“E se eu fizesse a minha própria rádio Lo-fi??”
Olha… Acho que só faltou isso pra eu pensar em fazer. Pandemia tá aí, né? Alguma coisa boa deve sair desse “momento que estamos travessando”… Esses bordões são ótimos. “Esse momento é de adaptação!!”, bah, esse é terrível. Bom… Mas deve ser trabalhoso demais fazer uma rádio lo-fi. Imagina?! Manter um canal 24 horas por dia ao vivo. Haja internet. Computador. Conta de luz. Nah, desisti já. Sem falar que teria que fazer um desenho de alguém sentado na frente de um computador, ou escrevendo alguma coisa em um caderno, com um gato sentado na janela olhando pro nada… Bah, não. Trabalhoso demais.
Seria mais uma variante daquele desenho famoso da guria, né? Eu chamo de guria lo-fi (Nossa, Rafael. Que original!) Basta pesquisar por “lo-fi girl” no Google e pronto, adivinha quem aparece?? Pois então. Mas ainda assim, seja lá quem foi que criou essa ideia de gênero de música combinando com o desenho é um gênio.
Entretanto, a guria lo-fi não me convence mais. Quer dizer, até convence… Mas não como antigamente. Se não me falha a memória, eu descobri a guria lo-fi em 2018, mas acessava pouquíssimas vezes. Mas foi assim em 2019 que a gente começou a ter contato mais direto. Faculdade, morando sozinho, um monte de trabalho pra entregar. Guria! Vem com as tuas musicas sem vocal e me ajuda! E ela sempre tava lá. Eu abria o Google Docs na aba principal e ela na abinha do lado. E pior que funcionava. Era bem bom. Brigado, viu moça? Saía de uma sensação de desespero ao estilo “eu tenho que entregar essa porra até amanhã!”, e logo tava sentindo os bons ares de trabalho feito, naquela ideia de “Deu bom! Deu bom”, tamborilando as músicas com os dedos na escrivaninha enquanto relia o texto pra ver ser estava tudo certinho ao mesmo que pensava no que seria de almoço no RU no dia seguinte. Lo-fi e estudo. Que casamento perfeito.
Esse acompanhamento da guria lo-fi nos meus momentos de estudo me renderam boas notas na faculdade. As noites passaram a ser mais tranquilas e por mais que a correria universitária estivesse em pontos críticos, o lo-fi me ajudava a administrar as coisas. Sempre deu bom. Madrugadas com leituras de textos horríveis, mas sempre com a maestria da atmosfera musical guria do lo-fi ali. Era ótimo.
Mas teve aquele dia esquecível de data, mas lembrável de fato, lá em 2019 quando desvirtuaram a minha ideia do gênero musical. Era um final de semestre e muitos alunos estavam sob uma pressão intensa. E durante um ensolarado meio de tarde, eu e alguns colegas comentávamos sobre a dificuldade de concentração que despertou em boa parte dos alunos nas semanas. Aí, no meio da conversa, soltei:
- Pega as músicas Lo-fi no YouTube. Tem aquele da guria estudando com o gato no fundo. São ótimas pra estudar.
- Ah sei! É, de vez em quando eu uso — Respondeu uma colega perto de mim. — E são ótimas pra transar também.
(…)
Juro. Eu parei por uns dois segundos.
Caraio! Naquele momento, a Terra desistiu de fazer o seu movimento de rotação. O universo congelou. A reflexão veio na minha mente como um jato rompendo a barreira do som. Aquele turbilhão de pensamentos explodindo no meu cenário imaginário:
“PERAÍ! SÓ UM POUQUINHO! LO-FI? PRA SEXO? Mas como é que…?!”
Ainda dentro daqueles dois segundos, meus divertidamente correram pro trabalho e já vieram com roteiro, cena… Tudo. Com direito a abajur com luz turva caindo sobre corpos nus se degladiando prazeirosamente na cama, aquele conflito intenso de almas se entrelaçando praticando o amor carnal… E a guria lo-fi ali do lado, estudando. (????) Meu deus do céu! É isso mesmo, produção? “Mas ela não tá nem olhando”, diz uma voz na minha mente. Pois, é. Quando volto dos meus dois segundos de reflexão, venho com a conclusão de que me vejo mais do que na obrigação de concordar com a colega. A guria lo-fi que me desculpe, mas, realmente, aquele ritmo que embala os estudos dela com o gato na janela serve tanto pra estudo (que ela realmente quer expressar) quanto também pro nosso sexo bom de cada década (cada dia??? Pfff…!! Até Deus duvida, parça).
Ainda bem que temos as variedades disso tudo. Ainda bem que temos gostos variados e todos eles estão aí, disponíveis nesse mundão bonito da internet. Uma pesquisa rápida no nosso querido Google e temos lo-fi pra alegrar o dia, pra curtir a fossa do fim do relacionamento, pro dia de chuva, pra programar… Tá tudo lá.
Especificamente, visito pouco aquele vídeo ao vivo. Sinto muito, guria lo-fi, a gente nem tem mais conversado. Todos esses anos e tu nunca olhou na minha cara. Agora tenho uma nova crush desse eletrônico lento pra embalar as minhas madrugadas. O vídeo Lofi Brasil Rádio Mix no YouTube é a coisa mais maravilhosa de universo musical eletrônico. As músicas são todas brasileiras, cantadas por nossos grandes cantores nacionais.
Tem Tim Maia, Seu Jorge, Cartola, Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso e várias outras grandes personalidades. É simples e sensacional, ao mesmo tempo. E serve pra tudo, inclusive pro próprio nhéco-nhéco […] mas aí depende. Ao menos que tu tenha fetiche em fazer o canguru perneta ao som de “Pai, afasta de mim esse cálice”, aí é um tópico só teu. Podemos dizer que as músicas despertam aquela sensação generalizada de relaxamento. Mesmo que tu esteja sozinho, com uma taça de vinho e fofocando no grupo de WhatsApp ou com sua parceira ou parceiro fazendo trabalho pra entregar no dia seguinte. Vale a visita.
Particularmente, quando o Tim Maia arranca no “ela parrrtiiiiiuu”, eu começo a chorar pensando na morena.
E pior que ela nunca mais voltou mesmo.
