À espera de ver o comboio passar

Andrea Guerreiro
cordão
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2 min readJun 5, 2021

​Sou só eu que acho que (quase) todos os casais são um erro de casting? O que raio há de errado connosco para escolhermos parceiros com quem não partilhamos gostos, objetivos de vida ou formas de estar em sociedade? Porque é que na amizade procuramos pessoas com quem nos identificamos e no amor nos sujeitamos a andar ao sabor da paixão? “Os opostos atraem-se” com que propósito? Quem raio fez essa macumba de juntar pessoas que, não fosse uma qualquer força inexplicável da natureza, nunca na vida se emparelhariam?

E depois andamos todos a tentar, a tentar e a tentar (tentamos tanto) fazer as coisas resultar. Mas fica a faltar leveza. É com toda a dedicação, mas em esforço. E os nossos queridos filhos, que não têm culpa nenhuma desta fatalidade que acomete os adultos, sugam-nos toda a energia que costumávamos dedicar a esses esforços. Não queremos estar sozinhos, mas custa tanto estar junto.

E é aqui, neste preciso ponto em que nos damos conta de que não é fácil, que a corda estica (estiiiiiiica) e quase rebenta. Largamos a corda no chão. Todos com as mãos fora da corda! Fingimos de mortos e ela regenera. Está agradável o tempo, não está? Como foi o teu dia? Sim, também vi essa notícia!

Ao mais breve vislumbre de um comboio encarrilado ganhamos fôlego para seguir até à próxima estação. Mas sempre a compensar os atrasos acumulados pela espera nas anteriores. Resta-nos o conforto de saber que é assim em quase todas as casas. Fomos (quase) todos ao engano. E nesse engano permanecemos, pelo gosto de fazer resultar.

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