Patrícia Ferreira Lourenço
cordão
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3 min readJun 17, 2021

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A maternidade, tal como tudo nesta vida, deveria ser levada com naturalidade, sem pressões. Deveria ser um caminho guiado pelo coração e não pelas normas que a sociedade dita. Isso iria sem dúvida diminuir o stress e as comparações, porque no fundo uma pessoa que está conscientes das suas escolhas, que se sente bem com o seu caminho, não sente necessidade de julgar o outro. Infelizmente na grande generalidade, e de forma mais ou menos conscientes, deixamo-nos levar por aquilo que a sociedade diz que é suposto gostarmos, o que é suposto conquistarmos nas várias etapas da vida, quem devemos ser e como devemos agir. Quem foge deste padrão gera confusão e não é bem aceite.

Vivemos numa sociedade onde cada vez mais a família é colocada em segundo plano. Eu sempre dei muito valor à família, depois de ser mãe o foco na família ampliou-se e acredito, com todo o meu coração, que é a raiz da construção da sociedade.

Uma família que investe tempo nela gera frutos que são indispensáveis, e urgentes, para o crescimento de um mundo mais equilibrado. É na família que nascem os valores que são transmitidos de geração em geração. É na família que se aprende a amar, a respeitar, a ouvir, a dialogar, a ajudar, a partilhar. Não é o que todos queremos? Um mundo com mais amor, mais respeito e mais empatia. Estes são valores que todos nós recebemos, contudo parece que estão a perder protagonismo nestas nossas vidas sempre apressadas, com mil e uma tarefas, com demasiadas horas de trabalho. Passamos mais tempo nos nossos locais de trabalho do que em casa. Não temos tempo para estamos conectados connosco, com aqueles que nos rodeiam. O equilíbrio entre estes dois mundos é urgente. Toca-me este tema porque nunca me identifiquei com estas filosofia de vida e a maternidade só veio afirmar ainda mais o que sentia. Para mim, um caminho que não priorize o bem estar e a família, não é um bom caminho.

Fui mãe em 2019 e estive 9 meses dedicada exclusivamente à minha família e a ser mãe a tempo inteiro. Quando terminei a licença voltei ao mundo do trabalho e desde esse momento que sinto que já não me identifico com o que faço, ou melhor provavelmente será nos moldes em que faço. Falar abertamente disto faz comichões a muita gente porque, segundo a sociedade, é errado eu dizer que nesta etapa da minha vida preferia ser mãe a tempo inteiro. Rapidamente sou rotulada de preguiçosa, de não ter ambição, de ser insatisfeita e de me ter anulado por causa da maternidade porque deixei de ser eu mesma. Mas a questão é exactamente essa, eu já não sou quem era. A mudança é natural. Mudam-se hábitos, mudam-se crenças, mudam-se sonhos, desejos, perspectivas e está tudo bem. A mudança é a única constante nesta vida por isso não compreendo a dificuldade que as pessoas têm em admitir que mudaram. Em aceitar nelas, e nos outros, essas mudanças.

Nesta jornada tenho encontrado mulheres inspiradoras que mostram que podemos ser tudo o que quisermos, há espaço para todas, tudo está certo quando é feito de coração. Estou certa do que sinto e do que quero. Preciso encontrar o equilíbrio nem que tenha de dar uma volta de 180 graus à minha vida. A maternidade veio finalmente fazer-me gostar de mim, por completo, e amar o papel que tenho na construção da minha família. Se a vida não vale por isto então não sei pelo que valerá.

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