Dez segundos para a história
Quando a Roma entrou em campo diante do Bologna, neste domingo (22), era a primeira partida do time de Paulo Fonseca fora do Olimpico na temporada. Pode ter passado despercebido por muita gente, mas após quase um mês do início das competições oficiais de 2019/20, a equipe aurirrubra só tinha jogado no seu estádio. Duas partidas como mandante pela Serie A, mais uma como visitante diante da arquirrival Lazio — tecnicamente em campo neutro, portanto — e a estreia casalinga na Liga Europa. Era inevitável pensar que, com os problemas de desempenho que o time vinha mostrando, o mando de campo foi fator fundamental para a sequência inicial invicta (ainda que com dois empates, um deles ridículo, diante do Genoa). E a Roma teve extrema dificuldade para jogar e vencer fora de casa, por 2 a 1.
MAS QUEM SE IMPORTA COM ISSO?!
Convenhamos, a apresentação foi terrível, mas um pouco de pragmatismo não faz mal a ninguém, em especial para romanistas calejados como nós: seja honesto e pense no que lembrará deste confronto diante do Bologna daqui a cinco anos. Será dos jogos abaixo da média de dois pilares do time, Cristante e Zaniolo (que saiu do banco)? Da partida apagada de Mkhitaryan? Dos sustos causados ali pelas bandas da Avenida Florenzi, nº 24? Ou quem sabe da já clássica irritação semanal chamada Justin Kluivert? Que nada. Talvez nem mesmo a expulsão de Mancini e o baita gol de falta de Kolarov fiquem realmente marcados na nossa memória. O que realmente vai ficar durou cerca de dez segundos. Afinal, o cronômetro indicava 92:50 enquanto Veretout partia com a bola dominada, acreditando mais do que nós mesmos acreditávamos.
O francês deixou para trás três jogadores do Bologna, que pareciam não acreditar no lance, como eu não acreditava. No momento que ele toca para Pellegrini, só há uma opção: cruzar para Džeko, o centroavante encaixotado no meio de quatro defensores, exatamente como passou boa parte do jogo. Quando a bola sai do pé direito do meio-campista italiano, o cronômetro marcava exatamente 93 minutos. A partida terminava ali, no próximo toque na bola. Um segundo antes, o artilheiro bósnio tinha parado a corrida, enganando o zagueiro Denswil, que seguiu alguns passos para frente e perdeu contato na marcação. De repente, estava livre. Bani, o outro zagueiro, já tinha saído para tentar parar Veretout, sem sucesso. Medel tentou cobri-lo, também sem sucesso. E aos 93:01, os cabelos loiros de Džeko tocaram a bola.
Desculpem-me, mas a partida contra o Bologna se resume a isso. São emoções como essas que nos dão, como torcedores, a ilusão de que vale a pena sofrer tanto. Tecnicamente, não vale. Mas vale sim. Não se preocupem com qualquer possível clima de oba-oba; não tem nada a ver com isso. Quando a Roma perder de forma patética daqui a alguns jogos, ou empatar com o Lecce (já pode deixar a aposta no seu site favorito), estaremos aqui lembrando que, na verdade, o time ganhou diversos pontos enganosos por aí. E na quarta rodada, o Bologna foi melhor do que o time de Paulo Fonseca. Todos sabemos disso. Porém, de vez em quando, dez segundos podem valer mais do que 90 minutos. Foi isso que aconteceu no Renato Dall’Ara, no último domingo. O primeiro jogo fora de casa da temporada foi o primeiro realmente inesquecível.