Um título simbólico e uma dúvida: agora que o Palmeiras tem Copinha, o que fazer com os campeões?

Goleada sobre o Santos e conquista inédita premiam trabalho de reconstrução da base e colocam “problema bom” para Abel Ferreira

Fernando Cesarotti
Corneta & Amendoim
4 min readJan 26, 2022

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Corre atrás de piada, rival: o Palmeiras tem Copinha sim! (Foto: Fábio Menotti/Palmeiras)

O Palmeiras não precisava do título da Copa São Paulo de Juniores para saber que seu trabalho de base dos últimos anos é excelente. Mas, claro, a conquista inédita, selada nesta terça-feira com uma goleada por 4 a 0 sobre o Santos, traz um valor simbólico importante. Trata-se, afinal, da pioneira e da mais charmosa competição de base do Brasil, a única que tem sua decisão transmitida pela principal emissora de TV aberta, num dia de feriado para a cidade-sede do clube.

E, claro, serve para acabar com a graça dos rivais, que precisam ficar reinventando musiquinha de zoação para compensar os feitos que o Palmeiras tem conquistado nos últimos anos. Agora nem precisa mais dizer que “a nossa Copinha é a Libertadores”: os garotos do Palmeiras são importantes na Libertadores, mas também ganham a Copinha.

Uma conquista merecida, aliás: oito vitórias em nove partidas disputadas num intervalo de 20 dias, sendo seis delas eliminatórias. 29 gols marcados, o melhor jogador da competição, Endrick, também autor do gol mais bonito, a bicicleta marcada contra o Oeste, nas quartas de final, em Barueri.

E agora, após a festa, vem o desafio: como aproveitar esses garotos no time principal? O que fazer com eles e como permitir que eles possam continuar seu processo de evolução? E nem estamos falando de Endrick: já parece claro que Abel só vai pensar em aproveitá-lo depois que completar 16 anos e tiver um contrato profissional, sempre com muito cuidado para não deixar o garoto queimar fases demais (porque algumas fases ele já queimou e vai continuar queimando, mas é preciso pensar especialmente na formação física dele).

Muitos dos jogadores já disputaram partidas com o time principal no Brasileirão — e saíram invictos de três jogos em que foram a espinha dorsal da equipe na reta final, em vitórias contra Cuiabá e Ceará e empate com o Athletic-PR. Os laterais Garcia e Vanderlan, por exemplo, parecem preparados para disputar posição entre os titulares, assim como o volante Fabinho, pilar do meio-campo campeão da Copinha.

Lista com os jogadores inscritos do Palmeiras para o Paulistão.

Bota no Paulistão? Devagar…

A solução inicial poderia ser “coloca a base no Paulistão”; mas o regulamento do Estadual não permite que isso seja feito com facilidade. Ele divide os jogadores em duas listas: a “lista A” tem no máximo 26 atletas; a “a lista B”, que tem número ilimitado de jogadores revelados pelo clube, mas só sete atletas dessa lista podem estar em campo ao mesmo tempo.

A lista ao lado tem 27 atletas porque Renan, Danilo e Veron puderam ser inscritos como “base”, embora já estejam há tempos no elenco principal.

De toda forma, os novatos serão importantes para completar o elenco em jogos eventuais, especialmente na volta do Mundial, quando o time repuser partidas atrasadas, e quando jogadores de seleção, como Weverton, Gomez, Piquerez e Atuesta, forem convocados para a reta final das Eliminatórias. Terão ainda mais chance durante o Brasileirão — que não tem limite de inscritos nem distinção de status. Vai ser bom porque é quando a maratona de jogos vai se intensificar, com o início também da Libertadores e da Copa do Brasil, e os principais jogadores começarão a sentir o ritmo da temporada.

E haverá ainda a pressão do mercado internacional. O Palmeiras vem conseguindo manter suas revelações nos últimos anos, mas não deve continuar assim por mais uma janela europeia de meio do ano — ou, na pior das hipóteses, após a Copa. E o próprio orçamento do clube prevê R$ 133 milhões em negociações de jogadores (veja matéria do Lance!); ou seja, alguém vai sair, é inevitável num mercado formador e de moeda fraca como o Brasil.

O mais importante, e o Palmeiras parece ter aprendido isso na marra desde 2020, é ter calma e serenidade para lançar os novatos, mas sem deixar de mandar os jogadores a campo. Ter a noção de que é possível negociar alguns atletas, porque a reposição vem à altura ou ainda melhor. E ainda com o selo de campeão da Copinha. O futuro parece promissor.

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