Mortes por Corona Vírus
Quem está morrendo — Perfil demográfico
O número de mortos na Itália continua a crescer e a assustar. Ontem 20/03 foram 627; hoje 793 dos quais 546 somente na Lombardia onde moramos. O dado é triste em si e traz consigo um grande frio na barriga.
É de se esperar que o número de óbitos siga crescendo, mesmo após o número diário de novos contágios ter se estabilizado. Na Itália o tempo médio entre os sintomas e óbito é de oito dias. Isso não leva em consideração o período de incubação de cerca de cinco dias.
De acordo com meu raciocínio lógico, isso implica que, entre o plateau de novos casos diários reportados — uma vez que estes se apresentem como sintomáticos, e a diminuição do número de mortes diárias, haja um período de pelo menos 12 dias (Cinco para aparecimento dos sintomas + oito até o óbito). Ainda vai morrer muita gente…
Se a minha conta de hoje estiver certa, temos pelo menos mais duas ou três semanas de quarantena pela frente aqui na Itália, levando o total estimado de semanas para perto de seis semanas, ou um mês e meio. Nada confortável considerando o stress geral já palpável na população, com somente doze dias de reclusão.
Na construção do meu modelo mental, e para ajudar a manter o equilíbrio do lado emocional, para mim é imprescindível entender o perfil de quem está falecendo, como parte do contexto geral e do esforço de raciocinar da forma mais límpida possível. Sem filtros midiáticos ou os das minhas próprias emoções. Seguem os dados.
Perfil etário:
Eles não deixam dúvidas: é uma doença que mata os mais frágeis. 85% dos mortos tinham mais de 70 anos; 50% mais de 80 anos. É mais letal para os homens.
Perfil de saúde:
A fragilidade deve ser considerada além do contexto da faixa etária: praticamente todos os mortos under 50 tinham duas ou mais doenças graves pré-existente como cardiopatia e/ou diabetes. Isso vale também para os mais idosos, como se vê na tabela abaixo:
Impressiona ver que 76% dos mortos tinha pelo menos duas patologias graves pré-existentes e praticamente 99% pelo menos uma comprovada. Só 1,2% em dos casos não foi comprovada alguma pré-existência.
A Itália tem uma mais das maiores expectativas de vida do mundo. Vive-se muito bem aqui. Estamos logo atrás do Japão que é o 1o. se não me engano. Neste momento isto a torna um país muito vulnerável a uma ameaça com estas características. Considere-se que a idade média dos Chineses infectados era de 46 anos. A dos Italianos era de 67 até poucos dias.
Dai a discussão ao redor da expressão correta a ser utilizada que, conforme os especialistas italianos provavelmente é: mortos com Corona vírus, e não mortes "somente" por Corona vírus.
A discussão é válida, mas não muda nada em relação aos cuidados que devemos ter para nos protegermos e, principalmente proteger aos mais frágeis. Lembrando que crianças também se infectam e, apesar de praticamente assintomáticas, são vetores poderosíssimos de transmissão na família e entre famílias.
A minha experiência pessoal até aqui me diz que as medidas de restrição adotadas até o momento são corretas. E que é muito difícil conter o vírus, talvez ainda mais em países Ocidentais menos "controlados" do que a China.
Fique em casa. Saia o mínimo possível, sem filhos. Dessa forma você não coloca em risco a tua própria saúde, não arrisca se tornar um vetor de transmissão direta ou indireta, mesmo que assintomático; protege ao próximo, começando pelos teus país ou avós, se tiver a enorme sorte de ainda tê-los.
*A maioria dos dados desde texto vem do boletim do dia 20/03/2020 que pode ser encontrado aqui*
**Não sou médico e nem especialista no setor. Este artigo é um texto de reflexão pessoal baseado nos fatos divulgados pela Protezione Civile e Istituto Superiore della Sanità. Os dois principais veículos de gestão da crise na na Itália**
