Decepcionado sim, mas surpreso?

Pedro Umberto
Coração de Roma
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3 min readDec 20, 2020

A palavra medíocre é uma das tantas da língua portuguesa que no dia a dia perdem ou mudam de significado. No senso comum entendemos como medíocre algo necessariamente ruim. O que não é uma verdade. O dicionário nos mostra que o adjetivo em questão serve para categorizar algo que não é nem bom, nem mau, mas médio.

Mas por que todo esse preâmbulo em um texto que deveria ser sobre a Roma e a derrota para a Atalanta? Justamente porque esse texto vai ser muito menos sobre o jogo em si e mais sobre a Roma. A nossa Roma. A Roma de Paulo Fonseca. Que se acostumou a ser medíocre, infelizmente.

A Roma chegou à sua terceira derrota na competição (a segunda em campo). Mas o que chama a atenção é a forma como chegou a essa derrota. Assim como aconteceu com o Napoli há pouco menos de um mês, a Roma viu hoje mais uma acachapante vitória de um time que não chega a ser tão melhor assim que ela, mas mesmo assim foi capaz de marcar quatro gols em um defesa sólida e segurar o ímpeto ofensivo do terceiro melhor ataque da competição.

Essas duas derrotas em questão têm ainda o agravante que na Série A, o critério de desempate é o confronto direto. Nesse caso, a Roma já está em desvantagem ao Napoli e à Atalanta, em caso de empate na pontuação ao final do campeonato.

O buraco é ainda mais fundo se a gente observa que o que aconteceu nesses dois jogos parecem ser regra. Na segunda temporada de Paulo Fonseca à frente da Roma, o time do português enfrentou até aqui 17 vezes os principais times da Itália (Juventus, Inter, Milan, Napoli, Lazio e Atalanta). Ao todo foram 3 vitórias, 6 empates e 8 derrotas. Um desempenho que rendeu à Roma 15 pontos de 51 disputados. Vale ainda ressaltar que uma dessas vitórias foi contra o time reserva da Juventus na última rodada da temporada passada.

“Existem muitas provas contra o Fonseca nesses grandes jogos que não podem ser ignoradas”

O que acontece nesses jogos? Eu sinceramente não sei. Mas a Roma claramente bate no teto e não consegue repetir as boas atuações contra os times considerados menores. Contra o Bologna, o gol aos 5 minutos mudou os rumos da partida. Hoje, a Roma balançou as redes aos 6 minutos. Por que então o roteiro foi tão diferente assim? Quem deve responder isso é Paulo Fonseca.

Você pode até argumentar que o português conseguiu dar uma cara para a equipe, conseguiu transformar em um time competitivo e que até agora a Roma tem ganho — até com certa tranquilidade — dos adversários considerados mais fracos. Mas não pode tamanha mudança de desempenho quando enfrenta os mais fortes.

O trabalho é medíocre. Precisamos dar nomes aos bois. Falar as coisas pelos seus nomes. E aqui eu volto à definição usada no início desse texto. E isso é reflexo do clube que a Roma se tornou nos últimos anos. Afinal, a gente é hoje um time que comemora um empate com a Juventus em casa mesmo sendo superior os 90 minutos. A Roma se tornou um clube medíocre, médio, que toma 4 gols de times que não são tão superiores assim (ou você acha que o Napoli e a Atalanta são tão superiores a ponto de nos golearem?).

Esse talvez seja o principal desafio da nova gestão sob o comando de Dan Friedkin: resgatar a competitividade da Roma. Mudar a cultura no clube. Nem que isso passe por mudanças na direção da equipe. Talvez seja hora de começarmos a pensar que a solução seja mesmo um técnico do calibre de Pochettino, Sarri ou Allegri.

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Pedro Umberto
Coração de Roma

Jornalista latino-americano pela UFRJ, mas queria mesmo ser o Cartola.