WhatTheySay: tecnologia para acessibilidade
Luciano Borges e Jackson Smith
Quase 80 mil pessoas com deficiência auditiva trabalham com carteira assinada no Brasil. O dado é do Ministério do Trabalho, em levantamento realizado em 2017.
Meu nome é Luciano, sou analista de qualidade de software e possuo deficiência auditiva. Eu me comunico com as pessoas fazendo uso de leitura labial, e não de Libras. Passei por várias áreas de atuação até chegar na TI. E por muitas vezes enfrentei dificuldades com a falta de acessibilidade no ambiente de trabalho. Mas sempre procurei abraçar oportunidades de me adaptar a mudanças e também de transformar dificuldades em aprendizados. Em algum momento na minha trajetória, percebi que poderia usar tecnologia para contribuir com a acessibilidade para pessoas com deficiência.
Na maioria dos lugares em que trabalhei, a comunicação era quase sempre presencial. Mas existia uma barreira: a reunião remota. Boa parte dos projetos da ThoughtWorks são distribuídos, por isso, temos muitas reuniões remotas. Quando cheguei na empresa, já utilizava uma ferramenta que transcrevia áudio em texto, porém o resultado deixava a desejar: apenas 30 a 40% do conteúdo em áudio era convertido em texto.
Um dia, nosso colega Leandro Miglioli, que é desenvolvedor de software e também possui deficiência auditiva, me mostrou um e-mail com uma lista de projetos de acessibilidade, e um deles me chamou atenção: um projeto de transcrição para tornar conteúdos de palestras acessíveis para pessoas com deficiência auditiva. A ideia me inspirou.
Da ideia à execução
Estava na praia quando o Luciano me procurou. Bom, eu não estava exatamente na praia. Na ThoughtWorks, dizemos que estamos na “praia” quando não estamos em projetos de clientes. É um momento que usamos para estudar, aprender coisas novas e trabalhar em iniciativas que surgem internamente. Iniciativas como o WhatTheySay.
Meu nome é Jackson e sou desenvolvedor de software na ThoughtWorks. Depois desse papo inicial com o Luciano, formamos um time com o objetivo de desenvolver uma ferramenta de transcrição de áudio intuitiva e acessível para pessoas com deficiência auditiva, que pudesse ser usada em reuniões presenciais ou remotas, e também em cursos online e outros tipos de vídeo.
Juntaram-se a mim e Luciano o Leandro Vicente e o Guilherme Leonel (desenvolvedores de software), o Yuri Pessa (experience designer), a Marcela Januário (analista de qualidade) e a Gisele Lima (analista de negócios). Usando JavaScript e HTML, começamos com um protótipo e chegamos a uma extensão do Chrome, que hoje está em sua segunda versão.
Contabilizando as duas versões disponibilizadas, a ferramenta conta hoje com cerca de 220 pessoas usuárias ativas. Além do Brasil, a extensão é atualmente usada por pessoas em países como Estados Unidos, Chile, Coreia do Sul e Arábia Saudita.
A ferramenta entrega hoje cerca de 90% de transcrição do conteúdo em áudio (a taxa pode variar de acordo com a qualidade do áudio). E não paramos por aqui. O WhatTheySay nasceu de forma colaborativa e hoje é um projeto de código aberto, aberto para todo mundo que acredita na tecnologia a serviço da acessibilidade e que queira contribuir.