O que é um Hacker Corporativo?

Casal.s Macaubeiro
Corporate Hackers Brasil
4 min readJul 28, 2018

Gosto de definir um hacker como o cara que dá um jeito, pense bem em todo lugar tem um cidadão que dá um jeito nas coisas, não confundam a figura com o aventureiro que faz as coisas e espera, ou reza, para que dêem certo na sorte, esse cara que “dá um jeito” o faz porque conhece bem o código fonte da instituição ou organização em que ele atua, conhece todos os meandros, as esquinas e os porões, sabe exatamente aonde ir para fazer com que as coisas aconteçam. Quando se fala de hacker só se pensa em software, mas temos também outros tipos de hackers, você sabe, em todas as áreas tem um cara que dá o jeito.

O espírito e mentalidade hacker não está limitada ao universo das linhas de código dos softwares. A atitude hacker está presente em pessoas que vão da arquitetura à engenharia, da filosofia, a psicologia, da música ao pagode — se você olhar com cuidado você vai achar essa figura em todas as áreas e ofícios. Com disse o Eric Raymond, o espírito hacker está em vários lugares e esses caras inquietos também devem ser considerados hackers, ou como eu digo “caras que dão um jeito” — a natureza hacker independe de onde o hacker atua, onde ele estiver ele vai estudar, se inconformar e dar um jeito para as coisas fluírem. Como diziam em um universo distante: “a coisa tem de fluir” independente do meio onde ela acontece. Vou aproveitar a deixa do Eric Raymond, do Pekka Himanen e de outros pensadores hackers para detalhar melhor um tipo de hacker específico, o hacker corporativo.

Antes de prosseguir vale a pena compartilhar um trecho em que o Erik Raymond trata da questão do que não é um hacker:

São pessoas que aos berros se dizem Hackers mas não são. Estes (na maioria, adolescentes do sexo masculino) são aqueles que se divertem invadindo computadores e fraudando sistemas telefônicos, os hackers de fato consideram essas pessoas “crackers”, que não tem nada a ver com os primeiros. Os hackers de fato consideram que os crackers são preguiçosos, irresponsáveis e não muito espertos, lembrando que ser capaz de burlar a segurança de algum sistema irá fazer de você um hacker tanto quanto o fato de você saber fazer uma ligação direta irá fazer de você um engenheiro automotivo. O problema que a maioria dos jornalistas e escritoris convencionaram por generalizar todo mundo como hacker, todo mundo que invade um sistema, rouba senha, lista de e-mails, etc… é hacker … ô dureza viu.

Um hacker está preocupado em fazer as coisas funcionarem, em construir soluções, que nem sempre são bunitinhas, mas funcionam, fazem com o que têm à mão e são hábeis nisso, os crackers destroem e avacalham com a vida alheia. Se você pretende seguir o caminho cracker, esse texto não é para você, procure outras fontes e, de preferência, um bom advogado.

Já falamos genericamente o hacker, agora gostaria de dedicar mais tempo para outra figura desse universo, o hacker corporativo, um tipo singular de hacker que trabalha com sistemas operacionais corporativos, basicamente a burocracia nossa de cada dia. Uma das primeiras referências ao hacker corporativo foi da consultora de inovação e estratégia Simone Ahuja em seu texto: What It Takes to Innovate Within Large Corporations, publicado originalmente na revista Harvard Business Review, lá ela comenta que o hacker corporativo é um tipo de empreendedor que atua nos limites das corporações para resolver problemas recorrentes que afligem os seus clientes, ele seria um subproduto das iniciativas voltadas para melhorar a experiência do usuário e da criatividade engenhosa do tipo ponha a mão na massa. São empregados voltados para realizar ações práticas para resolver problemas do dia a dia que incomodam os seus clientes, são problemas que são ignorados no dia a dia pelas empresas, mas não pelo hacker corporativo. Ser um hacker corporativo significa ser um vírus que irá provocar uma reação para melhorar o sistema imunológico da empresa, contudo para sê-lo, é necessário dose extra de energia e poder de persuasão.

O Hacker Corporativo é um agente de mudança, é uma pessoa que se auto motiva e que conhece profundamente as deficiências dos sistemas corporativos, se não conhece estuda e interage internamente para conhecê-los, ele sabe que não é possível mudar tudo de uma vez e por isso atua de forma inteligente, tecendo e usando a rede e suas conexões para fazer as coisas acontecerem independente da burocracia, silos e egos internos. Ele provoca mudanças BOTTOM UP articulando hacks com outros indivíduos. Quando tece suas redes ele cria conexões sociais que humanizam os sistemas corporativos, cada vez são mais estéreis. Hackear uma empresa é mudar as relações de trabalho, dando sentido e recolocando o humano e a sociabilidade no centro dos processos, é uma reação ao modelo que prega que as relações no trabalho devem se pautar pela impessoalidade, frieza e falta de preocupação com o outro. É neste ambiente que o hacker corporativo surge e é assim que ele age,com criatividade, como uma reação ao sistema e como uma vacina para melhorar e fortalecer o sistema imunológico do organismo organizacional (a redundância foi consciente).

Fontes:

www.corporatehackers.org

Eric Steven Raymond, Como se tornar um hacker — http://jvdm.sdf.org/pt/raquer-howto/

Simone Ahuja, What It Takes to Innovate Within Large Corporations — https://hbr.org/2016/06/what-it-takes-to-innovate-within-a-corporate-bureaucracy

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