Impressões da Selva de Pedra: 1 mês em São Paulo

Paulistano tem ódio da letra R e ama um sexo selvagem com a letra N.

Rafael Costa
O Costaverso
4 min readNov 29, 2021

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O início, um dos meios e o final da Avenida Paulista (Fotos: Rafael Costa)

A cidade de São Paulo sempre me pareceu aquela terra de fantasia onde tudo acontecia dentro de um único quadrado. O quadrado, no caso, é a tela da televisão. Minha infância dominical, quando não estava perdendo fiapos de pele na rua jogando bola com amigos, era ficar assistindo televisão. O SBT tinha o meu coração de telespectador, então muito do que eu conheci de São Paulo partiu dos links ao vivo do Domingo Legal. “É isso aí, Gugu, estamos aqui em…”, chegou uma hora que os nomes de quaisquer bairros (ou cidades próximas) de São Paulo, me soava familiar. Era como se eu já tivesse pisado no Grajaú, conhecesse Interlagos como a palma da minha mão, andasse diversas vezes pela Sé e me perdesse no mar de gente da 25 de Março.

Dia 26 de novembro de 2021, ali pelas… 8 horas manhã mais ou menos, completei 1 mês morando nessa metrópole. Vim atrás de uma oportunidade no mercado de trabalho — assim como muitos que vieram com o mesmo objetivo. A faculdade tá no final e o meu campo, em Porto Alegre, é muito limitado. E nesses 30 dias, nos primeiros 14 já consegui assinar um contrato de trabalho. Foi tipo… JÁ?! COMO ASSIM?! Pois é. Foi isso.

O sono não tem vez na Avenida Paulista (Foto: Rafael Costa)

Mas o foco não é esse, mas sim o quanto de barulho essa cidade faz. Se São Paulo é mesmo a terra das oportunidades eu não sei, mas notei que as pessoas fazem as oportunidades aqui. Pelo que pude notar, iniciativas de pequenos negócios são extremamente numerosos. Confeitarias, cafeterias, restaurantes, bares temáticos são exemplos disso. O espaço pode ser pequeno, mas o paulistano busca no subjetivo a capacidade de criar a partir daquela limitação física. Um estabelecimento pode ter duas ou quadro mesas, mas é visível o quanto que os detalhes fazem daquele espaço aconchegante e vibrante.

Sempre via na TV que o trânsito de São Paulo é péssimo. Tinham razão, é péssimo mesmo. Alguns cruzamentos no bairro Santa Cecília, por exemplo, poderiam ser mais seguros com sinaleiras de três fases. Eles podiam fechar algumas ruas do bairro Liberdade somente para circulação de pessoas aos domingos. E, meu deus gente, por que diabos tem ciclovia numa lomba fortíssima?! Quem é que vai subir aquilo??!
Ainda na questão de transporte, eu celebro a existência da malha metroviária da cidade. Existe, de fato, uma São Paulo de ferro embaixo de uma São Paulo de concreto. As linhas coloridas e numeradas levam os usuários aos pontos mais distantes da cidade em questão de minutos. E impressiona o quanto que a expansão da malha é ininterrupta. Aprenda com São Paulo, Porto “Parada” Alegre.

O “Minhocão”, durante os finais de semana, é fechado para carros e liberado para o público. (Foto: Rafael Costa)

A metrópole brasileira faz um esforço reconhecível para combater o cinza do cimento. Algumas vias desse pouco da cidade que eu conheço, contam com muitas e altíssimas árvores. Os parques servem de respiro para os olhos diante de tanto prédio. É bom encontrar alguns tons de verde-vida espalhados pelo gramado, árvores e refletidos nos lagos. Os residentes também fazem a sua parte, tendo uma “florestinha” nas sacadas de suas casas. Lá da faixa de segurança, a gente olha pro topo do prédio e identifica alguns galhos rebeldes de plantas saltando por cima da mureta de segurança dos apartamentos.

A vida noturna da cidade serve a todos. Sem exceção. E bem setorizado. Se tu quer samba, tem samba. Se tu gosta de sertanejo, ele está à sua espera. Forrózinho? Só chegar. Eu ia utilizar o rock, nos exemplos acima, mas isso se mescla tudo na galeria dele do próprio rock. A Galeria do Rock, no centro de São Paulo, é a confirmação de que todos os movimentos musicais e inspirados se encontram e se harmonizam. Os produtos e serviços oferecidos destacam-se junto com as cores no concreto curvo da arquitetura do prédio.

Ainda que São Paulo seja toda essa MTV Brasil a céu aberto, as cores da músicas não são vistas por todos. Me chamou muito a atenção a quantidade de pessoas em situação de rua espalhadas pela cidade. A Avenida Paulista, de repente o cartão postal mais visitado da cidade, se concentram muitos. Uma família inteira, de crianças a idosos, moram em barracas no final da via. O Minhocão, um viaduto extenso que atravessa a zona oeste da cidade, serve de teto para barracas e moradias improvisadas. É difícil mensurar a quantidade de pessoas e até onde isso vai. Pelo visto, a resolução não existe, convivência é que permanece.

Até que o verde nos surpreende nos encanta algumas vezes — Bairro Higienópolis (Foto: Rafael Costa)

Essa é São Paulo. A selva de pedra pintada de várias cores por aqueles que ajudam a fazer dela a cidade que nunca dormiu. É aqui que é velho se renova e o que é novo é replicado. É aqui que a cultura é viva, e respira no mesmo ritmo frenético “piscantes” das luzes das “setas” dos carros ou dos telões de led de shoppings. É aqui que o metrô uiva, os trens cavalgam e os helicópteros roncam enquanto atravessam a cidade. Essa é a metrópole que da confiança, “uma mulher ingrata, que te beija e te abraça, te rouba e te mata”. Essa é São Paulo.

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Rafael Costa
O Costaverso

Acadêmico de Jornalismo da Unipampa, redator do Blogando, comunicador, fotógrafo, leitor e criador de memes.