As histórias em quadrinhos e a imprensa

Ramon Cavalcante
Cosmic Reader

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Como a era digital abriu novas possibilidades para as HQs

Construída em 113 d.C., em Roma, a Coluna de Trajano conta a história da guerra contra os dácios, cravada em baixo relevo em 20 blocos de mármore de 30 metros de altura. Os fatos da História são compostos por imagens em sequência, divididas por árvores que marcam a transição de um fato para outro.

Em Desvendando os Quadrinhos, Scott McLoud definiu essa arte como “imagens pictóricas e outras justapostas em sequência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador”. São os elementos constitutivos das histórias em quadrinhos, que também podem ser identificados em outras experiências, como manuscritos pré-colombianos, tapeçarias francesas e pinturas egípcias.

As HQs foram consolidadas e difundidas junto com a imprensa — o que leva muita gente a atribuir o seu nascimento a essa mídia — mas experiências narrativas que usavam elementos similares já haviam sido realizadas milênios antes.

A imprensa, sem dúvida, levou as histórias em quadrinhos a um crescimento exponencial de produção e difusão. Mas isso não quer dizer que as HQs estão presas a essa plataforma. Nunca nos importamos em mexer muito nisso porque — até pouco tempo — nenhum outro suporte havia aparecido como alternativa de desenvolvimento narrativo e de linguagem. Até o advento da Internet.

Com o surgimento das ferramentas digitais — computadores, smartphones, tablets, videogames, smart TVs — abriram-se possibilidades incríveis para os quadrinhos, de narrativa, difusão e monetarização da produção.

Um blog, uma fanpage ou mesmo um compartilhamento no perfil do autor podem despertar interesse de um público vasto e revelar uma demanda até então desconhecida. Plataformas de crowdfunding como o Catarse têm se mostrado uma grande força na produção nacional, traçando pontes entre o criador e o seu público e pondo em teste a obra em questão — sem envolver prejuízos nem encalhes.

Nesse ponto da discussão, é muito comum alguém argumentar sobre a importância do impresso nos quadrinhos. Mas não há por que imaginar que o desenvolvimento dessa arte no digital aponta, em qualquer nível, para o fim dos quadrinhos no impresso. Já ouvimos isso antes: quando a fotografia surgiu, ela acabaria com a pintura; quando o cinema surgiu, acabaria com o teatro; até mesmo a escrita já esteve fadada a acabar com a tradição oral.

Acho que já aprendemos o suficiente sobre a coexistência de diferentes mídias para não sermos apocalípticos em crer que um suporte acabará com os outros.

As histórias em quadrinhos digitais são uma realidade, mas ainda estão esboçando seus primeiros movimentos erráticos. Estamos começando a nos debruçar sobre isso e — de onde vejo — o digital é a primeira plataforma que tem potencial para expandir as possibilidades do quadrinho tanto quanto a imprensa.

Sou só eu ou vocês também estão muito ansiosos com o que está por vir dessa nova relação?

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