Catarina Neves
cordão
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1 min readMay 27, 2021

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O meu instinto maternal nunca foi muito óbvio. Nunca fui daquelas pessoas que dizia desde pequena que queria ser mãe. Mas também nunca disse o contrário. Fui deixando o tempo fluir, sempre com um “para já não quero ter filhos”. Até que quis.

Engravidei, e um mês depois de saber que estava grávida, a pandemia rebentou em Portugal. Tive mil dúvidas e mil receios. Não só pela pandemia, mas também pela minha ansiedade em garantir que estava tudo bem.

Por causa disso, não fui uma grávida descontraída. Não me interpretem mal, eu estava muito feliz. Mas a par dessa felicidade, também tinha muito medo. Cada ecografia (em que tinha de ir sozinha, porque nunca foi permitido que o pai do bebé me acompanhasse) era um sobressalto. Respirava de alívio quando saía do hospital, mas à noite todas as dúvidas, medos, ansiedades surgiam na minha cabeça. Dizia muitas vezes que gostava que a barriga fosse transparente para ver que estava tudo bem com ele ali dentro.

Os meses foram passando, a barriga crescendo e a minha ansiedade de o ter nos braços também. Ele nasceu. Pequenino, pequenino como um Nenuco. Mas saudável.

E eu, que achei tantas vezes, que ia demorar mais tempo a amar o meu bebé, apaixonei-me à primeira vista.Foi (é) um amor avassalador. Agora questiono-me como pude duvidar da minha capacidade de amar. Da minha capacidade de ser mãe. Afinal, o instinto maternal sempre esteve lá. Mas só agora o pude, realmente, descobrir.

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