O medo

Catarina Neves
cordão
Published in
2 min readJul 15, 2021

Durante a minha gravidez, tive sempre receios. Muita gente pensará que a gravidez na pandemia despoletou todos esses receios, mas nem foi isso. Tenho a certeza que eles aconteceriam em qualquer circunstância. Porque, quando queremos tanto alguma coisa, temos sempre medo que não dê certo.

Eu, tive receio a partir do momento em que vi aquele positivo. E, depois, foi por fases. Receio de estar grávida, mas ser uma gravidez ectópica. Receio de perder o bebé no primeiro trimestre. Receio da ecografia morfológica revelar o pior e ter de tomar, provavelmente, a decisão mais difícil da minha vida até esse momento. Receio do bebé nascer e perceberem que afinal algo não estava bem. Nem sequer cantei ou falei muito para o meu bebé, dentro da minha barriga, como se isso fosse modificar alguma coisa no caso de um desfecho infeliz.

O que ninguém me disse, foi que todos esses receios eram um grande nada, até ele nascer. Sim, já havia uma consciência de que o ser mais importante da minha vida estava a crescer dentro de mim. Mas, ainda assim, não era tão real.

Real, é quando nos colocam o bebé nos braços. Ali está ele. Real, palpável, pequenino e com os olhos inchados. Aquela carinha surpresa de “onde é que eu vim parar”. E tudo o que nos contam sobre esse momento e até sobre os seguintes, é sobre o amor que vamos sentir. Sobre essa mudança incrível e intensa, sobre não dormirmos, não comermos e não tomarmos banho durante dias. Mas de valer sempre a pena. Por ser tudo em prol do maior amor da nossa vida.

O que ninguém nos conta é que com o amor, vem o medo. O maior medo da tua vida. Medo de falhar. Medo de faltar. Medo dele ficar sem ti, de repente, e não lhe poderes explicar porquê. Medo que ele adoeça. Medo que tu adoeças. Medo de não o ver crescer. Medo de saber que não o vais poder proteger de tudo, nem almofadar o mundo só para ele. Medo. De tudo. Para sempre. Ninguém me contou nada sobre o medo.

--

--