amor à última vista
naquela noite chuvosa de verão, tudo o que eu queria era ter você ali comigo
A verdade é que naquela noite chuvosa de uma segunda-feira qualquer no Rio de Janeiro, em que raios e trovões iluminavam o meu quarto escuro, eu pensei em você. Eu quis você. Eu só me via com você. Um desejo avassalador e repentino, eu sei, mas há quem diga que é assim que acontece, sem hora marcada, sem nexo, explicação, teoremas ou guias. Apenas, puft, aparece.
Acho que foi aquela chuva forte batendo no vidro da janela, causando uma sonoridade única no silêncio daquele quarto imerso no breu, minutos antes de deitar. Sabemos que o travesseiro é o guardião dos nossos segredos, sonhos e vontades. É com ele que partilhamos os últimos pensamentos do dia e confidenciamos cobiças alcançáveis e outras nem tantos. E naquele momento, eu dizia para ele, o travesseiro, “Eu preciso dele aqui comigo e agora, posso até senti-lo tocando meus lábios”.
Minto, a vontade de ter você não veio do nada, mas foi estimulada minutos antes do apagar das luzes, quando olhei uma foto sua, tão lindo, tão único, tão charmoso, tão envolvente. Admirei a imagem por um bom tempo, com recortes mentais que me colocavam bem ao seu ladinho. Ah, quantos suspiros. Quanto mais eu pensava em você, mais inquieta eu ficava. Cheguei a ir até à cozinha para revirar armários, geladeira e gavetas, ocupando a mente de alguma forma.
Voltei para a cama, apaguei a luz novamente e concentrei-me nos pingos da chuva – mais calma – batendo no aparelho do ar condicionando. À medida que caiam, fui adormecendo e me conformando que eu só poderei ter você amanhã. Só amanhã! Quando o mercado estiver aberto e eu puder comprar chocolate, açúcar mascavo, laranja e ovos, ingredientes para ter você aqui comigo, bolo de chocolate com ganache de laranja. Adormeci, assim: salivando e delirando.
Dica: não olhe livros de receitas antes de dormir, causa amor à última vista.