“Como mulher negra que trabalha com tecnologia, eu quero que saibam que estou fazendo jogos para o mundo”, diz a desenvolvedora Janaína Beatriz

Artista gráfica e desenvolvedora de jogos digitais, Janaina Beatriz falou sobre inspirações, plataformas e representatividade.

Rafael Costa
O Costaverso
4 min readAug 13, 2020

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Matéria publicada no site Segundo Controle — Revisão de Rafael Gloria

Por trás das produções de jogos (sejam eles mobile ou console), há grandes mentes que transformam ideias, desenvolvem roteiros, projetam objetos… Resultando em um universo imenso que vemos na tela. Conseguimos ter uma ideia do quanto construir um game é um trabalho gigantesco e o quanto esses profissionais se dedicam a isso através de alguns vídeos. Um exemplo disso é o vídeo Rising Kratos, que traça todo o caminho percorrido pelo estúdio Santa Mônica desde a ideia do reboot de God of War até seu lançamento mundial, para PlayStation 4.

Mesmo com o eixo do centro-oeste do Brasil sendo muito visado, o Rio Grande do Sul se situa como pólo na indústria de jogos digitais. Sendo o primeiro estado a disponibilizar cursos na área, grandes profissionais se destacam no quadro.

Janaina Beatriz, ou JanaChumi, ou apenas Jana é uma dessas profissionais. Formada em tecnólogo de Jogos Digitais pela UniRitter, Jana também tem uma preferência pela criação, seja ela manual ou digital. Em seu Instagram, é possível identificar desenhos artísticos autorais e inspirações. Sobre o que a influência no ramo, ela responde na relação de suas criações com as pessoas. “Fico muito feliz quando vejo alguém interagindo com minhas criações. Quando desenvolvo algum jogo, meu maior prazer é ver as reações das pessoas enquanto jogam.”

Overcooked 2 é o jogo que ganha o favoritismo atual de JanaChumi e sua plataforma favorita é PC. Além do divertimento, o rotina em buscar por novidades no desenvolvimento de jogos sempre lhe resulta em reconhecimento. Muitas vezes, Jana foi convidada a participar de projetos, pelo seu engajamento e atenção. No quadro de recomendações, o diretor de criação da Wondernaut Studio elogia a moça. “Está sempre buscando aprender e se atualizar sobre o mercado de jogos.”

Moradora de Alvorada, JanaChumi trabalha na empresa Hermit Crab Game Studio. Na modalidade inteiramente remota, ela interage com os colegas enquanto fazem reuniões e prosseguem com os projetos. A Hermit Crab tem escritórios na França e aqui Brasil e é responsável pelo jogo Football Freestyle Paris San-Germain, jogo do time europeu para plataformas mobile. Outro jogo também da Hermit Crab é o The Blur Barbosa vs. Aliens onde o jogador precisa ajudar o jogador de basquete Leandro “The Blur” Barbosa (conhecido como Leandrinho no Brasil e jogador da NBA) contra aliens em um desafio esportivo.

A criatividade vive em Jana (Foto: Arquivo Pessoal)

Questionada sobre seu objetivo pessoal dentro do ramo de mercado de jogos digitais, Jana traz uma resposta tanto quanto filosófica. “Quero criar jogos que gerem experiências satisfatórias para as pessoas. Minhas melhores experiências sobre alguns jogos que eu já fiz foram quando vi pessoas eufóricas por terem conseguido uma cartinha forte ou por terem acertado algum bônus.” O discurso de Jana vai muito ao encontro do discurso de Shigeru Myiamoto (a mente criadora de Mario), que aborda bastante a experiência que jogo proporciona aos jogadores. E, Jana adiciona: “Eu gosto bastante de criar jogos para crianças, elas são as mais divertidas de acompanhar durante os gameplays”.

Os bastidores do mercado de comunicação por tecnologia, sejam elas de jogos ou aplicativos, conta com poucos profissionais negros. Em Porto Alegre, existe o AfroPython, um grupo de programadores negros que promovem a inclusão de pessoas negras dentro do mercado de TI. JanaChumi, por sua vez, reconhece que nem todos possuem recursos para entrar para o mercado de produção de jogos. “Grande parte das pessoas negras que eu conheço não tem um computador em casa. Trabalhar com tecnologia ainda é visto como algo muito distante para essas pessoas pois requer bastante estudo e recursos.”, JanaChumi também salienta o quanto que é complicado perceber a ausência de profissionais negros no ramo, “…ajuda a criar uma ideia de que não foi um espaço feito para ser ocupado pela gente. Eu me considero com sorte pois recebi e recebo muito apoio de muita gente. Isso foi essencial pra eu estar hoje como desenvolvedora de jogos.” Ainda sobre o assunto, Jana finaliza, “Como mulher negra que trabalha com tecnologia, eu quero ser vista. Quero que se identifiquem comigo e saibam que eu sou a guria de Alvorada que está fazendo jogos para o mundo. E quando virem isso, se sintam capazes e queiram ser as próximas pessoas a ocuparem esse lugar.”

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Rafael Costa
O Costaverso

Acadêmico de Jornalismo da Unipampa, redator do Blogando, comunicador, fotógrafo, leitor e criador de memes.