Um clube sem responsáveis

GG
Coração de Roma
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4 min readMar 7, 2019

Nesta quarta-feira (6), a Roma jogou a partida mais importante da temporada, o jogo de volta contra o Porto pelas oitavas de final da Liga dos Campeões, em Portugal. O presidente do clube estava em Boston. O maior ídolo da história da agremiação, agora dirigente em cargo meramente simbólico, deu entrevista antes da bola rolar, usado como escudo de uma diretoria omissa. O diretor esportivo, quando encontrou com torcedores, os hostilizou. O técnico sequer se apresentou para a entrevista coletiva pós-jogo, o que deve inclusive resultar em multa. E jogadores-chave da equipe deixaram no campo lances que, com um pouco mais de competência, teriam significado a classificação. Ela não veio, é claro. Todos sabem que o Porto venceu por 3 a 1, na prorrogação.

O time da Roma está às moscas. O clube, a instituição, sejamos honestos, sempre esteve. Tem um presidente que não aparece, que não lida com repercussão alguma, que acompanha o time do conforto de sua mansão, recebe todos os bônus e não se vê respingado com ônus algum. Não precisa dar explicações, não esclarece os planos presentes e futuros para o clube, nada. Até certo ponto da temporada, como após uma partida em Florença, por exemplo, ainda parecia haver uma separação forte entre o institucional e o futebol. O time, afinal, tinha padrão, tinha plano de jogo, mas não executava. De certa forma, isso ocorreu contra o Porto, embora eu conteste o plano em si.

Jogadores perdendo chances ridículas, falhando individualmente e entregando gols, até mesmo erros de arbitragem — embora não tenha sido o caso, ao contrário do que as rádios de Roma querem fazer parecer — são questões realmente difíceis de colocar na conta do treinador. O time se apresentar despreparado para as partidas, como ocorreu inúmeras vezes na temporada, em especial de dezembro em diante, me parece muito mais eloquente. Essa é a divisão que ocorreu no ano aurirrubro até aqui. Mais do que números, vitórias, gols sofridos, resultado, como um amaldiçoado que vê o time semanalmente, me sinto confortável em vaticinar: esta Roma falha de todas as formas, individual e coletivamente, em execução e plano de jogo, no último minuto e desde a preparação.

Outro jogo em Florença, é claro, surge como divisor de águas. O 7 a 1 sofrido diante da Fiorentina, pela Coppa Italia, encerrou qualquer possibilidade de crença no resgaste imediato deste time. Eu, particularmente, já tinha deixado de acreditar após o empate vergonhoso contra o Cagliari, mas aquele 30 de janeiro extremamente doloroso solapou qualquer esperança que pudesse insistir em permanecer. E quando falo de resgate imediato, é exatamente isso: não pensem que tenho qualquer convicção de que a Roma, a médio e longo prazo, será melhor com qualquer um desses treinadores que estão sendo cogitados. Estou falando literalmente da possibilidade deste time, atual, de elenco falho e esburacado, fazer alguma coisa.

Diante do Porto, tudo foi um fator. Falhamos na frente do gol, falhamos na preparação, falhamos na estrutura emocional. Falhamos. A partida só foi para a prorrogação porque o Porto também não foi uma grande equipe, não deu aquele algo a mais para se classificar no tempo normal, e tratou de esperar que a própria Roma se eliminasse. Foi o que Florenzi fez, embora ainda tenha dado tempo para Schick se jogar dentro da área e a narrativa, de alguma forma, mesmo com tudo o que o time não fez e não faz, se voltar contra a arbitragem. Ao contrário da semifinal contra o Liverpool, ano passado, o árbitro sequer errou. E se tivesse errado, também não seria o culpado. Como sempre, a Roma tem apenas a si mesma para culpar.

Infelizmente, culpar a si mesma, neste momento, é não ter quem culpar. A Roma não possui reais responsáveis. Se desde dezembro eu penso que o técnico precisava ser substituído, também é necessário dizer que é ele quem tem dado a cara a tapa este tempo todo — não fazendo mais do que a obrigação, é claro. Porém, com toda a incompetência recente, Di Francesco é um homem digno. Monchi é tão ou mais incompetente, e muito menos digno. O mesmo pode ser dito sobre James Pallotta. A derrota e a eliminacão são daquelas mais dolorosas, e a dor não passará rápido. Porém, ela seria diferente caso tivesse um propósito. Caso fosse possível ver um futuro. Não é. Com esses homens tomando as decisões, seguiremos agonizando. Como sempre.

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