A criatividade é uma arte combinatória
Problema, repertório e conexões
A frase título do texto é de autoria de Albert Einstein, o físico alemão tido como um dos grandes expoentes criativos e pai de diversos estudos e da teoria da relatividade.
Hoje participei de um workshop de criatividade, em uma escola de atividades criativas, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
Lá, eu e um grupo de colegas de equipe do trabalho, tivemos contato com diversas teorias e estudos, realizamos exercícios e dinâmicas bastante provocativas.
Entre explanações, vídeos e imagens o facilitador, Jean Philippe Rosier, começou com a seguinte definição: criatividade é a atividade de criar, e afirmou uma coisa que já venho praticando há algum tempo:
A criatividade é uma habilidade e pode ser treinada.
Essa afirmação tem como sustentação uma pesquisa sobre neuroplasticidade, realizada com motoristas de taxi e de ônibus na cidade de Londres, em 2011.
Essa pesquisa mostrou que os taxistas tem uma parte do cérebro mais desenvolvida do que os motoristas de ônibus, o hipocampo.
O hipocampo é a região do cérebro envolvida na formação de novas memórias e também está associado com a aprendizagem e emoções.
A pesquisa apresenta como justificativa desse resultado uma simples diferença na rotina diária desses motoristas, enquanto os pilotos dos ônibus tem rotinas pré-determinadas e pontos de parada fixos, os taxistas precisam ter agilidade de pensamento para identificarem os destinos dos passageiros, buscarem rotas alternativas em casos de acidentes ou obras em vias que costumam utilizar em seus itinerários — vale lembrar que no período de realização da pesquisa o GPS ainda não era uma tecnologia disponível para o cidadão comum — .
Você deve estar se perguntando: “O que diabos isso tem a ver com criatividade?”
Se você tem interesse em desenvolver sua criatividade, faz sentido saber como o nosso cérebro funciona, onde são processados novos pensamentos e como as conexões neurais trabalham.
Falando de conexões neurais, Jean explicou que todas as vezes que temos novos pensamentos aumentam as sinapses — que são as conexões neurais que acontecem a todo momento no cérebro — e resgatou uma informação das aulas de biologia do ensino médio, sobre a bainha de mielina.
Parte da composição do neurônio, ela é uma especie de membrana que acelera a velocidade dos impulsos nervosos.
O mais bacana é que a bainha de mielina pode ser fortalecida, como o seu bíceps após exercícios de musculação feitos com regularidade e por um espaço de tempo considerável.
Logo, você tem capacidade de desenvolver suas membranas de mielina para se tornar uma pessoa com pensamentos mais rápidos.
Como transformar seu cérebro em uma máquina de pensamento e mais criativo?
Vamos ao subtítulo do texto.
Problema. Repertório. Conexão.
Duas afirmações feitas pelo facilitador que são importantes para seguirmos:
Se não formularmos bem o problema talvez não tenhamos a resposta que a gente precisa.
Entender o problema é a chave para a criatividade.
Tipos de problemas:
- força bruta — método de solução — tentativa e erro
- sistemático — método de solução — em etapas
- complexo* — método de solução — insights criativos
A diferença mais significativa pra mim entre eles é o processo de busca pela solução. Enquanto nos problemas tipo força bruta e sistemáticos exigem repetição ou sequência linear para obtenção da resposta, os problemas complexos aparentam não ter evolução e, de repente, atingem maior nível de solução.
Após entender o problema é fundamental, para o processo criativo, ativar seu repertório.
Entenda repertório como seus cinto de utilidades — igual ao do Batman.
É aqui que a história do Einsten de arte combinatória começa a ter sentido.
Se você é atua em qualquer profissão e se concentra seus estudos, pesquisas e conteúdos apenas nesse universo, a chance de você e grande parte do colegas, com a mesma área de atuação, deterem grau similar de conhecimentos habilidades e atitudes é grande.
E como se diferenciar? Ser criativo?
Quanto mais completo estiver seu cinto de utilidades, mais possibilidade de encontrar a solução para problemas complexos você terá.
Estudar eixos de conhecimento diferentes, por exemplo um publicitário que estuda frações matemáticas e geologia, ou um engenheiro que estuda antropologia e gastronomia, aumentam a quantidade de ferramentas em seus cinto de utilidades.
Logo, a probabilidade encontrarem combinações ou conexões que os ajude a solucionar o problema complexo também aumenta.
Melhor do que as respostas certas, são as perguntas certas.
Faltou eu citar aqui três itens essenciais para a prática e o desenvolvimento da criatividade.
1. Treinar o olhar atento
Estudos no mundo inteiro mostram que nós, seres humanos, estamos cada vez mais desatentos aos detalhes. Alguns justificam culpando a quantidade de informações, outros dizem que é por utilizarmos o celular por tempo demais. Não importa.
Importante mesmo é que pratiquemos a atenção aos detalhes, assim como as crianças quando veem um brinquedo ou animal pela primeira vez.
2. Olhar para onde ninguém está olhando
Ou termos clichês como, pensar fora da caixa, fazer o que ninguém faz. Enquanto muitos olham com viés negativo, veja o lado positivo de um acontecimento. Ou por exemplo:
Querem proibir a construção de um edifício de 20 andares, com 20 apartamentos por andar, em uma região onde existem poucas vias de acesso. Pense em soluções para o aumento do fluxo de carros, como acolher as pessoas e minimizar o impacto. Veja por outro ângulo.
3. Procurar e construir a lógica
Olhe para um problema e pense qual foi a lógica que o concebeu. Entenda o fluxo que gerou a situação, a sequência de fatos que resultaram nele.
Quando você for capaz de construir a lógica dos acontecimentos enxergará o sistema completo. daí, volto a uma daquelas frases que citei no início:
Entender o problema é a chave para a criatividade.
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*nota de rodapé: na fala original estava insights, alterei para complexo para facilitar o meu entendimento sobre o método de solução.
