O iceberg era a solução do Titanic

Filipe Mendonça
CoolHow Creative Lab
3 min readMar 1, 2016

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Pense rápido: você é o capitão do Titanic e a colisão com o iceberg já é certa. O que você faria para salvar o maior número de pessoas possível? Aceleraria a entrada da tripulação nos botes salva-vidas? Usaria os móveis para flutuar? Tente ir um pouco além. Que tal o iceberg? Sim, o iceberg. Não encare-o como um problema, mas reflita sobre o que ele realmente pode ser.

Aproximadamente 60 anos antes do Titanic, 127 de 176 passageiros que emigravam da Irlanda para o Canadá conseguiram se salvar de um naufrágio ao escalar um monte de gelo no golfo do rio São Lourenço. Sendo o iceberg uma enorme plataforma de gelo, uma possibilidade para a tripulação do Titanic seria usar esse mesmo recurso e ficar ali até o resgate chegar.

É difícil dizer se essa tática seria realmente bem sucedida, mas o importante é ver como poucos pensariam nessa possibilidade. Como o iceberg é sempre visto como um perigo, é desafiador repensá-lo como outra coisa. Essa é a chamada fixação funcional, um viés psicológico comum que nos induz a ver algo apenas da forma como ele é utilizado tradicionalmente.

Em 1930, o psicólogo Karl Duncker encontrou uma maneira de driblar essa fixação. Ele entregou uma vela, uma caixa de tachinhas e uma de fósforos aos participantes e pediu que eles pregassem a vela na parede de forma que a cera não caísse no chão quando a vela fosse acesa. A maioria teve dificuldade em ver que a solução era esvaziar a caixa de tachinhas, grudar a vela com a própria cera derretida e então pregar a caixa na parede. Quando a caixa foi apresentada como um recipiente que guardava taxinhas, eles tiveram dificuldade em vê-la como algo mais do que isso.

Uma forma de superar a fixação funcional é subdividir o objeto em seus componentes mais básicos. Uma caixa de tachinhas pode ser deformada, rasgada e utilizada para outras coisas. O mesmo serve para a vela, que é feita de cera, tem pavio, e assim vai.

O físico norte-americano Richard Feynman sempre foi incentivado por seu pai a confrontar a sabedoria tradicional. Ele defendia que, se você estiver preso em um problema, você deve tentar ver o mundo de outro ponto de vista. E isso incluía questionar coisas aparentemente óbvias.

“Pegue qualquer ideia maluca. As pessoas costumavam acreditar em bruxas e hoje ninguém mais acredita. E você pensa ‘como eles podiam acreditar em bruxas?’. Então você inverte isso e pensa ‘vamos ver: em que bruxas nós acreditamos agora?’”

Feynman pergunta “por que escovamos os dentes? Quais são as evidências de que escovar os dentes realmente protege os dentes de bactérias?”. A questão não é se escovar os dentes é eficaz ou não, mas que você questione se você não está apenas repetindo um ritual sem sentido. Resumindo — e repetindo: veja o mundo por um outro ponto de vista.

Essas são algumas formas de desenvolver o processo criativo que Charles Watson apresenta no Creativity MasterClass 01. O workshop volta para BH entre os dias 11 e 13 de março e ainda temos algumas vagas. Se você gostou desses métodos, podemos garantir: o Charles tem muito mais reservado para esses três dias de curso.

A inscrição? Está esperando por você: http://bit.ly/23O8TgQ

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