Borde como uma Mulher
Através das linhas, agulhas e tecidos, empreendedora expressa frases empoderamento e inspirações em camisetas e bastidores.
Quem teve aquela infância acompanhada dos avós, provavelmente acompanhou a idosa da família naqueles típicos momentos de família. Todos na sala, poucos comentários, a TV ligada na novela das oito e a vovó concentrada num tecido bordado. Quem observava de longe, conseguia ver os olhos atentos, com óculos na ponta do nariz e uma linha caprichosamente enrolada nos dedos até o ponto de encontro com o tecido. Era milimetricamente mágico e o resultado final, após vários capítulos de novela, perfeitos.
A forma que o bordado encontrou e atravessar as gerações foi, de fato, tímida, mas contínua. Em gerações mais antigas onde a sociedade seguia à risca o pensamento de que os meninos vestiam azul e meninas vestiam rosa, a técnica de linhas sobre tecido era repassada e compartilhada entre as mulheres. As técnicas com linhas e agulhas enfeitava os móveis da casa toda, tanto que atualmente não é difícil encontrar na casa dos avós (e até dos mais jovens, que geralmente ganham de presente), panos e tapetes trabalhados no tricô e no bordado. Ainda assim, a arte nunca deixou de ser algo longe dos nossos olhos. Estamos tão acostumados com nossas roupas que mal enxergamos o quanto de trabalho foi colocado na construção de tal desenho na peça de roupa, por exemplo.
O bordado consiste na criação de quaisquer formas sobre uma superfície de pano, sendo esta feita com agulhas determinadas para cada tipo de técnica e que pode ser desenhado de forma totalmente manual ou mecânica. E assim como tantas outras tecnologias, a arte se modernizou junto com as pessoas, assim como as inspirou. Isadora Jacoby tem 28 anos e meio que sem querer, querendo, ingressou no amplo mundo das linhas e tecidos. Quem a apresentou aos bordados foi Bruna Antunes, com seu projeto Bordado Empoderado em 2017. Na época, ambas eram alunas do curso de jornalismo da UFRGS:
- Ela tinha recém começado (o projeto) e eu curtia visualmente o bordado. Não tinha interesse em fazer, mas vi ela fazendo e resolvi participar das aulas.
O “curtir” deu lugar ao “amei”. Atualmente, Isadora está à frente do VOA Bordados e através do Instagram, a moça apresenta e comercializa suas criações além de também aceitar encomendas. A iniciativa de criar um espaço único para o seu trabalho veio da naturalidade das postagens na rede social, além de presentes para os amigos. A partir disso, as pessoas começaram a encomendar as artes e então empreendedorismo se manifestou. No início, os amigos de Isadora colaboraram para o seu projeto.
- Eu contei com a ajuda das minhas amigas e amigos que foram os modelos fotográficos e até uma designer me apoiou fazendo a identidade visual.
O processo de criação de Isadora é totalmente autoral e também muito significativo. Através dos bordados, a jornalista aborda expressões pessoais que, simultaneamente, acabam por ser coletivas. Frases, figuras e bandeiras fazem parte da inspiração de Isadora e se manifestam nos bordados de forma expressiva. “Lute como uma mulher” e o contorno inconfundível da face de Frida Kahlo com as flores no cabelo estão entre as artes da VOA Bordados. São trabalhos como esse Isadora identifica o seu diferencial:
- Eu acho que as pessoas se identificam muito com a naturalidade e a verdade que tem ali porque elas valorizam saber de onde estão comprando e quem tá fazendo as suas peças. Ou seja, ali não é só uma camiseta feminista. E sim uma camiseta feminista feita à mão por uma mulher.
Além da página no Facebook e contando com quase 3.700 seguidores na página do Instagram, o carro chefe da VOA Bordados são as camisetas. Sendo assim, convidada pela Bruna do projeto Bordado Empoderado, Isadora ministrou algumas oficinas da arte em Porto Alegre.
- Fizemos algumas edições recentes, mas faz um tempo que a gente não faz uma nova — Há planos para mais edições para esse ano, mas devido a pandemia, as oficinas estão suspensas por um período de tempo. Ainda assim, Isadora salienta a importância das oficinas, tanto para o network quanto para o ambiente de aprendizagem:
- A gente se fortalece muito, sempre ensinando e passando o conhecimento adiante. Conheci muitas bordadeiras neste processo e foram momentos muito especiais.
