Geração do Notório saber

Lara Miranda
Cotidiano Sensível

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“Fale bem ou fale mal, mas sobre de mim”

Esse parece ser o lema nos dias atuais quando o que está em pauta são assuntos polêmicos, como racismo, política, feminismo… E a premissa de que todo mundo pode falar sobre tudo têm passado dos limites da mesa de bar e estão virando amostras públicas.

Goffman, um cientista social canadense, tem uma obra que estuda as representações sociais a partir da linguagem teatral (“A representação do EU na vida cotidiana”). Durante a obra ele vai conceituando várias partes das nossas relações sociais e ele chama uma delas de Bastidores, que seria um “lado” nosso que ninguém poderia ver, algo que estaria relacionado ao que apresentamos pro outro, mas que não pode ser visto a olho nu.

Na contemporaneidade esses bastidores já não ficam tão escondidos ou talvez fiquem, mas agora com justificativas não tão bem elaboradas quanto deveriam (estruturalmente falando)..

Há um tempo, no cenário do rap, existem youtubers que fazem vídeos chamados “reacts” em que eles gravam e, concomitante, assistem um clip ou escutam um rap novo; e esse novo modo de compartilhar experiências têm aberto muitas janelas dos “bastidores” sociais que expõe o racismo que por vezes é coberto em nome da crítica musical.

O Hip-hop é um movimento que surge da periferia e que tem como um dos pilares subverter a ordem e mostrar o que está por baixo dela. Logo, ele fala da favela, de racismo, de violência policial e quem não conhece e não vive não vai ter “notório saber” que o faça entender.

Resultado: vários casos de pessoas que usam esses vídeos para comentar sobre os artistas ou músicas mostram exatamente o por que do movimento existir. E com a capa de crítico de rap não é mais necessário esconder o racismo, a intolerância, o discurso minimizador da luta que essas mesmas pessoas fazem questão de colocar nos bastidores quando querem utilizar da cultura.

Sinceramente ainda não sei qual é a pior parte disso, se é quando as janelas se abrem e tudo o que eles sempre pensaram saí — mesmo que a gente já saiba- ou se são as justificativas para esses pensamentos.

Em tempos onde uma voadora dada por um cara preto em um menino branco causa mais comoção do que homofobia, pedófilia, violência contra a mulher, notório saber de verdade é aquele que “vem do fundo da leste e faz o jogo virar”

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