Mourinho chega para a Roma dar o passo mais importante da década

Frank William Toogood
Coração de Roma
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4 min readMay 7, 2021

Mais uma vez trabalhando em silêncio, a nova diretoria da Roma detonou uma bomba no mundo da bola: José Mourinho é giallorosso. A chegada do técnico português de 58 anos tem potencial para mudar o clube de patamar: é o passo mais importante da Era Americana.

Mourinho tem apenas uma única missão: levantar UMA taça pela Roma. Apenas isso. Pode ser a Série A. Pode ser a Conference League. Até a Coppa Itália serve para terminar a seca de títulos. E isso ele provou que sabe fazer.

UM TÉCNICO DE ELITE

Explico. No Real Madrid, no Chelsea, Manchester e Inter, era fundamental que ele formasse equipes dominantes. Em todas elas venceu torneios, mas não foi suficiente dadas as características e a cultura de cada equipe, principalmente no comando dos merengues (Madrid é um mundo à parte — nem vencer o Barcelona de Guardiola e Messi Super Sayajin resolveu).

Na Roma ele poderá trazer e plantar sua mentalidade vencedora, tão em falta na última década. Ninguém espera que a Roma ganhe tudo ou acumule taças em sua gestão. Ninguém espera que ele fique anos no cargo. Mourinho passará. O frutos do seu trabalho vão ficar.

Para vencer, ele pode lançar mão de uma variação tática considerável. No seu último trabalho, fez sua equipe jogar principalmente no 4–2–3–1, mas experimentou jogos no 3–4–1–2, 4–4–2, 4–2–2–2 e no 4–3–3, o que jamais acontecia com Di Francesco e Fonseca.

Corre mais que o Pastore. Bom… também não precisa de tanto assim, vai.

PERSONALIDADE FORTE

Num clube carente de ídolos e de alguém que segure o buscapé sem freio da capital, Mourinho é a pessoa certa para o cargo. Costas largas.

Se em outras épocas Spalletti, Totti e De Rossi blindavam a equipe, hoje é impossível esperar tal atitude de Dzeko e Pellgrini. Menos ainda de Smalling e Cristante. Nem a diretoria salva, já que Thiago Pinto e os Friedkin não parecem ser do tipo extravagantes, que gostam de holofotes.

Numa equipe que tem a parte mental sistematicamente em frangalhos, isso conta muito.

Alguns podem alegar que sua personalidade forte rachará o elenco. É verdade que arrumou desafetos na Espanha e na Inglaterra, mas no vestiário do Olímpico não mora o Dalai Lama — houve até um princípio de MMA regado a catiripapos, que a turma do “deixa disso” estragou.

Tem que ficar pistola, sim. Chega de passividade e de bom moço no banco

Há, sim, o outro lado: conquistou a confiança de muita gente, do calibre de Frank Lampard, Marco Materazzi e Ibrahimovic, que também não são santos.

É fato que nessa altura Mourinho já ligou para os que considera como peças-chave para uma conversa. No mínimo um zap zap maroto. De início, ele vai saber reunir o elenco, passar confiança e suas ideias de jogo.

Os jogadores precisam comprar sua filosofia. E ela inclui um grupo com mais fibra, coragem, coração. Todo mundo tem que entrar em campo “apontando pro xéu”, se é que me entendem.

SOZINHO? SEM MILAGRE

É claro que sozinho não se faz milagre. O próprio Fábio Capello, quando perguntado, foi taxativo: “não basta contratar Mourinho para vencer, também precisamos dos jogadores”.

Passo zero: o português vai precisar reforçar a defesa e as laterais. É a condição sine qua non de construção do seu time. Brinca-se do ônibus estacionado na zaga, mas, considerando essa temporada, é justamente o que a Roma precisa.

Mourinho vendo a zaga da Roma “atuar”.

O lado bom do anúncio nesse momento é que o planejamento pode ser feito com calma, detalhado, buscando as peças certas, no preço certo.

Nada aqui vai ser atropelado — como, aliás, seu trabalho no Tottenham foi. Substituiu um técnico que estava há 5 anos no cargo e que levou o clube a uma final de Champions League. Chegou no meio da temporada (o que não costuma fazer) e ainda precisou encarar a pandemia. Mesmo assim, deixou a equipe na final da Copa da Liga inglesa — e foi demitido antes que pudesse garantir uma taça com os londrinos.

Não te culpo se você considerar Mourinho um técnico decadente. Talvez seu auge já tenha mesmo passado. A eliminação para Dínamo de Zagreb na UEL doeu. E ele chamou a responsabilidade: “Sinto muito que MEU TIME — não quero que paire dúvida sobre isso — meu time, não trouxe para o jogo não só os princípios do futebol, mas também os princípios da vida”.

Se você entende inglês, vale ver como ele reage após uma eliminação catastrófica:

Sério. Procure entender o que ele diz nessa entrevista. Ele fala simples e devagar. É um bom treino.

Agora: para uma Roma que agoniza num 7º lugar, com temporadas medíocres e que muitas vezes lembram a Rometta dos anos 70, a chegada de José Mourinho é um sopro de esperança para dias melhores, com mais vida.

Não tem como não ficar empolgado.

OUÇA TAMBÉM O TOTTICAST #35, onde falamos sobre a chegada de José Mourinho na Roma:

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Frank William Toogood
Coração de Roma

Porque as melhores histórias nascem das inspirações menos prováveis…