Roma, um time sem jogador

GG
Coração de Roma
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4 min readNov 3, 2018

Por décadas, a Roma era um time de um jogador só. Francesco Totti vivia sendo extraordinário enquanto rodeado de todos os lados por incapazes. Era sua rotina. Sua sina. Em alguns raros momentos da carreira do camisa 10, a instituição desonrosa que ele defendeu por toda a vida fez o favor de lhe dar bons times, como em 2001. Outras vezes, mesmo com equipes no máximo razoáveis, ele e seus companheiros davam um jeito, com coletividade e entrega, de serem melhores do que realmente eram, como em 2007. Mas o núcleo da história de Totti como futebolista foi sendo um jogador sem time. Como na Roma tudo é muito ou pouco demais, nada é na medida certa, a equipe de Di Francesco em 2018/19, menos de dois anos após a aposentadoria do maior ídolo, é o completo oposto: um time sem jogador. E isso ficou ainda mais claro neste sábado, após o empate por 1 a 1 contra a Fiorentina, fora de casa.

Foi um jogo ruim tecnicamente e sem grandes momentos. Na primeira etapa, a Roma comandou as ações, especialmente com bolas longas, mas muitas jogadas morriam em El Shaarawy. Na defesa, alguns sustos quando o time viola saía em contra-ataque, mas as principais jogadas eram dadas pela própria Roma, extremamente displicente na saída de bola. E assim saiu o lance capital, com recuo errado ridículo de Florenzi e um pênalti inexistente marcado para a Fiorentina; 1 a 0. E ficou assim até o intervalo, mesmo com a Roma ainda apertando — foram inúmeras as vezes em que a bola cruzava a área inteira da adversária e… Nada. Mesmo superior, organizado e com boa postura ofensiva, o time de Di Francesco estava perdendo por incompetência ofensiva, displicência defensiva e uma boa dose de interferência do erro do juiz.

Ultimamente, tem sido assim. Você, c̶o̶i̶t̶a̶d̶o̶ torcedor que também segue este time amaldiçoado, faca um exercício mental e tente responder ao seguinte questionamento: quem tem jogado regularmente bem na Roma nesta temporada, com exceção de Olsen? Pellegrini teve uma boa sequência no fim de setembro que durou… Uns dez dias? El Shaarawy é, acredite, o artilheiro do time na Serie A. Ele tem agradado a você? E Kolarov, que parece nunca ter voltado da Rússia após a Copa? Džeko é um senhor atacante e já fez muito pela Roma, mas não faz nem de longe um bom campeonato — está fazendo a diferença apenas na Liga dos Campeões. E até Manolas e De Rossi, historicamente seguros e confiáveis, não escapam dos maus momentos individuais que assolam o elenco inteiro. Ainda assim, a Roma perdeu apenas um dos últimos oito jogos. Coletivamente, é um time. E é só por isso que a situação (ainda) não está insustentável. Mas é difícil se manter respirando quando ao final dos jogos a equipe só tem destaques individuais negativos.

E foi assim também no segundo tempo de hoje, em Florença. Rapidamente, os erros individuais se acumularam. Desarmes errados, passes errados, decisões erradas, finalizações ridículas. Com isso, a postura também foi para o saco, o time se dispersou, os setores se distanciaram e foi ficando difícil reagir. Não havia urgência, não havia nada. Os jogadores pareciam disputar um campeonato interbairros. Por sorte, o que havia era uma Fiorentina muito malemolente do outro lado, que não fazia questão de matar o jogo. Até mesmo nas chances que teve, facilitou para a defesa aurirrubra e também parou na barreira chamada Robin Olsen. No fim da partida, foi castigada com um gol achado pela Roma, em um pequeno bumba-meu-boi, com chute de Florenzi após sobra do goleiro em tentativa desesperada de Kolarov; 1 a 1. O segundo empate consecutivo em uma sequência difícil.

Nesta sequência, aliás, o que importa para a Roma é exatamente se manter respirando. Não seria mesmo contra Napoli e Fiorentina, fora de casa, entre dois jogos fundamentais de Liga dos Campeões contra o CSKA Moscou, que o time daria o salto que ainda precisa dar na Serie A. Mas o problema, já ficou claro, está muito além disso. O problema é ver de onde este salto viria. O time, coletivamente, parece estar dando o que tem condições de dar. É na técnica individual que está o principal ponto fraco da Roma em 2018/19, até aqui. Não só ninguém joga bem como, em momentos decisivos, muitos jogadores se escondem do jogo e da responsabilidade. E se a má fase generalizada não passar, o time sem jogador logo pode, por mais injusto que seja, virar um time sem treinador.

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