das empresas tradicionais e hierárquicas — as plataformas são apenas facilitadoras das decisões dos usuários), e conectarem demandas a ofertas, independente se visam lucro ou não.

Na verdade, mais de 95% dos negócios “colaborativos” existem por razões econômicas. Acredito que a economia colaborativa e suas nuances, são uma nova forma para o capitalismo, não nega o lucro, que pode ou não ser parte inerente do modelo de negócios, mas é baseado em valores mais empáticos, dinâmicos, contextuais e relacionais.

Bruna, Bruna e Isabela, da Casa Imaginária

CASA IMAGINÁRIA: Os negócios da economia colaborativa se utilizam mais de outras formas de capital, além de recursos financeiros? Como?

Sim! Como vimos acima, as trocas entre os atores (organizações e pessoas), que caracterizam os capitais envolvidos, podem ser tangíveis e/ou intangíveis, dependendo dos modelos de negócios que as sediam e das motivações dos atores para efetivar a relação de troca em si. Geralmente podemos caracterizar estas motivações em um continuum que vai de puramente relacional (onde o mais relevante é o capital relacional/social) a puramente transacional (onde o que mais importa é o capital financeiro = comprei, levei).

Assim, se as motivações entre os atores estiverem em sintonia (= match), o serviço será efetivado com sucesso. Caso contrário, haverá uma dissonância para alguma das partes. Por isso um grande foco das empresas da EC é em algoritmos preditivos para aprimorar o match, ou encontro, para gerar experiências de serviço positivas. É importante acrescentar que a conexão entre os atores, para combinar ofertas a demandas, baseia-se em relações de confiança e credibilidade entre estranhos e usa como principal moeda a reputação, que, para mim, é uma área com grande potencial para desenvolvimento na EC.

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