Efêmero

Luiz Paulo Souza
Crônicas de um Monstro
2 min readJan 28, 2019

O resto todo eu já limpei…limpei da cama e do chão os vestígios do nosso prazer, tomei um banho, sequei as últimas marcas no banheiro. Mas a sua toalha eu decidi deixar ali por mais um tempo…um último e efêmero vestígio da sua ainda mais rápida passagem.

A melancolia é um sentimento estranho, né? Acompanha as saudades, as nostalgias, as boas tardes com amigos. Vem de mãos dadas também com os mais tristes dos arrependimentos, se faz vizinha e aparece nas mais inesperadas tardes de café. Não te segurei por mais uns minutos…te deixei ir sem um beijo de despedida.

Eu não esperava, confesso. Demorou, mas eu finalmente houvera feito em mim, morada. Não esperava, de maneira alguma, cair em armadilhas…já me sentia confortável com as esporadicidades das visitas, com a superficialidade dos prazeres. Fui enganado, é claro…um sorriso, um abraço forte, um beijo demorado, alguns minutos de conversa e, em minha ebriedade, já não era mais capaz de te satisfazer. Tão preocupado em não te deixar ir, me perdi na tentativa de manter na memória toda a sinestesia do você.

Estrelas — Iogo Chirola | Dorival — Academia de Berlinda

Não é a primeira vez que deixo ir…mas é a única em que um germe quase morto faz raízes tão profundas; é a primeira em que a suposta paixão coabita com aspectos tão pouco rotineiros, com essência tão íntima. Tão ímpar.

Se não se importar, volta.

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