A taça é da África

Luana Batista
Cotidiano Sensível
2 min readJul 16, 2018

Entre os séculos XIX e XX, a França submeteu, aculturou, explorou, violou, exterminou e segregou povos africanos inteiros. A herança da colonização são os atuais índices da emigração africana para diversos países da Europa, inclusive para a ex metrópole, França.

Representados pela ancestralidade daqueles jogadores que são filhos da África; o Mali, a Mauritânia, Senegal, Argélia, Congo, Angola, Camarões, Guiné, Marrocos, Nigéria e Togo estavam em campo ontem, ironicamente, dando o sangue para entregar o ouro ao europeu. O mesmo europeu algoz de seus antepassados e também de seus contemporâneos, afinal, a xenofobia, o racismo e a marginalização fazem parte da vida de imigrantes africanos.

O portal Globo.com declarou que a seleção francesa é símbolo da união entre os povos. Eu prefiro chamar de símbolo do imperialismo e da espoliação. Apesar disso, ela também é símbolo do que de melhor fazemos com o que fizeram e ainda fazem conosco: resistir, lutar e superar pois, na verdade, não há outra alternativa possível.

Longe de querer romantizar o que representa a composição do time francês e todo o significado dessa vitória, confesso que me emocionei com a alegria daquela garotada preta, correndo e saltando em campo; segurando a taça; comemorando a vitória sob chuva forte. Os negros espalhados pelo mundo se sentiram representados naquele gramado e as forças da natureza, essas que a religiosidade negra reverencia e cultua, estavam ali também quando ao final ecoou o grito de campeão.

A África que os franceses quiseram civilizar no passado, crentes de sua superioridade, mostrou ao vivo e a cada lance, em 15 de julho de 2018, que a dívida da branquitude só aumenta e que a negritude é bela, agregadora, íntegra e solidária.

Um salve para os jogadores Mbappe, Kimpembe, Umtiti, Dembelé, Tolisso, Pogba, Kanté, Matuidi, Nzonzi, Mandanda, Fekir, Sidibe, Mendy e Rami. O ouro, afinal, sempre foi deles.

Luana Batista
Ativista de Direitos Humanos e estudante de Ciências Sociais na UFF

Reprodução /UOL Reprodução/IstoÉ Reprodução/Twitter

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