Favela da Rocinha — RJ

Coronavírus no Brasil

Martino Bagini
3 min readMar 23, 2020

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Ao vivenciar a epidemia na aqui na Itália, primeiro país depois da China a enfrentar um volume massivo de casos, apesar de estamos sendo seguido bem de perto pela Espanha, tenho particular preocupação no que diz respeito ao Brasil.

Há uma enormidade de fatores a se considerar e não tenho expertise nem visão para poder abarcar a todos. Mesmo assim seguem algumas observações pessoais. As considerações numéricas deste texto são baseadas nestes dados Associação de Medicina Intensiva Brasileira de 2016

A primeira delas diz respeito à gestão da crise e as grandes vantagens da Itália nesse fronte: O Brasil não está mal posicionado, mas as demonstrações nas camadas de liderança na gestão da crise e comportamento da população, podem minar totalmente essa posição. Vamos aos pontos:

  • Liderança: o Presidente do Brasil 🤡 continua a adotar um comportamento totalmente alienado da realidade da ameaça. Alguns Governadores e prefeitos parecem estar agindo mais rapidamente, de forma autônoma, mas… a gestão unificada e coordenada é crucial neste tipo de emergência que é nacional.
  • Infraestrutura hospitalar e a gestão da crise: o número absoluto de leitos UTI: parte de 27mil leitos para uma população de 210 milhões de habitantes razão de 0,132, 54% destes no Sudeste do país. A Itália partiu de 6mil leitos de UTI para 61milhões de habitantes, mas já construiu cerca de dois mil leitos deste tipo durante a emergência, passando de uma razão de 0.098 para 0.131, em poucas semanas. Até aí estamos "quites". No que diz respeito à densidade de médicos por habitantes, a Itália partiu na frente, vide os gráfico abaixo da RICAM (obrigado Ricardo Amorim). Há porém um item adicional que pode fazer muita diferença: na Itália a saúde pública é a boa e de massa, tornado-a verdadeiramente universal. Além disso permitir gestão centralizada de tudo da informação à logística, os melhores hospitais são públicos .

Como se isso não bastasse, os praticamente todos os hospitais particulares solicitados (obrigados) a ceder seus leitos para o sistema publico. O governo não parou aí e confiscou também alguns hotéis para colocar pacientes em quarentena. Eu faço parte de uma elite brasileira que pouco conhece do SUS, mas espero que haja um mínimo de colaboração entre setores no Brasil para garantir maior justiça social nos atendimentos dos infectados por Corona que precisem ser hospitalizados.

Fonte RICAM — Ricardo Amorim
  • Comportamento da população: aqui cabe uma tese de mestrado. O tema não é o quanto o brasileiro seja ou não disciplinado, "O comportamento do ser Brasilero" =) , mas o quanto ele possa se permitir a sê-lo. Partindo do enorme social divide do país, que coloca uma fatia importante da população na condição de "ter que faturar" todos os dias para comer. Do motorista de Uber, aos empregados das faixas mais baixas da população. Do fato do transporte publico estar sempre lotado, à concentração populacional das favelas. Se na Itália a idade média contribuiu muito para uma alta taxa de óbito, temo que no Brasil o estado de "pobreza" de boa dos seus habitantes seja um dos pontos fracos.

Num cenário como esses, seja você rico ou pobre, acredite: você é parte integrante do resultado dessa equação. Você da elite que tem empregada, faxineira e babá e pensa de não poder viver sem eles. Você que tem menos recursos e mesmo assim não acredita na seriedade do assunto. Você que repassa o meme ou informação sem verificá-la.

Faça a sua parte: FIQUE EM CASA. Anule os compromissos. Não vá a praia, ao clube, a piscina. Você não está de férias, você está fazendo o trabalho mais nobre que uma pessoa poderia fazer: contribuindo para o bem de todos e salvando vidas, especialmente as dos mais velhos como teus pais ou avós.

PS: Novas drogas. Muitos amigos no Brasil, alguns inclusive médicos me parecem muito esperançosos em relação ao uso experimental de drogas como hidroxicloroquina e seu sucesso nos primeiros casos no Brasil e na França. Espero que este efeito positivos se comprove na escala. Na Itália os experimentos com este e outros remédios não surtiram grandes resultados até o momento.

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Martino Bagini

Entrepreneur & Investor. COO @Docebo. Partner @Astellainvest. Milano <-> São Paulo can be called home. Good food, wine, family & friends make happy.