Três gols, uma vitória e o quarto lugar

GG
Coração de Roma
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4 min readFeb 9, 2019

Não, este texto não é sobre Chievo 0, Roma 3. Mas a tentação de comparar os times feminino e masculino da Roma é grande. E seria mentira dizer que parte disso não tem a ver com a falta de dignidade demonstrada, jogo após jogo, pelos homens de Di Francesco. Já as mulheres de Bavagnoli decididamente não tem este problema; pelo contrário. Na semana passada, o time perdeu para a Juventus e, devastado por lesões — como os marmanjos também estiveram em vários momentos da temporada, aliás –, não chorou pitangas, usou desculpas ou tirou o seu da reta. Neste sábado (9), tinha pela frente a Florentia, em um confronto direto pela quarta posição. A pressão era grande e o desafio também. Não seja por isso: 3 a 1.

O time romanista perdeu Coluccini e De Criscio na rodada anterior, após já estar sem Ciccotti e com a jamaicana Carter baleada. Durante a semana de treinamentos, Zecca ainda sofreu um baque e não esteve à disposição. Ou seja, de fato a equipe que chegava para um jogo duríssimo contra a Florentia estava bem modificada, à revelia da vontade da treinadora. Ah, e é bom deixar claro: não é como se a quarta posição valesse vaga na Liga dos Campeões feminina ou algo assim, como é o caso na Serie A masculina. Apenas campeão e vice se classificam. A quarta posição, primeira atrás das equipes que disputam a taça ponto a ponto (Juventus, Fiorentina e Milan) vale apenas uma coisa: a honra.

Detesto chover no molhado, mas a cada semana em que se acompanha mais de perto a mulherada vai ficando claro que a principal diferença entre elas e os marmanjos, neste momento, é mesmo a honra. “Lesões, jogo difícil, pressão, confronto direto, distância para os adversários”… Todos soam como tópicos abordados por Di Francesco em uma entrevista coletiva pós-jogo, para justificar um empate após seu time estar vencendo por 2 a 0. Não é o caso. Enquanto se tornou praxe ver atletas desinteressados e irresponsáveis jogando pelo time masculino, foi emocionante a cena da chegada de Coluccini ao Tre Fontane, mancando, apenas dias após a cirurgia, apenas para apoiar suas companheiras na partida.

E elas fizeram o dever de casa. Swaby marcou seu primeiro gol na temporada, de cabeça, logo no início do jogo, abrindo caminho para a vitória. O time inteiro dedicou o tento à lesionada Coluccini, envergando sua camisa. Já no intervalo, mais uma lesão: Simonetti precisou ser substituída. Mas mesmo desfigurado, o time já dominou o primeiro tempo; e não demorou para fazer mais um. Ainda na parte inicial da segunda etapa, Bernauer marcou em gol olímpico. Gol olímpico. Quando foi a última vez que você viu um marmanjo romanista fazendo gol olímpico? A Florentia ainda diminuiu, mas aqui não é um monte de panaca para ter colapso emocional, não. Na reta final, de pênalti, Piemonte fez o terceiro.

Lideradas pela enorme Bonfantini, as meninas fizeram o que fazem sempre. Deram aquele algo a mais que trouxe a vitória. Este algo a mais estava presente no salto de Swaby até o quinto andar para cabecear, na boa partida de Serturini, até cansar e ser substituída, até mesmo na dose de sorte que foi necessária para que o segundo gol saísse: faltou malandragem para a goleira da Florentia. E principalmente, tinha um algo a mais na frieza de Piemonte para converter um pênalti nos últimos minutos. É um time que não foge da raia. E olha que a cobrança é — e tem que ser — muito menor que sobre os meninos. Afinal, é um time em construção que acabou de chegar aos sete meses de existência, enquanto o outro está em eterna reconstrução há mais de 10 anos.

Se alguém ainda não estava convencido, esta vitória deve ter bastado. A Roma coloca seis pontos de distância para a própria Florentia, defendendo com autoridade o quarto lugar, após a derrota da semana passada. À essa altura, todos sabem que as mulheres da Roma valem muito mais do que os homens atualmente. Podem ter certeza que, mesmo quando eles voltarem a ser dignos e merecerem comentários neste espaço, elas também seguirão por aqui. O time merece e sempre mereceu; nós que demoramos para ver. E somos estúpidos de continuar gastando tempo da nossa vida com os marmanjos. Forza ragazze!

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