Manifestação Vidas Negras Importam ocorre em Porto Alegre

Organizado através de redes sociais, ato percorreu ruas da região central da cidade.

Rafael Costa
O Costaverso
4 min readJun 16, 2020

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Texto, Fotos e Vídeos: Andressa Almeida e Rafael Costa

No último domingo, Porto Alegre fez parte da onda de protestos que pautam as vidas das populações negras. Mesmo durante a pandemia e com regras de isolamento social, o movimento Vidas Negras Importam se reuniu próximo a um dos monumentos principais da cidade, o arco da redenção. Com a concentração às 14 horas, negras e negros de diferentes pontos da cidade levantaram cartazes e ecoaram suas vozes a favor da causa negra. Junto a eles, alguns grupos políticos também levantaram suas bandeiras antirracista e antifascistas.

Antes da partida, os manifestantes fizeram um minuto de silêncio, lembrando todos aqueles que tiveram as suas vidas ceifadas pelo estado. A caminhada teve um trajeto curto. Entre os gritos de ordem clamando pelas vidas negras e pedidos de extinção da polícia militar,os manifestantes expressaram a sua dor e revolta com o que vem acontecendo com as populações negras no Brasil e no mundo.

Saindo do arco, os participantes da manifestação acessaram a Avenida João Pessoa em direção ao Centro, onde houve um momento único. Os integrantes do protesto se deitaram no chão da avenida, citando nomes de pessoas negras que foram mortas, como a vereadora Marielle Franco, Agatha, João Pedro, Amarildo e Claudia Ferreira. O trajeto seguiu indo em direção ao Viaduto do Brooklyn, palco de manifestações culturais negras como slam, batalhas de rap e rodas de capoeira.

O ato encerrou no Largo Zumbi dos Palmares, onde os organizadores se reuniram para agradecer pela presença de todos e fazerem falas mostrando a importância de atos como aquele. E em torno das 18h, o movimento #VidasNegrasImportam já tinha finalizado, e os manifestantes já se dispersaram.

A manifestação foi acompanhada pela Brigada Militar com o apoio de agente da EPTC. Não houve nenhuma ocorrência policial durante o protesto, o movimento que se sucedeu de forma organizada e muito pacífica, contanto com apoio da população que observava a manifestação dos seus apartamentos e carros, principalmente nas avenidas João Pessoa e Loureiro da Silva.

ENTENDA O MOVIMENTO #BLACKLIVESMATTER:

O movimento #BlackLivesMatter teve um marco no fim do primeiro semestre de 2020. O vídeo do segurança George Floyd sendo asfixiado por um policial branco esgotou a paciência de negros norte-americanos e a resposta foi imediata. As pessoas foram às ruas de todo país protestar contra a violência policial. As vozes atravessaram fronteiras e os protestos também aconteceram em algumas cidades da Europa, como Londres, no Reino Unido, e Berlim, na Alemanha.

No Brasil não foi diferente, o movimento Vidas Negras Importam também foi para as ruas, pautar o genocídio das populações negras. No país, as estatísticas não nos deixam mentir, segundo dados do Atlas de Violência de 2019, o Brasil teve 5.804 mortes por decorrência de intervenções policiais. Estados como o Amazonas, Piauí, Amapá e Rio de Janeiro, lideram o ranking de mortes.

Ato Vidas Negras Importam no Rio de Janeiro — Foto: Bruno Kaiuca/Zimel Press/Folhapress (Revista Piauí)

Recentemente, o governo federal excluiu dados referentes a violência policial do relatório anual dos direitos humanos. Através destes, originados do serviço Disque Denúncia, era possível projetar uma mapa da violência de forma objetiva, possibilitando a filtragem de diversos tipos de crimes, sendo eles, por aspecto, localidade, raça, idade, entre outros. Sob a desculpa de encontrar inconsistência nos números referentes a violência policial, a omissão dos dados pelo governo vai de encontro ao perceptível aumento destes casos nos últimos anos. Em 2015, foram registrados 990 casos de violência policial. Em 2016, 1.009 e em 2017, 1.319 casos. No ano de 2018, o relatório mostrava 1.637 denúncias.

A violência policial em comunidades do Rio de Janeiro servem como vitrine midiática desses dados, não é necessário pensar muito para lembrar de casos onde agentes do estado tiraram a vida de pessoas negras. O caso recente, do assassinato de João Pedro de 12 anos, que estava em casa, cumprindo o isolamento social devido a covid-19 mostra que independente das circunstâncias as populações negras seguem sendo o principal alvo de um estado genocida. Essas e outras vidas negras que foram interrompidas, são lembradas constantemente pelos protestos de movimentos negros e outros grupos a favor da causa.

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Rafael Costa
O Costaverso

Acadêmico de Jornalismo da Unipampa, redator do Blogando, comunicador, fotógrafo, leitor e criador de memes.