Lugar de calcinha usada é o lixo? Para a Caon Lingerie, não. Veja alternativas

CORA Design & Co
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5 min readFeb 13, 2020

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Com consultoria da CORA, a Caon criou, além de lingeries bonitas e confortáveis, um sistema que recolhe peças usadas para dar a elas novo destino: higienização, conserto e doação de calcinhas e sutiãs para mulheres em situação de vulnerabilidade — ou, no caso de peças que não puderem ser reparadas, a transformação do resíduo têxtil em matéria-prima renovável.

A empreendedora Rosele Caon entre suas amigas no dia do ensaio fotográfico para o lançamento oficial da Caon Lingerie, no fim de 2019 (foto: Raul Krebs)

No começo de uma marca de moda responsável, uma transformação individual

Por muito tempo, a arquiteta Rosele Caon associou beleza à quantidade de roupas e sapatos que tinha no armário. Mais era mais, sempre. Até que, motivada por questões pessoais, viu essa relação mudar: quis se afastar dos excessos e ter menos cobranças estéticas. Aos poucos, diminuiu o volume de compras, entendendo que não precisava de tanta roupa e maquiagem. Viu que eram fortes as conexões entre moda e sustentabilidade. E decidiu lançar a Caon.

Jornada de autoconhecimento, ética e estética

A escolha por fazer lingerie não foi à toa: sabia que, criando uma marca de roupa íntima, poderia ajudar outras mulheres em suas jornadas de autoconhecimento — queria que mais mulheres conseguissem se sentir bem como eram, sem precisar se adequar a vontades masculinas ou da indústria da moda. Rosele estava disposta a falar com mulheres de diversas camadas da sociedade, que sofriam, a seu modo, com a imposição de padrões. Para isso, mergulhou na pesquisa. E chegou à constatação de um desequilíbrio:

De um lado, muitas mulheres em situação de vulnerabilidade não têm acesso a roupas íntimas (falta calcinha até mesmo para os dias de menstruação, quando o uso de absorvente descartável se torna difícil); de outro, há uma enorme quantidade de calcinhas e sutiãs no lixo, descartadas em boas condições. Foi daí que veio a ideia: quebrar o tabu, fechar o ciclo das peças e ajudar na prática.

Rosele quer que mulheres de diversas camadas sociais tenham acesso a lingerie (foto: Raul Krebs)

Por meio da marca, Rosele encontrou uma forma de agir e defender causas nas quais acredita: em primeiro lugar, disponibilizando calcinhas e sutiãs com os quais mulheres se identifiquem (as fotos da campanha mostram mulheres que assumem suas marcas e não estão em busca do corpo perfeito). Mas, além disso, decidiu virar uma empresa social e comprometer-se a ajudar pessoas por meio da junção entre ética e estética.

As lingeries são doadas em saquinhos feitos com amostras de tecido (aqui, a montagem das entregas no Centro POP 2, em Porto Alegre)

O sistema de logística reversa evita que calcinhas e sutiãs — ou seja, resíduo têxtil — sigam para o lixo. Mas vai muito além

Em pontos de coleta de Porto Alegre, a Caon RECOLHE peças íntimas usadas de qualquer marca. Depois, HIGIENIZA e REPARA as calcinhas e sutiãs, deixando-os ideais para uso. Também ENTREGA essas peças às mulheres em situação de vulnerabilidade, pertencentes à rede de acolhimento da capital gaúcha. As peças que não podem ser recuperadas em função do desgaste são encaminhadas para Taquara/RS, aos cuidados da empresa Ambiente Verde. Por lá, as sobras de tecido viram matéria-prima para embalagens da Caon, que podem ser continuamente recicladas.

Quem banca a operação, que inclui serviços de logística, lavanderia industrial e costura, é a venda de novas calcinhas

As vendas acontecem em lojas e eventuais feiras independentes em Porto Alegre e no canal digital da marca, o Instagram. Ou seja, a partir da compra de novas calcinhas, as pessoas têm acesso a um produto de qualidade e, de quebra, patrocinam um projeto social que ajuda diversas mulheres, fazendo girar a roda de impacto sócio-ambiental positivo.

Emoção na entrega da primeira leva de calcinhas e sutiãs, no Centro POP 2, em Porto Alegre. Agradecimento especial à Tânia Guimarães da Silva (no meio), assistente social da Fundação Solidariedade, que nos ajudou em todas as etapas do processo, sempre com muita gentileza.

Importante dizer: a Caon tem como fonte de inspiração o tema emancipação feminina, ligado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 da ONU (equidade de gênero). Essa diretriz respinga em tudo que a Caon faz e foi essencial para a CORA desenhar a estratégia da marca, que se propõe a questionar as práticas convencionais das marcas de moda.

Dividimos o trabalho nas seguintes entregas:

1 #imersão estratégica

Mergulhamos na história da empreendedora, ouvindo suas expectativas e referências de moda. Transformamos tudo isso, por meio da metodologia do design estratégico, em um modelo de negócio. Esse ponto de partida deu coesão à marca, que se colocou desde o início como empresa social que tem como objetivo unir sustentabilidade financeira à concretização do propósito.

2 #plano de ação

Em cocriação, definimos um sistema de logística reversa para as calcinhas e sutiãs — não apenas da Caon. E entregamos para a empreendedora um passo a passo de como implementar o projeto, incluindo indicações de fornecedores confiáveis e alinhados à proposta da marca.

3 #estratégia de lançamento

Tendo em mãos uma narrativa centrada na emancipação feminina, planejamos o lançamento da marca ao mercado local no fim de 2019, tendo em conta canais prioritários, como o Whatsapp e o Instagram, e viabilizando uma rotina saudável para a empreendedora (que precisaria dar conta sozinha, em um primeiro momento, da produção das peças e da comunicação).

Em 2020, o projeto segue com mentoria para a Caon — e essa continuidade é um indicador de sucesso para a CORA! Bem felizes, pretendemos trazer notícias fresquinhas em breve. Enquanto isso, siga o trabalho da Caon no Instagram da marca.

No lugar de modelos, mulheres que celebram seus corpos e as marcas que só eles têm (foto: Raul Krebs)

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Consultoria para Sustentabilidade e Ética nos Negócios de Moda