Cool Talks — Hilaine Yaccoub

Filipe Mendonça
CoolHow Creative Lab
2 min readMar 22, 2016

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Se a Hilaine fosse contar todos os seus casos, daria uma saga. Só a sua experiência na Favela Barreira do Vasco, vivenciou o dia-a-dia da localidade por quase quatro anos estudando a lógica por trás das economias de compartilhamento e consumo colaborativo— tema de sua tese de doutorado em antropologia social e do consumo na Universidade Federal Fluminense (UFF) — já rende horas e horas de história. Agora, ela tem mais duas coisas para adicionar ao currículo: professora do Na Real: O Consumidor de Perto e de Dentro, que chega à Curitiba no dia 9 de abril, e entrevistada do nosso Cool Talks. Vem ver como foi essa conversa.

O que é uma experiência etnográfica?

A experiência de vivenciar situações em que o pesquisador se coloca no lugar do outro em seu próprio contexto. Através de técnicas de pesquisa focada na empatia, procura-se a lógica de pensamento do outro sem fazer julgamentos.

Qual foi a sua experiência mais marcante?

Foi me deixar “ser afetada” pelo trabalho de campo quando aluguei uma casa em uma favela carioca. Aprendi que o segredo é deixar-se levar pelo que se está vivendo. A minha experiência mais marcante foi um bate-papo com um traficante “gerente” da boca de fumo. Trocamos algumas ideias sobre o que era antropologia e o que eu estava fazendo ali. Foi assustadoramente incrível.

Como a etnografia pode ser útil para pessoas que não são antropológos?

Apurar o olhar e estabelecer uma observação apurada sobre o ser humano, sua cultura, suas formas de agir e pensar. Devemos levar em consideração os abismos que podemos ter com os diferentes grupos. A etnografia aproxima as pessoas para o entendimento das diferenças.

O que as pessoas podem esperar do seu curso?

Ensinamentos teóricos aplicados à vida prática, com muitas histórias ilustrativas de pesquisas acadêmicas e de mercado que já realizei. Uma troca de olhares e experiências calcadas na “teoria vivida”, onde mergulhei em cada tema e prática de pesquisa. Uma sempre mais encantadora que outra.

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Do que você mais sente falta da Barreira do Vasco?

Das pessoas e da comida da Dona Eunice, que fazia pirão de peixe e pé de galinha pra mim.

E do que mais sentiu falta quando estava lá?

Do silêncio. A favela é freneticamente barulhenta.

Se tivesse que escolher um único livro para ler e reler pro resto da vida seria…

Literatura: Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa) e de Antropologia: Sociologia e Antropologia, de Marcel Mauss (principalmente o Ensaio sobre a Dádiva), este último eu li cinco vezes para escrita da tese.

Um filme que mexe com você:

Gandhi, foi o meu filme-tema do ano de 2016 e pelo andar da carruagem, em termos de situação política no Brasil, acredito que tenha acertado na mosca. Precisamos de mais serenidade e empatia.

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