Veretout marcou os dois gols da Roma no empate contra a Juventus

Um macarronada à romana com molho agridoce, por favor

Pedro Umberto
Coração de Roma
Published in
4 min readSep 28, 2020

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Romada: atitude de abrir mão de vantagens significativas e entregar “de bandeja” para o adversário. Certamente essa definição você não encontrará nos principais dicionários da língua portuguesa, mas se você é chegado ao meio do futebol internacional, você muito provavelmente já a escutou.

O romanista já está calejado em ver nos últimos anos a sua equipe praticar inúmeras vezes a famigerada romada. Não que isso signifique que o torcedor não fique frustrado com as corriqueiras entregadas. Pelo contrário.

A partida de domingo contra a Juventus foi basicamente assim. Não que a Roma tenha entregue um jogo depois de estar com uma larga vantagem. Não foi isso. Mas as chances desperdiçadas frente ao principal time do campeonato italiano deixou o empate mais com um sabor de derrota do que qualquer outra coisa.

O jogo foi como imaginávamos. A Roma se resguardava na defesa, entregava a bola para o adversário e esperava as oportunidades para contra-atacar. Logo nos primeiros minutos, Mkhitaryan teve a primeira das muitas chances claras que a equipe de Paulo Fonseca desperdiçaria na partida. Depois de percorrer o campo de ataque praticamente sozinho, o armênio driblou Bonucci e cara a cara com Szczesny, chutou em cima do goleiro polonês quando tinha praticamente o gol todo aberto.

A Roma seguia saindo nos contra-ataques rápidos com Pedro, Mkhitaryan e Spinazzola a partir dos lançamentos para Dzeko disputar com os zagueiros adversários. Como falamos no primeiro episódio do Totticast, a equipe é outra com o bósnio em campo. Aos 31 minutos, Veretout converteu o pênalti depois de Rabiot colocar a mão dentro da área.

O que poderia ter deixado o jogo mais tranquilo, logo logo se esvaiu. Afinal, se trata de Roma. E mesmo sem a Juventus ameaçar em nenhum momento do jogo, Pellegrini fez questão de retribuir o favor de Rabiot e colocou a mão na área em um jogada completamente estúpida. E Penaldo não perde, gol deles.

Mas se a Roma é mestre em jogar um banho de água fria nos torcedores, ela fez exatamente o contrário. Um minuto depois do gol de empate, Dzeko deu um grande lançamento para Mkhitaryan entrar junto de Veretout e Pedro, contra apenas um defensor da Juventus. Gol do francês aos 46 minutos do primeiro tempo.

Segundo gol de Veretout no jogo

Na segunda etapa a Roma teve ainda mais espaço para contra-atacar. Dzeko teve a bola do jogo em seus pés em duas oportunidades. Se na primeira ele tirou o zagueiro lindamente antes de carimbar a trave, na segunda ele recuou para Szczesny. Mesmo que a Juventus pouco incomodava, ficou evidente que as chances perdidas fariam falta depois. Ainda mais quando Rabiot foi expulso deixando a Roma com um a mais a partir dos 17 minutos.

Se era a chance de matar o jogo, foi a Roma que foi morta. Quando Danilo acertou um cruzamento na cabeça de Cristiano Ronaldo dentro da pequena área, nas costas de Mancini e sem que Bruno Peres esboçasse nenhuma reação. Coincidência ou não foi um minuto após a entrada do brasileiro no lugar de Santon, que certamente faria algo melhor por ser mais alto (ou minimamente melhor do que o jogador que foi dispensado de uma equipe da segunda divisão do Brasil).

A partir de então a Roma pouco criou. Tal qual a Juventus. Os giallorossi ainda ficaram em cima no final e tiveram boas oportunidades, apesar de nenhuma muito clara. Com Pedro e Mkhitaryan cansados, Paulo Fonseca poderia ter mexido no time, nem que fosse para colocar correria e sangue novo com Kluivert e Carles Pérez, mas parece que o português esqueceu, de novo, que ele tem direito a 5 substituições. Pelo segundo jogo seguido, nosso treinador terminou o jogo com substituições a fazer enquanto precisava do resultado. Se ele quis passar um recado para Friedkin de que o elenco é limitado, acho muito difícil que surja algum efeito (e ele deve saber disso muito bem). Se não, ele só é maluco mesmo e aceitou o empate. Vai entender…

Roma encara a Udinese no próximo sábado

Antes do campeonato começar é provável que a maioria do torcedor aceitasse se lhe fosse oferecido um ponto no confronto com a Juventus. Inclusive, no Totticast #2 provavelmente todos aceitariam esse pontinho quando prevíamos a partida de domingo. As circunstâncias, no entanto, a qual a Roma conquistou esse ponto, dá a sensação de que na verdade desperdiçamos dois e não ganhamos nada.

Se levarmos em conta ainda a derrota (na tabela e não no campo) na primeira rodada a situação é ainda pior. Afinal, todos nossos adversários diretos venceram na rodada, alguns inclusive já somam seis pontos enquanto temos apenas um. Sabemos muito bem que o campeonato é longo, para bem e para mal, e muita coisa pode acontecer. Foram só duas rodadas de 38, mas é bom pensarmos em ganhar os jogos. Começando pela Udinese no sábado.

No fim das contas, o duelo contra a Juventus mais pareceu uma macarronada com molho agridoce. Uma combinação que ninguém em sã consciência ousa experimentar, mas que diz muito do sabor dessa partida para a Roma.

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Pedro Umberto
Coração de Roma

Jornalista latino-americano pela UFRJ, mas queria mesmo ser o Cartola.