Sara Guia de Abreu
cordão
Published in
1 min readJun 5, 2021

--

A culpa ao contrário

Depois surge um espaço onde me posso expressar livremente, sem julgamentos, e durante dias não consigo dizer ou escrever nada porque no meio de tantas mães cansadas, revoltadas, tristes até, eu sinto precisamente o oposto e acho que se não for para me queixar, o que tenho para dizer não tem lugar. Como se fosse ofender alguém por dizer que o meu bebé de 6 semanas me deixa dormir à noite, que o meu marido divide absolutamente tudo comigo e não me deixa ficar exausta nem sentir o peso do mundo aos ombros.

Como se por dizer alto que – contra todas as minhas expectativas – estou feliz, que não me sinto exausta e que a adaptação à nossa nova vida está a ser mais orgânica e natural do que alguma vez pensei possível fosse estragar, mudar a minha sorte. Shhhiu, não agoires.

Mas por que será que tenho vergonha em ser feliz? De onde vem esta culpa por estar tudo bem? Por que é que não me sinto merecedora de tanto e, se não for para dizer que tudo me custa, prefiro estar calada?

Por que é que sinto que se não estou exausta certamente não estou a fazer algo bem?

(Pronto. Agora que escrevi isto é que vai tudo mudar, não é?)

--

--