O pior tipo de time

GG
Coração de Roma
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3 min readOct 21, 2019

Caso você não tenha assistido a partida entre Sampdoria e Roma, na manhã deste domingo (20), saiba que todos os relatos do jogo que estão por aí são mentirosos. Sim, pois para relatar uma partida é preciso haver algo para relatar; a necessidade da existência do relato é a própria obrigação de encontrar algo para compartilhar com quem o lê. E eu garanto a você, com toda a convicção do mundo, que não houve absolutamente nada a ser compartilhado sobre este jogo. Sem gols, sem futebol, sem importância, sem consequência. É, na verdade, um resumo do que a Roma rapidamente se tornou nesta temporada. Ou talvez do que ela sempre foi e sempre será.

A partida que não importa, em Gênova, foi a décima da temporada romanista e a primeira de uma sequência puxada de jogos. Após um início com tempo para treinar e aplicar sua ideia de futebol, agora Paulo Fonseca não terá mais este privilégio. São sete confrontos em 22 dias, incluindo Milan, Napoli e duas vezes o líder da Bundesliga, Borussia Mönchengladbach. O time chega aos dez jogos com ridículos cinco empates, quatro deles pela Serie A — é o time com mais igualdades em todo o campeonato. E o pior tipo de time é o que ama empatar. Não sai do lugar nunca. É melhor perder mais e ganhar mais do que seguir empatando. Isso para não falar do desempenho…

Nem mesmo aquele início Zemaniano segue vivo na Roma do último mês. O tal ataque avassalador, as vitórias (e derrotas) por 4 a 3 que já projetávamos, tudo parece distante. As lesões são um fato, é claro. O time perdeu inúmeros jogadores importantes e segue perdendo; contra a Sampdoria, foi a vez de Cristante, além do reserva Kalinić. No entanto, o time não joga bem há mais de um mês, bem antes de perder Pellegrini, Mkhitaryan, Diawara… Problema é mais profundo. Os três empates seguidos atuais têm os mesmos sintomas da derrota para a Atalanta e até mesmo das vitórias quase acidentais contra Bologna e Lecce. O time é assustadoramente fácil de neutralizar.

Vejamos uma coisa só nos últimos quatro jogos… Contra o Lecce: 60% de posse de bola, 18 finalizações (5 certas), 24 cruzamentos; Wolfsberg: 65% de posse, 19 finalizações (5 certas), 19 cruzamentos; Cagliari: 66% de posse, 21 finalizações (6 no gol), 20 cruzamentos; Sampdoria: 66% de posse, 9 finalizações (1 no gol), 29 cruzamentos. Percebe o padrão? Não é coincidência. Pior do que colocar Pastore em campo é o técnico insistir em modelo de jogo inoperante. Não ter perdido nenhuma destas quatro partidas é um milagre de Pau López, Mirante, Smalling e poucos outros. O jogo contra a lanterna Sampdoria foi o pior de todos eles e entrar em detalhes seria desperdício.

Beirando a zona de Liga Europa, a Roma ainda tem muita temporada pela frente para se recuperar. É o pior ataque dos nove primeiros colocados e tem uma defesa que sofre mais gols que a do Hellas Verona. Porém, alguns diriam, perdeu apenas um jogo na temporada até agora. O limbo é o mesmo de sempre: sem o necessário para prosperar, mas com o suficiente para não ser completamente inútil a ponto da extinção e da irrelevância que nos libertaria. Esta é a Roma que, semana após semana, segue existindo, indo a todos os lugares e a lugar nenhum ao mesmo tempo, sem rumo, como uma onda irredutível que não encontra destino para se quebrar. E, infelizmente, nos carrega sem soltar.

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