Trabalhe com o que você ama

Thiago Ribeiro E Freire
coollab
Published in
4 min readAug 7, 2018

Outro dia li um artigo que falava que a frase “ trabalhe com o que você ama” — algo que já ouvimos e muitos consideram ideal — pode ser um péssimo conselho.

O artigo começa com assim:

“Siga o seu coração. Encontre a sua paixão.

Trabalhe com o que você ama e você não terá que trabalhar nenhum dia.”

https://www.flickr.com/photos/peretzpup/2105860941

A questão apontada no artigo, e que me preocupa é: a interpretação e a atitude sobre a tal busca pela paixão. Pois, tenho interpretações diferentes para amor e paixão.

Paixão é intensa, tem a curiosidade, desafio, porém é efêmera.

Amor tem encantamento, carinho, atenção tende à perenidade.

Concordo com a colocação sobre a necessidade do ser humano se identificar, ver sentido no que faz. E penso que a “identificação” vem com a prática, a vivência daquele atividade.

E essa discussão me levou para uma reflexão comparando com a vida amorosa. Me recordo daquela máxima que diz:

Enquanto não encontro a pessoa certa, vou me divertindo com as erradas.

E se trocarmos a palavra pessoa por profissão?

Mudar de profissão seria como mudar de parceiro?

E se, a busca por uma profissão ideal me levar ao flerte com outras tantas?

Essa troca de experiências amorosas ou profissionais é uma das maneiras de nos conhecermos, evoluirmos, criarmos repertório para adquirir conhecimento das possibilidades e opções, para a tomada de decisão.

Da mesma forma que aprendemos com as relações íntimas, aprendemos com as atividades profissionais que realizamos.

Muitas pessoas falam sobre esse assunto, debates e opiniões não faltam. Mas o que o Marcelo Vieira, sócio da Eureca!, fala no TedxUFABC, de 2014, vai ao encontro do que eu acredito.

Marcelo fala da necessidade de saber quem somos e o que queremos antes de fazermos o que amamos.

Acredito que seja fundamental nos conhecermos, saber o que queremos ou não. E isso só é possível com a experimentação.

Relacionamentos são complicados, pois são pessoas vivenciando juntas diversos momentos, emoções e situações. Somos complexos.

Assim como nas profissões, não existe perfeição.

Toda e qualquer profissão é composta por uma série de atividades. E nem todas elas serão agradáveis, prazerosas.

Acontece que estão vendendo para as gerações atuais que a profissão ideal é aquela que a gente ama.

E isso gera um grau de expectativa, quase impossível de ser atingida ou alcançada, provoca uma enorme frustração.

Que sem maturidade, resulta em um comportamento onde as pessoas ou não querem assumir a parte “ruim” e não se comprometem por muito tempo, ou assumem profissões que escolheram baseadas em opiniões alheias, remuneração, status e protelam decisões, perdendo tempo e investindo energia em carreiras que não lhes agradam.

Daí, é como o Marcelo Vieira fala, é desperdício de potencial.

Pessoas com talentos incríveis, que poderiam trazer mudanças significativas para as sociedades as quais estão inseridas. Acabam infelizes, insatisfeitas, vivendo um modo automatizado e insipiente.

Posto isso, proponho a seguinte reflexão:

Você está satisfeito com a sua profissão? Faz o que ama?

Se a resposta foi sim para as duas primeiras questões, tem uma grande chance de responder positivamente para as perguntas abaixo:

Sabe o que quer? Ou o que não quer?

Caso tenha respondido negativamente, levanto outra questão: O que tem feito para mudar sua realidade?

Está juntando grana para mudar, voltou a estudar, está empreendendo em outra área?

Não importa muito o que esteja fazendo, o que importa mesmo é que se mantenha em movimento. Não aceite a rotina imposta.

Pois, pode ser que tenha vivido 10 anos em uma profissão satisfatória, que lhe trazia alegria e que hoje não faz mais sentido para você.

E por que se limitar em uma profissão?

Não posso ser engenheiro e dançarino?

Advogada e fotógrafa?

Por quê?

Mude! Busque outras opções, persiga sua felicidade, seu propósito. Se sinta realizado!

Falo essas coisas por experiência própria.

Comecei a trabalhar com 14 anos, office boy em uma clínica médica. Durou 1 ano. Aos 17 trabalhei em uma rede de fastfood.

Estudei jornalismo e fiz estágio em jornais impressos, rádio, TV e digital. Fui estagiário na maior emissora de TV do país.

Só que, ao longo do percurso, percebi que não era isso que eu queria. Resolvi mudar.

Me especializei em comunicação corporativa e fundei uma empresa de comunicação, focada em comunicação interna. Durou 2 anos.

Eu não ainda não tinha o “punch” pra empreender, me sentia pouco produtivo.

Migrei para o marketing e lá fui eu novamente para uma especialização. Atuei por 8 anos em diversos segmentos — cultural, eventos, varejo e esportivo.

Há 4 anos me descobri na área de educação e empreendedorismo. Mudei de novo.

Hoje atuo com facilitação e design de experiências de aprendizagem, cursos, workshops, palestras e escrevo sobre esses assuntos. Faço mestrado e pesquiso sobre processos autônomos de aprendizagem, metacognição, estilos de aprendizagem, múltiplas inteligências.

Autoconhecimento é fundamental para nossa evolução como ser humano.

Isso vale para o trabalho e para as relações pessoais.

--

--

Thiago Ribeiro E Freire
coollab

Professor | Mestre em Gestão da Economia Criativa | Pesquisador em Design de Experiências e Estratégias de Inovação | Facilitador |Designer de aprendizagem