Antes de falar sobre estratégia de produto, vamos falar de estratégia?

Usina de UX
CoProduto
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5 min readApr 27, 2020

Acredito francamente que um produto sem uma estratégia tem o pré-requisito essencial para não dar certo. Trabalhar com market-fit assim como com necessidades dos usuários responde a uma boa parte do processo, mas está longe de responder à essência do produto. Há uma resposta ao imediato, mas sem o cuidado, sem um norte, o produto tende a fenecer, porque se tem algo que é a Teoria das Restrições explica que cabe muito bem aqui, quando encontramos a solução para uma restrição, aparece outra. Isso é inerente ao sistema, assim como inerente às necessidades das pessoas.

Nesse sentido, é muito importante construir uma estratégia para o produto que, entre muitas outras coisas, consiga mitigar esse tipo de problema. Mas a conversa aqui, ainda não é sobre estratégia de produto e sim sobre estratégia mesmo. Porque acredito também que precisamos saber do que estamos falando se queremos construí-la do jeito correto, na hora de orientar todo o trabalho que teremos com a solução que estamos entregando.

Sobre o conceito de estratégia, mesmo entre os autores seminais, não existe um conceito aceito por todos. Diversos livros falam dessa ambiguidade e, sem esclarecê-la de fato, vão direto para os assuntos que vieram tratar. O conceito de estratégia, além de não ser consenso, é polêmico porque pode ter diversos vieses e linhas, sem nunca de fato explicar o que é.

Nem o Capitão Nascimento se atreveu (Fonte: Adaptação da imagem - Cibele Ferreira).

Para evoluir no assunto, escolho alguns conceitos para conversarmos. O primeiro deles é do Management Study Guide:

“A general direction set for the company and its various components to achieve a desired state in the future. Strategy results from the detailed strategic planning process”.

Segundo o MSG, estratégia seria um conjunto geral de direcionamento para uma empresa e seus vários componentes para alcançar um estado desejado no futuro. Eles ainda afirmam que estratégia é o resultado de um processo de planejamento estratégico. Vários conceitos, mas tem elementos interessantes. Gosto da ideia de um conjunto de vários componentes e direcionamentos. Essa ideia vem ao encontro da ideia de visão de produto, para conectar com o tema.

Henry Mitzberg, um pesquisador muito importante do tema, considera que estratégia tem mais de um conceito:

1. Strategy is a plan, a “how,” a means of getting from here to there.

2. Strategy is a pattern in actions over time; for example, a company that regularly markets very expensive products is using a “high end” strategy.

3. Strategy is position; that is, it reflects decisions to offer particular products or services in particular markets.

4. Strategy is perspective, that is, vision and direction.

Ele postula que estratégia tem relação com um plano, um “como” que significa sair de um lugar para outro. Ainda comenta que é um padrão de ações durante o tempo, ou seja, o que se faz repetidamente é uma estratégia (pensei aqui sobre hábitos, mas fica para outro momento). Estratégia seria posicionamento, que refletem as decisões que oferecem certos produtos a certos mercados. E por fim, como uma perspectiva, uma visão ou direcionamento.

Gosto bastante dos quatro elementos que o Mintzberg traz para a mesa ao falar de estratégia. Aqui ele fala muito além de planejamento. Ao dizer que a estratégia também pode ser um padrão, um posicionamento ou ainda uma perspectiva, ajuda a conectar com outros aspectos de gerenciamento de produto, como um overview holístico do ciclo de entrega de valor ou como um fruto de uma série de decisões. Outro aspecto interessante é que aqui ele trata como estratégia os rumos que o produto toma, o que sabemos que pode não ser tão estratégico assim (dado a quantidade de produtos que vemos por aí, aventurando-se ao sabor das ondas.

Para completar o trio de conceitos para este texto, quero trazer Michael Porter. Apesar dele escrever muito mais sobre vantagem competitiva e como estruturá-la, a base do que é estratégia fica claro em textos como:

Strategy is about competitive position, about differentiating yourself in the eyes of the customer, about adding value through a mix of activities different from those used by competitors. In his earlier book, Porter defines competitive strategy as “a combination of the ends (goals) for which the firm is striving and the means (policies) by which it is seeking to get there.” Thus, Porter seems to embrace strategy as both plan and position.

Para Porter, estratégia é sobre posicionamento competitivo que traz em um conjunto de diferentes atividades, valor e diferenciação aos olhos de quem consome a sua solução. Essa diferenciação é o que ele chama de “vantagem competitiva” e por isso a ênfase no que é diferente da concorrência, o que torna sua empresa (ou seu produto) único.

Esse conceito de Porter argumenta em favor de dois outros conceitos que conectam muito com gestão de produto: adição de valor para a cadeia do produto e a questão da escolha do usuário. Existe aqui uma preocupação da conexão do planejamento, em primeiro lugar, e depois do posicionamento, que influi muito em como se entrega algo para o usuário. Diretamente ligada, novamente, à gestão de produto.

Nesse viés de estratégia mais como vantagem competitiva (VC), por fim, temos a Rita McGrath dizendo que VC é coisa do passado. Isso porque o mundo muda constantemente e as indústrias hoje são multiposicionadas, e multi-espaços, atuando nos mais diversos segmentos. Se existe alguma VC, ela é temporária e a constante inovação, análise e mudança do que é entregue é que faz a diferença. Vivemos a constância da incerteza e é ela que conduz à uma boa estratégia.

Mesmo que o conceito não seja único, é importante conhecer os múltiplos pensadores para poder construir uma estratégia que faça sentido para o produto. Existem vários pontos que precisam ser levados em conta, não somente a questão tecnológica do produto, ainda que o meio que o toma seja muito importante. Em breve, conversaremos mais como construir essa estratégia de produto que começamos a falar hoje.

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Product Management for daydreamers. I truly believe: design is not about me or my portfolio. Is about the people that i’m designing for.