O amor de Eldridge

Tuliosil
COZIDO FARTO
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3 min readAug 17, 2014

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I

Havia um certo ar de descontentamento enquanto Eldridge contava sua história. No meio daqueles cabelos duros e louros, havia uma boca que perguntava “o porquê” de estarmos fazendo isso.

Eldridge era um rapaz que valia a pena por saber medir certas distâncias, aparentemente tão longas para nós, como se estivesse aqui do lado. Ele nos dizia quantas laranjas ou tamarindos teríamos que estocar para não perder os dentes, já prevendo algumas catástrofes.

Aquele filhinho de vovó, o Eldridge era mesmo essencial. Começa a me questionar quem eu poderia acusar por um crime que precisava cometer. Se fosse o loirinho ali de cima, seria uma prova com direito a estrelinha de ouro. Mas não, era uma prova sobre a força de caráter do ser humano.

Tenho certeza que Eldridge não era humano; a começar por aí — veja só o sobrenome que lhe apelidam de prenome? É possível que um ser humano ganhe aparência perante ao mundo por conta de um sobrenome que parece lhe cair tão bem? Tom Eldridge! Ou só Eldridge como costumáva-mos falar naquela época.

A caminhonete se aproximava de árvores e a avó gritou, abaixem a cabeça, vem vindo árvores por aí. Todos se puseram sentados, calmamente, como se fosse a melhor forma para se evitar perder a cabeça, por uma árvore, claro!!! — a outra forma de se perder a cabeça não era permitida no reino de Eldridge, pelo menos era o que havia me contado o Eliseu.

Todos sentados discutiam a importância em se ter avós alertas para com as árvores baixas.

“É simplesmente inimaginável imaginar avós que nos permitam andar nas caçambas sem nos alertar pela cabeça” — dizia Arian, o menino ruivo de ideias espinhentas, como de erupções de acne.

“Acho uma besteira, todas as vezes, e faço questão de repetir pausadamente, e-u a-c-h-o u-m a-b-s-u-r-d-o…… pessoas que acreditam em obrigações pre-postas para os outros. E entenda o meu “pre” como “pre” mesmo… nada de acentuar causando um “pré” — dizia a ácida menina ensebada, Janaína das queixas eternas.

Ninguém sabe exatamente como acontecia, mas havia um coelho, com nome de barão, ou literato, não lembro ao certo, que fazia a questão de estar presente em um jantar sem ser ele o prato de coelho que estava sendo sevido.

Mas esse era Mozim, um senhor solitário e doido que ainda hoje acredita poder domar os rochões.

Lembro que Arian se quedava mudo com as palavras de Janaína que, sabia-se de muito tempo, sempre quis mostrar-se à altura de Eldridge. Nada feito e nem desfeito, Eldridge é aquele cara cartesiano que você pensa mil vezes antes de seguir uma ideia; afinal, já viu os cartesianos, andam fazendo umas abobalhadas em pról das humanidades sem perceber que está fazendo apenas anais.

“Gordura de porco e sexo são super pecaminosos e profanos”, pensava Janaína, ao mesmo tempo em que fora de hora, ordenava uma nova ordem mundial para o mundo de Eldridge.

O coitado percebia o tanto de obrigações que precisava solucionar e franzia o semblante. Naquele rosto perfeito, nem a franja rasgada seria capaz de mudar uma aparência tão serena. Esse era Eldridge.

II

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