Elisa Felix
Corações fragmentados
3 min readApr 9, 2023

--

Um dia de chuva e neblina

(reprodução da internet)

Eu costumo me lembrar de datas, sempre gostei de marcar o dia de coisas importantes para mim, mesmo que nem todas as lembranças sejam boas.

Há duas semana fez dois anos que eu sorri de verdade desde que o perdi, não faz muito sentido lembrar disso agora, nem é o aniversário da morte dele.

Mas é uma marca importante.

Eu passei meses em uma semi-vida, sobrevivendo e fingindo que havia superado.

Até que eu quase perdi tudo e me dei conta de quanta coisa eu ainda tinha para aproveitar, pois é nesses momentos que descobrimos o que estamos dispostos a abrir mão.

Foi uma jornada difícil, não vou negar, cada dia era mais doloroso que o anterior e perdi as contas de quantas vezes pensei em desistir.

Por isso é importante lembrar do primeiro sorriso verdadeiro depois desse período, foi uma pequena vitória que merece ser celebrada.

Estou pensando nisso agora porque minha melhor amiga, que esteve comigo nesse momento memorável, acabou de contar uma piada muito ruim e estamos chorando de rir enquanto fazemos nossa corrida matinal.

Foi um hábito que adquiri após perdê-lo, correr, no começo era para esquecer até que se tornou mais uma razão para lembrar que eu ainda estou viva e que devo aproveitar.

Ela começou a me acompanhar alguns meses atrás e as nossas manhãs nunca foram tão boas.

Quando eu corria sozinha tinha muito tempo para pensar no que perdi, no que devia superar e costumava chorar em alguns momentos. Agora nós conversamos e rimos e eu me lembro constantemente de tudo que eu tenho e como sou grata por isso.

Está chovendo e nós estamos encharcadas, rindo como duas bobas enquanto tentamos recuperar o ritmo e manter as passadas constantes.

É bem cedo então as ruas, em sua maioria, estão desertas. Costumamos levar menos tempo para fazer esse trajeto, no entanto, hoje ela está no mood piadista e não conseguimos dar uma volta sem parar para recuperar o fôlego.

O dia está com uma neblina leve e somando com a chuva que cai a visibilidade está muito reduzida, mas nós não estamos prestando atenção e quantas coisas na vida perdemos por falta de atenção?



Eu tomo a frente da corrida depois de implorar para que ela pare com as péssimas piadas para que possamos voltar e nos aquecer quando resolvo eu mesma contar uma piada, uma muito ruim que ia fazê-la chorar de rir.



Acontece tão rápido, num piscar de olhos.

Tudo que eu vejo é uma luz forte, surgindo do nada no meio da neblina.

Splash

É como um déjà vu.

A água da chuva que se acumula no asfalto molhando meu corpo.

O calor que emana do motor do carro soltando fumaça no dia frio.

Menos de 30 centímetros nos separam.

Dessa vez eu sinto meu corpo tremer, como uma britadeira, tudo treme.

Porque dessa vez eu tive medo.

--

--

Elisa Felix
Corações fragmentados

Sem início, sem fim… Um eterno e talvez aconchegante MEIO.